Conheça o Fundo Agbara: 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil

FONTEPor Aline Odara, Mariana Pimentel e Iara Teixeira, enviado ao Portal Geledés
Foto: Reprodução/ Facebook

Apesar das mulheres negras representarem a maior parcela populacional do país (27%), constituem, ao mesmo tempo, a mão de obra mais desvalorizada e subutilizada do mercado de trabalho. Menos da metade dessas mulheres exercem trabalho remunerado, sendo que as mesmas ganham apenas 44% do salário de um homem branco, limitando-se a ocupar na maioria das vezes posições com menor prestígio social, baixo salário e alto grau de informalidade. Essas mulheres constituem a base da pirâmide social, e devido ao racismo estrutural que iniciou-se no Brasil colônia e se perpetua até os dias atuais, ocupam atualmente os postos de trabalho mais precarizados e os maiores índices de desemprego, segundo pesquisa do IBGE de 2019.

É com o intuito de tentar responder à essas e outras adversidades oriundas de um mal-sucedido processo de abolição, e em meio à pandemia de COVID-19 que gerou uma das maiores crises sanitárias e econômicas dos último 100 anos, que nasce o Fundo Agbara: o 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil, comprometido com a defesa dos direitos humanos, o combate ao racismo estrutural, com a inclusão produtiva, a cultura de doação, com a criação de acessos e a geração de renda para mulheres negras e indígenas microempreendedoras. Práticas solidárias são históricas e recorrentes entre o povo negro, entretanto, o Agbara é a primeira organização que se apresenta a sociedade como um fundo exclusivo de mulheres negras.

O Agbara tem como princípio o resgate à ancestralidade, a emancipação do indivíduo através da ação coletiva e bebe das práticas solidárias comum ao povo negro, tal como inúmeras organizações que só puderam sobreviver ao ostracismo através da ajuda mútua e do aquilombamento, todavia o Fundo Agbara é a primeira organização de mulheres negras do Brasil que se apresenta à sociedade como um fundo solidário para subsidiar outras mulheres negras.

Em 10 meses de existência, o Agbara prestou mais de 300 atendimentos através de suas três frentes de ação, sendo elas:

  • Transferência de renda por meio de um aporte financeiro captado através de doações, que são destinados mensalmente às mulheres negras e indígenas contempladas;
  • Assessorias técnicas e mentorias prestadas às mulheres da rede, através de um banco de dados com mais de 60 pessoas inscritas cadastradas que se disponibilizam de forma voluntária a prestar diversos serviços gratuitos. Dentre estes serviços podemos citar, assessoria para criação de logotipo, plano de negócios, criação de marca, estudo de viabilidade econômica, consultoria técnica em comercialização, suporte com mídias e marketing digital, entre muitas outras, e;
  • Formações de aprimoramento técnico-profissional, bem como formação política em cidadania e direitos humanos, destinadas a dois públicos principais:
  • mulheres inscritas da Rede Agbara, que mensalmente participam dos cursos de aperfeiçoamento profissional e político, trabalhados de forma consonante, buscando abordar tanto os aspectos da vida produtiva quanto às questões pertinentes à realidade social em que vivem.
  • doadores do Fundo Agbara, que são convidados a compreender e dialogar sobre questões ligadas ao público-alvo do fundo e seu papel primordial na manutenção ou combate ao racismo, através das formações sobre relações étnico-raciais e o papel da branquitude na manutenção das desigualdades. 

O Agbara busca, desta maneira, estimular em seu público atingido – composto pelas mulheres empreendedoras e pelos doadores – uma noção de articulação e atuação por meio das redes de solidariedade, elemento ancestral da população negra que, só conseguiu sobreviver a diáspora e a travessia de séculos de violência institucionalizada e total abandono do Estado, devido às suas práticas solidárias cotidianas, perpetuadas através dos tempos até os dias atuais por esse povo guerreiro e resiliente. Revisitando essa ancestralidade solidária e cooperativa, o Agbara busca potencializar o que já vem sendo praticado há anos pelo povo negro através de suas manifestações e lutas diárias, trazendo uma perspectiva atual e inovadora para essas antigas práticas, traduzidas em nosso fundo filantrópico e nas nossas frentes de ação.

Em relação às mulheres contempladas com o aporte financeiro, as mesmas são desafiadas a promoverem um retorno à sua comunidade, ao passo que aos nossos financiadores são convidados a engajar-se na nossa rede através da doação, da oferta de serviços voluntários e das nossas formações mensais.

Nota-se nos últimos anos, um maior reconhecimento e sensibilização por parte da sociedade civil e das empresas em relação à equidade racial e de gênero, no entanto, os investimentos sociais em projetos encabeçados por mulheres negras precisam ser, de fato apoiada, para que as oportunidades, o acesso à vida produtiva e à dignidade sejam democratizadas.

No mundo da capoeira existe uma ideia bastante difundida de que a luta dos povos negros é a luta de quem nada tem contra quem tem tudo, e não diferentemente ocorre com as mulheres negras, que sempre fizeram muito com os pouquíssimos recursos que dispunham. Imagine o que seriam capazes de fazer com condições materiais adequadas? Seja doador do 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil! 

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

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