Dados da Secretaria de Políticas para Mulheres apontam que 14 mulheres são mortas por dia no Brasil. Como forma de enfrentar a violência contra a mulher, a bancada feminina no Congresso Nacional premiou hoje (12) seis estudantes entre 14 e 18 anos que participaram do 2º Concurso de Curta Documentário sobre a Lei Maria da Penha, que completa oito anos em 2014.
Por: Luciano Nascimento
A ideia do concurso, organizado pelas procuradorias da Mulher da Câmara dos Deputados e do Senado, com o apoio da bancada feminina da Câmara, é levar informação para jovens de escolas públicas e particulares e fazer com que, a partir da reflexão sobre o tema, os adolescentes possam contribuir para a construção de uma cultura de paz.
“Eu acho importante que o Poder Público possa assumir iniciativas como essas. Primeiro porque significa os jovens refletirem sobre a necessidade de enfrentar a violência contra as mulheres; segundo porque significa eles terem a oportunidade de serem protagonistas da construção de uma sociedade sem violência”, disse a deputada Erika Kokay (PT-DF), integrante da bancada feminina.
Foram escolhidas seis produções – uma de cada região do país por meio de comissão julgadora e outra com voto popular pela internet. Com até cinco minutos, os vídeos foram elaborados por estudantes do ensino médio, de 14 a 18 anos, com o tema Violência contra a Mulher, o que Você Tem a Ver com Isso? Grave um Vídeo. Compartilhe com o Mundo!.
A estudante do ensino médio da Escola Municipal Leonor Pinto de Paz, em São Paulo, Renata Marques, uma das premiadas, lembrou que, devido ao machismo, a mulher acaba sendo culpabilizada pelas violências que sofre. “É uma cultura machista que diz que a mulher deve seguir determinados tipos de padrão e, a partir do momento em que ela não segue, ela vai ser culpada de todas as coisas que acontecem ao redor dela”, explicou.
A estudante ressaltou ainda que isso, infelizmente, faz parte do cotidiano das mulheres brasileiras. “A mulher não tem a liberdade de ir e vir, porque se ela saí à noite em uma determinada hora, em um determinado local, com determinado tipo de roupa, ela é culpada se acontecer algum tipo de violência com ela. Vão falar assim pra ela: e a roupa que você estava usando e nunca vão culpar o agressor”, lamentou.
De acordo com Renata, que tem 17 anos, o concurso fez com que ela refletisse mais sobre o assunto. “A cultura machista tem que mudar a partir de nós. A partir do momento que eu percebo isso e eu começo a mudar, as pessoas ao meu redor vão fazer isso também”, completou
O estudante paraense Mateus Ribeiro, 17 anos, disse que nunca pensou que um dia fosse fazer um trabalho sobre a Lei Maria da Penha. “Eu era conhecedor da lei, que é nova, tem poucos anos, mas tem grande referencia em nosso país”, disse.
O vídeo dele abordou de forma didática como acontecem as agressões a mulheres e também como é possível previnir o problema. “Eu abordei como acontecem as agressões, o porquê de elas acontecem, o que eu tinha a ver com isso e, finalizando, eu falei como poderíamos, não só eu, mas a sociedade junta, evitar a violência contra a mulher”, defendeu Ribeiro, para quem é preciso promover uma cultura voltada para a paz e a igualdade de gênero.
Dados atualizados do Mapa da Violência 2012: Homicídio de Mulheres no Brasil, apontam que é principalmente no ambiente doméstico que ocorrem as situações de violência contra a mulher. A taxa de ocorrência no ambiente doméstico é 71,8%, enquanto em vias públicas é 15,6%.
A violência física contra a mulher é predominante (44,2%), seguida da psicológica (20,8%) e da sexual (12,2%). No caso das vítimas que têm entre 20 e 50 anos de idade, o parceiro é o principal agente da violência física. Já nos casos em que as vítimas têm até 9 anos de idade e a partir dos 60 anos, os pais e filhos são, respectivamente, os principais agressores, de acordo com dados do Mapa da Violência.
O baiano Marcelo Santana, 15 anos, estudante do Instituto Federal da Bahia, ressaltou no seu vídeo a questão do machismo. “Mostramos como o machismo se enraizou na cultura do brasileiro e, se a gente não corta isso, ele vai se perpetuar e vai continuar a violência”, disse.
A professora de Marcelo, Marcele Almeida, disse que o concurso “traz para a sociedade um alerta de que efetivamente a gente tem uma cultura machista impregnada e que muitas vezes justifica a violência contras as mulheres”. Para Marcele, os alunos conseguiram expressar isso. “Eu fiquei muito feliz com o resultado”.
Os vídeos vencedores serão exibidos nos veículos de comunicação da Câmara dos Deputados, do Senado, do Ministério da Educação e disponibilizados no endereço eletrônico www.curtamariadapenha.com.br.
A Lei Maria da Penha foi batizada assim em homenagem à farmacêutica bioquímica Maria da Penha, que ficou internada por quatro meses devido a um tiro disparado pelo ex-marido, que a deixou paraplégica. O caso ganhou repercussão e, apesar da morosidade da Justiça, resultou na criação da lei, principal ferramenta jurídica de defesa das mulheres vítimas de violência.
Fonte: Agência Brasil