Acredito que muitas pessoas passem por crises existenciais em alguns momentos da vida. No geral, minha sensação é de que entro em crises quase que diariamente por ser mulher. Como não surtar quando somos cobradas diariamente para sermos Super-Mulheres? Não no bom sentido da palavra. Porque somos cobradas para sermos seres imortais, fortes e que nunca fraquejam, modeladas por uma sociedade e uma cultura de muitos anos. Quem inventou essa ideia de que a mulher veio depois do homem? Quem disse que por trás de todo homem tem uma mulher? Pergunto-me diariamente como ideias tão antigas perduram até hoje.
Texto de Pamela Sobrinho para as Blogueiras Feministas.
Lendo revistas femininas, havia um artigo com o seguinte titulo: “47 dicas para você ser uma mulher poderosa”. Sobre o que tratará esse artigo? Será sobre emprego? Será sobre como nós mulheres somos poderosas quando conciliamos casa, família, emprego e lazer? Não, não era nada disso, era mais um artigo machista e patriarcal que tenta ditar como nós mulheres devemos ser. Para ser ter uma ideia, a dica 4 é: “Encontre um cara que você queira fazer feliz todos os dias, para o resto da sua vida, e case-se com ele”. E se você não quiser se casar? Você vai deixar de ser poderosa? A dica 15 diz: “Você nunca perderá nada por ser discreta. E, se perder, ninguém vai ficar sabendo mesmo”. Isso é sério? Essas dicas me levarão onde?
Infelizmente, muitas mulheres seguem a risca essas “dicas”. Não que elas estejam erradas, mas nós, mulheres, crescemos acreditando que não somos poderosas se não estivermos nos moldes que a sociedade prega. Se você é branca, cis, loira ou morena, com cabelo liso e magra, talvez sofra menos as pressões sociais, mas essa não é a realidade de todas as mulheres. Se você for negra, por exemplo, ou é vista como uma Globeleza ou é ignorada pela sociedade. Se você é gorda, sofre outros tipos de exclusão. Se é uma trans*, o desrespeito é tão absurdo que nem como mulher você é considerada.
Alicia Keys, na música “Superwoman”, diz a seguinte frase: “Eu me levanto e continuo procurando, pelo melhor pedaço de mim, de cabeça baixa por esse peso, escrava da humanidade, eu levo isso em meus ombros, tenho que encontrar a minha força interior”.
Sim, somos escravas da sociedade. Sendo escravas, somos levadas diariamente a abandonar nossas ideias, deixar nossas vontades de lado para seguirmos um molde ao qual nos encaixamos e sofremos por causa disso. Quantas de nós não surtaram um dia porque não estavam num padrão aceitável? Queremos ser aceitas, mas será que vale morrer por isso?
Até quando seremos vitimas de um padrão que não existe? Até quando existirão padrões para determinar quem é a mulher real e quem não é?
Na mesma música, Alicia Keys também diz: “Por todas as mães que lutam, por dias melhores que virão, por todas as mulheres sentadas aqui agora, que tem que voltar para casa antes do sol se por, para todas as minhas irmãs, cantando juntas, Dizendo: Sim eu vou, Sim eu posso”. Também respondo sim. Nós vamos levantar todos os dias e lutar por um mundo onde não sejamos mais escravas, mas sim donas de nosso próprio destino.
Autora
Pamela Sobrinho é economista no Sistema S, editora na revista Betim Cultural, blogueira, mulher, feminista, sem denominações religiosas, mas amante do respeito e da igualdade. Escreve no blog: O que há por trás da Economia. Twitter: @pamsobrinho.
Fonte: Blogueiras Feministas