As brasileiras Samara, de 18 anos, Rhillary, de 16, e Bianca, de 15, têm algumas coisas em comum: são jovens participantes do programa “Uma Vitória Leva à Outra” no Rio de Janeiro (RJ), jogam futebol desde pequenas e nunca tinham assistido a uma Copa do Mundo de Futebol Feminino na televisão, até junho deste ano.
Da ONU Mulheres
As histórias das meninas e mulheres que jogam futebol, em geral, ainda têm início semelhante. Se interessaram pela bola nos pés dos meninos que jogavam na rua, e se juntaram a eles. Quase sempre, sozinhas, sem a companhia de qualquer outra menina. Salvo raras exceções, ouviram, durante anos, da família, das pessoas do bairro e de amigos e amigas que futebol não era coisa para mulher. Isso quando os comentários também não envolviam xingamentos e ofensas. Leia os relatos colhidos pela ONU Mulheres.
As brasileiras Samara, de 18 anos, Rhillary, de 16, e Bianca, de 15, têm algumas coisas em comum: são jovens participantes do programa “Uma Vitória Leva à Outra” no Rio de Janeiro (RJ), jogam futebol desde pequenas e nunca tinham assistido a uma Copa do Mundo de Futebol Feminino na televisão, até junho deste ano.
As histórias das meninas e mulheres que jogam futebol, em geral, ainda têm início semelhante. Se interessaram pela bola nos pés dos meninos que jogavam na rua, e se juntaram a eles. Quase sempre, sozinhas, sem a companhia de qualquer outra menina. Salvo raras exceções, ouviram, durante anos, da família, das pessoas do bairro e de amigos e amigas que futebol não era coisa para mulher. Isso quando os comentários também não envolviam xingamentos e ofensas.
“Sai daí, menina! A gente vai jogar. Vai ficar com as outras meninas ali no canto, vai”. Era o que Bianca ouvia quando tentava jogar com os meninos da rua. Dentro de casa, o apoio também não vinha. Para a família, mulher jogando futebol era algo “feio” e “errado”.
Rhillary conta que até chegou a entrar em uma escolinha de futebol quando tinha 13 anos, mas, sem o incentivo das pessoas ao seu redor, logo desistiu. Samara se lembra de que sempre que ia a uma loja de brinquedos com a família, pedia uma bola e ouvia a mãe implicar. “Muitas vezes, eu chegava a acreditar no que as pessoas diziam e me perguntava: ‘será que futebol é só pra homem?’”, diz Samara. “Continuei por amor”, completa.
O amor pelo futebol feminino ganhou uma nova dimensão este ano. Não foi a primeira vez que a Copa do Mundo Feminina passou na televisão, mas a visibilidade agora é outra. Ainda não há ruas pintadas, bandeiras por toda a parte e o país não para para assistir aos jogos femininos como faz quando a Copa do Mundo é masculina. Mas, este ano, várias empresas aderiram ao movimento “Com Você Eu Jogo Melhor” e liberaram suas equipes para acompanharem os jogos do Brasil.
Este ano, Samara assistiu aos jogos com seu pai, vestida com a camisa da seleção e trocando mensagens com amigos que assistiam à mesma partida em outras casas. Rhillary também brincou com a mãe, que mesmo sem ter o costume de torcer por futebol estava nervosa no último jogo do Brasil contra a França. Bianca também viu as mulheres jogarem futebol na TV pela primeira vez, e passou a ter um novo ídolo – Marta, de quem nunca tinha ouvido falar. O pai de Bianca também esteve na audiência, mesmo achando que futebol não é para mulher, curtiu o jogo e não falou nada.
“Achei maneiro. Se eu entrar em uma escolinha de futebol outra vez, talvez, agora, minha mãe me apoie”, comenta Rhillary. “Me senti representada como mulher”, afirma Bianca. “E bate aquela emoção! Eu vejo essas mulheres jogando e eu quero ser igual”, diz Samara, que é fã número um da meia e volante Formiga, a camisa 8 da seleção. “Sempre que eu vejo a Formiga, eu aprendo alguma coisa com ela. Ela até parece uma amiga minha”, diverte-se.
A sensação entre elas é de que o futebol feminino, finalmente, está começando a ser valorizado. Entre as apostas das três para os próximos anos estão: maior cobertura de mídia, mais incentivo para que as mulheres se desenvolvam no futebol, mais campeonatos, mais oportunidades e até o mesmo nível de reconhecimento que possui o futebol masculino no Brasil.
A realidade ao redor das três, diariamente, coloca empecilhos para a realização de seus potenciais. “Aqui, dentro da favela, as coisas são mais difíceis. Parece que esse sucesso nunca vai acontecer comigo”, desabafa Samara. Caberá a agências internacionais, instituições públicas, privadas e sociedade civil organizada o papel de garantir que as esperanças e sonhos dessas meninas no esporte e na vida não terminem com o final da Copa.
No programa “Uma Vitória Leva à Outra” — iniciativa conjunta de ONU Mulheres e Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera — elas têm vivido uma experiência positiva nesse sentido.
Há alguns meses, mais do que uma oportunidade de jogar bola com outras meninas que também são apaixonadas por esporte, Samara e Rhillary também encontraram no programa, implementado pelo Instituto Companheiro das Américas com apoio metodológico da Empodera, um espaço seguro onde se sentem à vontade para trocar experiências e discutir sobre temas importantes para suas vidas. “Aqui é muito diferente das outras amizades que eu tenho na rua. Essas meninas animam o meu dia”, diz Samara.
Bianca, que participa do programa na Fundação Angélica Goulart, também diz adorar os encontros. Até agora, seu dia preferido foi quando as facilitadoras trouxeram uma dinâmica para discutir e desconstruir as crenças sobre o que era socialmente considerado “coisa de homem” e “coisa de mulher”.
“Nós, mulheres, podemos fazer tudo o que a gente quiser”, afirma a adolescente. “Tenho certeza de que muitas meninas vão se tornar uma Martinha, não importa o que falem”. Diante dos desafios cotidianos, Rhillary também se inspira na melhor jogadora do mundo: “não dá pra ter medo de tentar, é preciso seguir em frente e não desistir nunca”. E Samara já está de olho na nova onda de inspirações para o esporte feminino que o ano de 2020 promete trazer. “No ano que vem, nós vamos ganhar as Olimpíadas”.