Enfrentar a crise com integração, desenvolvimento e soberania, este o grande desafio do FSM que prosseguiu neste domingo (31) em Salvador (BA).
Eliége Fante/EcoAgência |
Economista Demba Moussa Dembelé, um dos coordenadores do FSM de Dakar 2011 é entrevistado pelo repórter da EcoAgência Renato Gianuca. |
Por Renato Gianuca, especial para EcoAgência de Notícias
“É a hora de inventar algo novo”. A frase expressa bem os atuais impasses a que chegou o Fórum Social Mundial. Em sua décima edição, os debates prosseguiram, neste domingo (31/01), em Salvador. O tema do FSM baiano é “Da Bahia a Dakar: enfrentar a crise com integração, desenvolvimento e soberania”. Fundadores do processo como Sérgio Haddad, autor da frase acima, reconhecem a necessidade de propor uma nova agenda, mais contemporânea e integrando debate e reflexão, com a integração dos mais amplos setores da sociedade civil. Uma agenda que vá além dos debates e reflexões. E que parta para ações concretas, que de fato viabilizem “um outro mundo possível”.
O economista Demba Moussa Dembelé, do Senegal, faz parte dos organizadores e coordenadores do Fórum Social Mundial de Dakar 2011. Falando com exclusividade à EcoAgência, Dembele revela que no seu país já existem estruturas prontas para receber o grande encontro do próximo ano, reunindo entidades e organizações de todos os pontos do Senegal. “Já entramos em contato com as mais altas autoridades, como o presidente Abdoulaye Wade, para poder facilitar a organização do FSM Dakar. Vamos nos reunir brevemente com o presidente Wade e com o prefeito da capital com este objetivo”.
Pergunto, então, como ele observou o FSM de Nairóbi, em 2007. Dembelé responde: “Tiramos importantes lições daquele encontro no Quênia. Vamos tentar reprisar as boas realizações de Nairóbi 2007 e procurar evitar alguns problemas de organizações lá verificados”. Para ele, em Dakar 2011, será necessário alargar a discussão sobre os problemas mundiais, sem nunca esquecer: “A África faz parte do mundo e é também parte da solução dos atuais problemas mundiais.”
Demba Dembelé esteve em Copenhague, na fracassada cúpula sobre as Mudanças Climáticas da ONU e, na sua visão crítica, afirma que a relação entre os homens e a Natureza deve passar para o centro dos debates, com as mudanças necessárias do atual e destrutivo modo de produção capitalista. “É preciso mudar, já, para evitar a degradação acelerada do meio ambiente.”
Atualizar já a agenda. Este é o desafio
Já em Belém do Pará, em 2009, o tema ambiental – anunciado como o dominante, não apenas pela localização do encontro, às portas da Amazônia desmatada – ficou restrito ao primeiro dia. As vitais questões da agenda ecológica, com seus desdobramentos econômicos e sociais, ficaram diluídas entre os outros 10 eixos, escolhidos pelo Conselho Internacional do FSM.
Vamos recuar ainda mais no tempo. Local: Nairóbi, Fórum Social Mundial do ano de 2007. Este repórter, à época enviado especial desta EcoAgência para cobrir os debates, teve de garimpar diariamente por uma semana as oficinas e seminários onde temas ambientais eram abordados, eis que tais assuntos eram “secundários”.
Naquele ano, um grande personagem do FSM no Quênia foi mo britânico Phil Thornhill, do movimento “Campaign against Climate Change”. Seu discurso incendiário, em uma oficina realizada em uma das salas do imenso Moi International Sports Center de Nairóbi (uma versão queniana do nosso Maracanã), chamou a atenção dos presentes: “A mudança climática é muito pior do que vocês podem imaginar. Em muitas ocasiões, no passado mais distante, o clima do Planeta já mudou dramática e abruptamente no espaço de bem poucos anos”, alertava Thornhill.
Então, após os graves e recentes desastres ambientais – diariamente nas páginas de jornais, revistas e noticiários de rádios e tevês, além da Internet – esta pauta ambiental, pela sua ampla abrangência, deve aparecer como a central na construção de “um ouitro mundo possível”.
Debater os problemas apenas? Ou agir, dentro das possibilidades de cada ONG, cada movimento social, cada cidadão ou cidadã? De preferência, os dois.
Fonte: EcoAgência