Curso capacita mulheres trans em empreendedorismo na cidade do Rio

As 29 alunas formadas pelo curso receberam certificados do Sebrae Rio

No mês da visibilidade trans, comemorado em janeiro, um projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ formou ontem (24) mulheres transexuais e travestis que receberam capacitação em empreendedorismo durante três meses para impulsionar seus próprios projetos. A conclusão do curso ocorreu em Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio de Janeiro, e foi marcada pela realização da primeira Feira de Mulheres Trans de Negócios.

As 29 alunas formadas pelo curso receberam certificados do Sebrae Rio e apresentaram na feira os projetos de produtos e serviços em que receberam orientação, com oficinas que abordaram temas como educação financeira, identidade visual e o uso das redes sociais.

Coordenador de cultura do Grupo Arco-Íris, Almir França contribuiu com o projeto com a experiência da Escola de Divines, que já trabalhava a capacitação da população trans. França conta que entre os projetos desenvolvidos pelas empreendedoras estão iniciativas em diferentes áreas, como gastronomia, limpeza, moda e beleza.

“A feira é um formato que permite que elas tenham ideia de não apenas como produzir, mas também como vender o produto”, acredita ele. “Além de saber fazer, elas aprenderam como é empreender, como é colocar isso no mercado”. 

Em meio a um cenário de crise econômica e desemprego agravado pela pandemia de covid-19, França vê a possibilidade de empreender como uma forma de potencializar o trabalho informal com o qual essas mulheres buscavam seu sustento. “É fortalecer aquilo que ela vem fazendo e tem deixado ela viva. E legalizar isso e mostrar que isso é real e faz parte de uma cadeia produtiva que é importante”. 

Além do Grupo Arco-Íris, o projeto foi realizado pela Secretaria de Políticas e Promoção da Mulher do Rio de Janeiro, com apoio institucional da Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio. A secretária da Mulher, Joyce Trindade, destaca que montar seu próprio negócio é uma alternativa em um cenário em que mulheres trans muitas vezes não conseguem espaço e vagas em postos de trabalho por preconceito. “É nosso dever oferecer alternativas para que este público possa trabalhar e empreender”, afirmou durante a formatura.

Entre as empreendedoras que receberam o certificado ontem está Michelle Rosa, de 43 anos, que decidiu investir em uma pet shop em Campo Grande, na zona oeste do Rio, depois de mais de 20 anos de experiência de trabalho com banho e tosa de animais domésticos. Ela conta que abriu as portas em 2019, mas viu um período de muita dificuldade com a pandemia de covid-19 que começou no ano seguinte.

“O curso abriu minha mente para conseguir controlar o fluxo de caixa e o marketing digital. Não que eu não soubesse, mas deu uma aprimorada”, comemora ela.

Michelle decidiu arriscar um empreendimento próprio para ter a liberdade de buscar um atendimento de excelência aos clientes. Em sua carreira, ela conta que já enfrentou situações de assédio no ambiente de trabalho, inclusive por parte dos clientes. 

“Já teve homens que entraram fingindo que são clientes, já tentaram me agarrar sozinha na loja. Ligam e se passam por outra pessoa”, relata ela, que muitas vezes sofreu com a falta de provas para denunciar essas situações. “Eu não perco a pose e mantenho meu caráter, porque o que eu estou vendendo é meu serviço e a minha qualificação profissional”.

Com o auxílio do curso, ela espera controlar melhor o fluxo de caixa da pet shop e investir em uma carteira de motorista para atender clientes em domicílio. “Também quero fazer uma ONG [organização não governamental] em que eu possa cuidar dos animais de rua. O que eu quero é expandir para ajudar os animais”. 

+ sobre o tema

O que as feministas defendem?

O feminismo é um movimento diverso e em constante...

Salvador tem oito casos de violência doméstica contra mulheres por dia

De janeiro a junho deste ano, a Delegacia Especial...

Queremos uma presidenta em 2022!

"Aprendemos a administrar a escassez e, como Cristo, temos...

para lembrar

Partilha do patrimônio de casal em união estável não é mais automática

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que a...

Mel Duarte combate machismo e racismo com poesia

Desde os oito anos de idade, Mel Duarte já...

Especialistas criticam deputados que vetaram cota para mulher no Legislativo

A diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo,...

Cinedebate: a sobrevivência dos sonhos

Alana e Outras Palavras promovem nesta segunda, 5 de...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: Sueli Carneiro vence na categoria Diversidade

Uma das maiores intelectuais da História do país, a escritora, filósofa e doutora em educação Sueli Carneiro é a vencedora na categoria Diversidade do...

Feira em Porto Alegre (RS) valoriza trabalho de mulheres negras na Economia Popular Solidária

A Praça XV de Novembro, no centro de Porto Alegre (RS), será palco de uma importante mobilização entre os dias 7 e 9 de...

Exposição de Laudelina de Campos recupera o trabalho doméstico na arte brasileira

Nomeada heroína da pátria em 2023, Laudelina de Campos Mello foi uma das mais importantes militantes pelos direitos das trabalhadoras domésticas no Brasil. Nascida em Poços de...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.