Comunismo à moda da casa

Netinho de Paula se lança ao Senado para construir o “comunismo brasileiro”, um sistema, diz ele, mais inspirado em Lula do que em Marx

 

“Não é verdade que eu bato em mulher”, diz o vereador e cantor Netinho de Paula, em seu Corolla preto, enquanto se dirigia ao centro de SP, na quinta passada, para uma caminhada ao lado da presidenciável Dilma Rousseff (PT) e de Aloizio Mercadante, que concorre ao governo paulista pelo partido.

 

Candidato ao Senado pelo PC do B, coligado ao PT, o músico, que completa 40 anos hoje, se refere a um episódio que já considerava enterrado – mas que voltou a rondá-lo desde que se tornou companheiro de chapa da feminista Marta Suplicy (PT-SP). Tudo aconteceu em fevereiro de 2005, diz ao repórter Diógenes Campanha.

 

Netinho estava em sua casa, em Alphaville, com a ex-mulher, Sandra Figueiredo, quando eles começaram a discutir. Ele a agrediu e o caso ganhou jornais, revistas, sites e programas de TV. “A briga foi motivada por uma questão de traição [negada por ela]. Vi uma coisa de que não gostei. Perdi a razão. Houve violência mútua e eu, por ser mais forte, não deveria ter deixado chegar a esse ponto”, lembra.

 

Pai de sete filhos -nenhum da relação de quatro anos com Sandra-, Netinho diz que a prole sofreu. “Disseram que ela criava meus filhos, que tinha me ajudado a comprar minha casa e tal. Eles viam aquilo e falavam: “Não é verdade, eu tenho a minha mãe!'”. Por determinação judicial, foi proibido de entrar em casa -ficou uma semana morando em um hotel. “O juiz achava que a casa era dela, entendeu? Depois viu que não era isso e corrigiu a sentença.”

 

Netinho conta que pagou “um preço altíssimo“: teve que fazer um acordo financeiro com a ex-mulher e seu contrato com a TV Record, onde apresentava desde 2001 o programa “Domingo da Gente” -com o quadro “Um Dia de Princesa”, em que dava roupas, presentes e bolsas de estudo a meninas pobres-, não foi renovado.

 

Hoje, diz ter uma relação “cordial” com Sandra e acredita que ela será sua eleitora em outubro: “Nunca perguntei isso, mas tenho certeza.”

 

“Não sei se esse é um assunto que entra numa campanha majoritária, um assunto de cinco anos atrás, né?” Faz uma pausa. “Na verdade, eu não sei se o eleitor está interessado nisso.”

 

Na segunda passada, em campanha em Sorocaba (99 km da capital), Netinho citou o caso em um discurso para representantes do movimento negro, na sede de um clube da cidade.

 

“Não me abato com preconceito. Quando virei músico, minha música era lixo cultural. Quando virei apresentador, aquilo ali era “um programa assistencialista”. Quando virei político, “ah, é um aproveitador!” E agora que pretendo ser senador, sou arrogante, e mais, não fiz nada de bom na vida. Eu sou um “agressor”, porque briguei e cometi um erro.” E finaliza se definindo como “sujeito homem, porque eu tenho coragem de pedir desculpa”. A plateia aplaude.

 

Numa época em que o comunismo anda em baixa no mundo, ele diz que se filiou ao PC do B, em 2006, para ajudar a construir “o comunismo brasileiro”.

 

“Não o comunismo de Lênin, de Marx, de séculos passados“. Mas o de Lula, por exemplo. “O que o presidente fez nesses oito anos pode se chamar, sim, de comunismo brasileiro. É o empresário feliz e o trabalhador também contente, sabe?”

 

Netinho acredita que é comunista desde criancinha. “O pobre já nasce comunista. Ele não vê a hora de poder ter acesso às coisas, de usufruir, de receber, de conhecer.” Órfão de mãe aos 11 anos, vendia doces na estação de trem de Carapicuíba, para ajudar o pai no sustento da casa.

 

“Pra quem não gosta de mim, tudo é motivo: se não é porque tô no Partido Comunista, é porque sou pagodeiro. Se não é porque sou pagodeiro, é porque sou comunista.” O povo, diz, está “mais maduro, entende um pouco que essa coisa de comer criancinha nunca existiu”. Já os comunistas…

 

Netinho diz que, quando chegou ao PC do B, pelas mãos do amigo e ministro Orlando Silva, do Esporte, viu narizes torcidos. “Tinha uma coisa assim: “Netinho comunista? Pagodeiro comunista?'”. Ele foi aprendendo. Frequentou o curso de teoria política do partido e leu sobre “Marx, Engels, Weber e Maquiavel”. Também se matriculou na faculdade de sociologia, que trancou para se dedicar à campanha.

 

“Lindo, tesão, bonito e gostosão!”, gritam sete meninas, cercando o Corolla preto que transporta Netinho pelas cidades da região que visita neste dia -Sorocaba, Votorantim e Salto. “É o Lula!”, grita uma delas. “Não, é o Netinho!”, diz outra. “Ai, meu Deus, é sério! É ele!”

 

Em poucos minutos, dezenas de pessoas, a maioria mulheres, se aglomera ao redor do candidato para uma caminhada. Ele tira fotos, ganha um pacote de granola, cartinhas. Dá autógrafos em santinhos e em jornais do PC do B, que os assessores distribuem dizendo que é “o jornalzinho do Netinho”.

 

“As pessoas não vão jogar o jornal fora, porque está assinado”, ensina. A confusão é grande. “Vai atrás dele pra bandeira sair nas fotos. O importante é aparecer o vermelhão [cor do partido]”, diz um assessor a outro que carrega a bandeira do PC do B. “Meu Deus, minha mão tá doendo. Levei até beliscão no pandeiro!”, diz Netinho.

 

Eleito vereador com 84 mil votos em 2008, Netinho sonha alto. “Não sei o que o destino me reserva. Mas, se eu conseguir ser eleito, desempenhar um bom papel no Senado, naturalmente você já é colocado num protagonismo político.” Até à Presidência da República ele admite que um dia pode concorrer. “O céu é o limite.”

Fonte: Folha de São Paulo

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