Cristovam – O Brasil tem uma dívida com os negros. Faz 120 anos que acabamos com a escravidão e continuamos com uma elite branca num país onde maior a parte da população é negra. Vamos corrigir essa distorção por meio de uma revolução na educação de base, garantindo que todos os brasileiros terminem o ensino médio com qualidade e disputem em condições de igualdade uma vaga na universidade. Se fizermos isso a partir de agora, levará 15 a 20 anos para surtir efeito. Até lá, temos de ser favoráveis às cotas para aumentar o número de jovens negros na universidade. Quero lembrar que para se beneficiar da cota o negro tem de passar no vestibular. Por isso, não vai beneficiar os pobres. Mas vai mudar a cor da cara da elite brasileira. Além disso, quem entra pelas cotas é porque passou no vestibular, mas não ficou dentro do número de classificados. Por isso, minha proposta é que o aluno negro que se beneficie das cotas não tire o lugar de nenhum branco. Se 50 passaram no vestibular, havendo só 30 vagas, e entre os 20 excedentes ficaram dois ou três negros, a universidade aumenta o número de vagas para absorver esses jovens negros. Isso é o jeito, não é a solução. É o jeitinho que o Brasil está devendo aos negros. Um país justo não precisa de cotas. Mas um país que nega cotas é mais do que injusto. É um país que quer esconder a própria injustiça.
Fonte: Época