Como poder ser amada?

Como um trovão ela vem.Não sei como pode ter pés tão pequenos e tão pesados ao mesmo tempo.
Vem com todo esse barulho me cobrando,questionando:Quando seremos amadas?Você me prometeu amor e ele ainda não chegou!!!!Quando ele chega?
Me ajoelhei em frente a ela e me doeu cada gota de lágrima que vi plantada em seu olhar.Me perguntei como faria para podar aquelas lágrimas, mas elas teimavam em brotar.
E elas brotaram. Brotaram quando eu disse que me enganei.Que o amor não viria,mas que me comprometeria a ama-la e cuida-la aqui de dentro.
-E pq não vem?(E a pergunta veio como um canteiro de lágrimas que lhe brilhavam na face).
-Não vem pq não nos cabe, pelo menos, não nos cabe aqui onde vivemos.
Ela agarrou a barra do vestido…olhou ao redor, como que para identificar,compreender,memorizar onde estava….
-Não cabe como aquele vestido amarelo que experimentei e não ”cabeu”?
-Ahãn(não conseguia olha-la nos olhos nesse momento,envergonhada do mundo que eu sentia que oferecia a ela,e que a feria como fere a mim).
Doeu-me em dizer-lhe isso também pq me lembrei que quando eu era ela, tive de me conformar com um vestido azul…escuro como a noite, ao invés de um amarelo cor do sol que eu havia gostado.
O silêncio se fez presente ali e em nós e era mais pesado que os passos de seus pequeninos pés.
Ela me abraçou longamente,mirou nos meus olhos que tornaram-se férteis para as lágrimas que ali brotaram, e me disse:
-Eu amo você…mesmo que nada nos caiba…eu amo você.
Não consegui responder, não que não a amasse, mas pq as lágrimas que brotaram e eu teimava em podar, floresceram no meu peito num arbusto tão robusto que me escondiam as palavras….então,eu que falo nada, não conseguia falar….
Quando caberemos em algum lugar,para que nossa humanidade não seja roubada?”

Crônica Betina Camara para o Portal Geledés

arte sobre detalhe de Three Women of America, de Elizabeth Catlett

**Este artigo é de autoria de colaboradores  do Portal Geledés e não representa ideias ou opiniões do veículo. 

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