Conheça o La Frida Bike, movimento que inclui mulheres negras no mundo das bicicletas

LÍVIA SUAREZ, IDEALIZADORA DO LA FRIDA BIKE (FOTO: HELEN SALOMÃO/DIVULGAÇÃO)

Criado em 2015, o projeto começou como um Bike-Café-Poético e hoje se tornou um movimento que une emancipação feminina e mobilidade

POR MICAELA DOS SANTOS, do Época 

CRIADO EM 2015, O PROJETO COMEÇOU COMO UM BIKE-CAFÉ-POÉTICO E HOJE SE TORNOU UM MOVIMENTO QUE UNE EMANCIPAÇÃO FEMININA E MOBILIDADE URBANA (FOTO: HELEN SALOMÃO/DIVULGAÇÃO)

Usando como inspiração a pintora mexicana Frida Kahlo, ícone do surrealismo nos anos 50 e um dos maiores símbolos do feminismo, as amigas Lívia Suarez e Maylu Isabel criaram, em 2015, o La Frida Bike Café. O empreendimento social sobre rodas levava café e poesia a estudantes e docentes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador.

Na época estudante de Letras na UFBA, Lívia Suarez não se via representada nos movimentos cicloativistas da cidade. “Eu comecei a perceber que não me encaixava nos grupos dos quais participava, onde a maioria era formada por homens brancos ou mulheres brancas”, diz. Estampando uma mulher negra e uma bicicleta como logomarca, o La Frida Bike Café se expandiu para além do campus da universidade e ganhou as ruas de Salvador, criando espaços de expressão artística e convívio.

O empreendimento social cresceu e chamou a atenção de mulheres negras da cidade. Lívia, Maylu e a estudante e poetisa Jamile Santana, que mais tarde se juntou às sócias originais, perceberam que, apesar de atraídas pela ideia de andar de bicicleta, muitas não sabiam pedalar.

LÍVIA SUAREZ, IDEALIZADORA DO LA FRIDA BIKE (FOTO: HELEN SALOMÃO/DIVULGAÇÃO)

A vontade de estimular mais mulheres negras e da periferia a andar de bicicleta fez o La Frida se tornar também um movimento de representatividade, com o projeto “Preta, Vem de Bike”. A iniciativa ensinou mais de 400 mulheres a pedalar e deve se expandir para outras cidades, como Recife e Salvador.

Uma pesquisa feita pelo La Frida com as alunas do projeto “Preta, Vem de Bike” constatou que 50% das mulheres do projeto sonhavam em aprender a pedalar. Uma delas era dona Elza, de 60 anos. Ela contou que, durante a infância, mesmo tendo bicicleta em casa, não podia pedalar porque precisava cuidar da casa. “Isso se repete com muitas negras da periferia”, diz Lívia. “É uma questão de falta de oportunidade e de estar em papel subalterno. Andar de bicicleta é ter autonomia e liberdade. Tem a ver com o direito de ir e vir e de ser dona do seu próprio corpo”.

LA FRIDA BIKE CAFÉ (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)

Lívia afirma que os projetos do La Frida tiveram um impacto importante para o aumento do uso das bicicletas em Salvador, chegando até a impulsionar a criação de ciclovias pela cidade. O La Frida Bike conquistou por dois anos consecutivos o Prêmio Mobilidade, em 2017 e 2018, e o apoio de instituições como o banco Itaú.

Para rentabilizar o negócio e manter os projetos, o La Frida criou um centro cultural e a Oficina La Frida. A oficina capacitou e profissionalizou 20 mulheres em mecânica de bicicletas. Neste mês, o projeto também lançou duas linhas de bicicletas, a “Carolina de Jesus” e a “Frida Kahlo”.

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