A Copa do Apartheid: No futuro ficaremos também fora dos campos nos estádios

por marcos romão

Alguém já se perguntou qual a chance de um garoto pobre virar craque de clube no Brasil de hoje em dia?

Como nas cidades não tem mais campinhos, e quando tem, as escovas dos esquadrões da morte limpam não só os gramados, a barreira para a entrada de talentos não protegidos pelos gatos no mundo de futebol ficou enorme.

Na Alemanha tem associação futebolísticas em tudo quanto é esquina, recebem incentivo do Ministério de Educação, e condicionam a participação da garotada à frequência escolar. É lá que os clubes vão buscar os talentos nacionais, muitos filhos de migrantes de África, polacos, brasileiros, turcos, russos e etc. Observem os nomes dos jogadores das últimas seleções da Alemanha e terão confirmado o que observei nos últimos 20 anos.

Garotos dos confins brasileiros já descobriram isto e embarcaram nos últimos anos para a Alemanha e outros países que seguem este modelo de incentivo ao esporte, pois não é só futebol. Quem sabe em 2022 o goleador alemão contra a seleção brasileira seja um Dos Santos, ou um Nascimento.

Resumo: como tudo que dá dinheiro no Brasil acaba ficando nas mãos de um elite, que sempre privilegia somente os méritos de seus pimpolhos, a essência do “jeitinho” brasileiro na formação de seus times desde1958, que foi a multidiversidade cultural, étnica e nacional, foi anulada.

A copa do apartheid que todos assistiram nos estádios da Copa 2014, não foi uma invenção da Fifa, ela é um dos resultados nefastos da segreção racial, econômica e social, implantado no duplo sistema educional brasileiro, o privado e o público. Como o futebol virou profissão de elite, as verbas vão para o setor privado, e pouco sobra para investir na formação dos talentos esportivos de todas as áreas, que se encontram no área pública da nação. Vamos continuar fora dos estádios e no futuro também dos campos.

Fonte: Mamapress

+ sobre o tema

Carta aos espanhóis: e se nos unirmos para erradicar o racismo?

Queridos amigos espanhóis, Picasso, Gaudí, Montserrat Caballé, Cervantes, Concha Buika,...

Wole Soyinka: ‘Quando entro em um museu europeu, quero roubar de volta o que me pertence’

Aos 88 anos, o dramaturgo, poeta e romancista nigeriano Wole...

Pode acontecer com qualquer pessoa negra – a pergunta é: até quando?

O número de casos de discriminação racial irá aumentar, e isso...

A Espanha é um lugar racista?

vini jr, com a sua coragem e inteligência, deu...

para lembrar

O Vodu e a Resistência Negra no Haiti

Resumo No dia 12 de janeiro de 2010 o Haiti...

Quando todos os europeus eram negros

Maior estudo genético de europeus da pré-história revela um...

“Onde vou colocar minhas clientes milionárias?”: o depoimento visceral de uma paulistana sobre as ciclofaixas

Kiko Nogueira “Onde vou colocar minhas clientes milionárias?”: o depoimento...

Relações África-América Latina: o legado de Desmond Tutu

O falecimento do arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu, em...
spot_imgspot_img

Carta às mães haitianas: o mundo vive um apartheid real

Prezadas mães haitianas, Nesta semana, tive calafrios quando li um informe da ONU mostrando com detalhes como suas filhas e filhos estão sendo queimados vivos,...

Trabalho forçado e sociabilidades negras e indígenas no Pantanal (1889-1930)

Longe de estar cristalizado em um ideal idílico de “natureza intocada” ou “espaço vazio”, o Pantanal é um bioma-sujeito que se constitui num movimento...

A natureza da catástrofe

Eu sou uma filha de Oxum. Fui escolhida por Xangô como Iya Egbé no Ilê Axé Opo Afonjá na Bahia. Sou uma das pessoas...
-+=