Não foi fácil escrever este texto pra você, pensei cem vezes antes. Ele pode gerar ruídos, mal entendidos, mas não é definitivo. O que tenho certeza é que é libertador. Espero que possa refletir junto comigo sobre algumas questões e como podemos estar juntas para promover transformações em rede.
Por Ísis Carvalho para o Portal Geledés
Foi aniversário da minha mãe no ultimo dia 21 e decidimos eu e um bando de mulher da minha família, descer até o Recôncavo e fazer uma surpresa pra minha coroa. Dona Irá ficou feliz, a seu modo.
Irmãs, Primas, filhas, sobrinhas, a minha avó e seu mais novo bisneto, estávamos todas lá. E eu estou falando de uma porção de gente!
Minha família é majoritariamente de mulheres negras do Recôncavo da Bahia, muito humildes e de uma força para resistir imensa. Como tantas outras famílias onde a mulher negra é o Centro, vivenciamos com intensidade as marcas deixadas pela pobreza, patriarcado e racismo. As nossas subjetividades são complexas. Um pouco de frieza e secura vira defesa, demonstra a fragilidade. Apenas após o feminismo, a consciência sobre relações de classes. gênero e enfrentar e pensar o racismo é que pude compreender os motivos da minha família não se enquadrar nos moldes dessa que é idealizada: Feliz, com estrutura firme, unidas, amorosas. A minha família não respondeu e ainda não responde a esse modelo muito bem e faço grandes reflexões sobre isso e busco cauterizar algumas marcas deixadas no meu campo energético e vibracional repondo Asè e com a força das folhas e flores aromáticas a partir do uso dos óleos essenciais. Mas para isso eu precisei não apenas sentir mas psicologizar as dores que um copo de mulher negra enfrenta. Não conheço todas as dores que um corpo preto feminino é possível de atravessar nessa barbárie de Sociedade mas tenho uma Lua em gêmeos que me faz buscar incessantemente por minhas raízes e vísceras e trago em mim marcas das minhas ancestrais e por honra-las é que gostaria de compartilhar como tenho curado algumas dores emocionais e tratado doenças físicas também de forma mais harmoniosa com minha essência, sem alimentar esse sistema que é principal gerador de dores para os corpos de mulheres negras. Estou falando da Aromaterapia e do poder das folhas e flores.
Esse final de semana de reunião das mulheres foi poderoso! Me disparou uma série de reflexões e me causou uma puta insolação também. Mais um pouquinho e chego lá.
Sim, eu recorro a Yemonja sempre que sinto necessidade de um colo e encontro acolhimento em suas águas sempre que preciso, principalmente se for alguma situação de desequilíbrio afetivo na relaçao mãe-filha biológica. Passei horas contemplando o mar que banha o Recôncavo, pensando em minhas ancestrais que banharam-se nessas águas, morreram durante o sequestro escravagista, nas minha mãe e tias mariscando, minha avó e bisas banhando ali, pescando, sobrevivendo. Nas lágrimas de todas elas encontrando o sal do Mar. E me lancei num banho vigoroso! Não sem antes oferecer um pouco da água de lavanda que eu fiz pra Ela.
Entrei, cantei e sai do Mar revigorada mas com o peso de um cansaço ancestral também sob os ombros e uma insolação bem séria pois havia se passado horas que eu nao senti naturalmente por estar em transe.
A rosa é catártica e tem sido como um bálsamo para curar os traumas dos conflitos afetivos da relação mãe-filha. Uso a rosa no inalador pessoal, em óleo de banho, em perfume. Um óleo extremamente feminino – proporciona à mulher sentimentos positivos em relação a si mesma, sinto como se ela me abracasse cada vez que fazemos contato. É curador e poderoso demais. Fora que o seu aroma é rico, delicado, inebriante. Uso uma sinergia a partir das combinações da rosa, jasmim gerânio e lavanda. Tem sido meu antidepressivo. Um bálsamo pra minha alma. Acalma as emoções, especialmente em casos de depressão, mágoa, inveja, ciúme e ressentimento. Estimula o coração, o útero e alivia a tensão e o estresse. Tenho um rollon com essa sinergia, se quiser sentir o aroma, me diz.
> Para insolação fiz o seguinte:
Muita água fria, bebi líquidos bastante e fiz compressas geladas com camomila e calêndula para baixar a temperatura da pele.
> Um gel a base de aloe vera e óleo essencial de lavanda, cipreste,ylan ylang a 3% para ajudar a manter a hidratação.
> Um spray com extrato de calêndula e mais lavanda e rosa, que tenho usado como água termal durante o dia. Odara!
> Minha pele respondeu a esse tratamento muito bem além de estar ricamente perfumada e hidrata. Esses óleos são todos hidratantes, ricos em antioxidante e renovam a pele. A Cleópatra usada o cipreste em seus produtinhos de beleza, pretas! Fica a dica.
Então é isso, irmãs. Eu escolhi algumas mulheres que me inspiram e fortalecem para dividir essa experiencia e esse desabafo também. E peço que façamos reflexões sobre a saúde e autocuidado da mulher preta.
É o que eu venho fazendo, inclusive como trabalho. Tenho uma marca que chama Hawa -desejada,suahili- voltada para o cuidado da mulher preta a partir da Aromaterapia. Vou deixar o link pra página no final do texto.
Agradeço a atenção que você me deu através da sua leitura, irmã. E Seria grandioso e fortalecedor se voce me contasse sobre o que sentiu com as palavras que disse aqui.Juntar nossas águas, diluir essas dores é terapêutico e revolucionário. Foi assim que nos criamos, tecendo essa rede de afetos com Mais amor entre nós.
Um cheiro.
com força e amor,
Ísis Carvalho
https://www.facebook.com/hawafenasfolhas/