De Masi sobre o Brasil: “A luta de classes dos pobres contra os ricos se tornou a luta dos ricos contra os pobres”

Trechos da entrevista de Domenico de Masi à Folha:

Do DCM

Como mudar essa reestruturação da riqueza?
Pagando impostos –e impostos altos. Na verdade, a maioria das 85 pessoas mais ricas do mundo é formada por ladrões de impostos. Eles sonegam impostos e, quando pagam, o fazem na Holanda, onde são mais baixos.

São pessoas que financiam campanhas eleitorais em barganha por leis que os favoreçam. E isso alimenta o ciclo da desigualdade.

Trata-se de uma luta de classes às avessas?
É uma vendeta. O neoliberalismo da era Thatcher inverteu as coisas: a luta de classes dos pobres contra os ricos se tornou a luta dos ricos contra os pobres.

Isso ocorre no Brasil também. Os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso adotaram uma política social-liberal, estabilizaram a economia e iniciaram uma política social. Os oito anos de Lula redistribuíram parte da riqueza que FHC criou, com uma política social-democrata, que permitiu a muitos brasileiros ascenderem.

Hoje, Dilma é vítima de uma vingança neoliberal. Aécio Neves (PSDB) perdeu as eleições, e o movimento neoliberal se voltou contra Dilma, que não é pior que outros presidentes. A corrupção sempre existiu no país.

O Brasil tem mil outros problemas para resolver… Há um grande desencontro entre o Brasil real e o Brasil intelectual.

Que desencontro é esse?
O Brasil tem uma taxa de desemprego que é um terço da italiana ou metade da norte-americana…

Mas espera-se um aumento…

No Brasil é assim: se algo vai mal, vai mal; se algo vai bem, no futuro vai piorar (risos). Esse é um pensamento típico dos brasileiros. Confrontadas com a realidade, essas ideias não param de pé.

Terminei uma pesquisa com 11 intelectuais brasileiros sobre como estará o Brasil em 2025. Grande parte desses intelectuais é pessimista.

O PIB brasileiro é o sétimo do mundo, à frente da Itália e da Inglaterra. O Brasil está em quinto em produção industrial. Está em terceiro lugar em acesso à internet, atrás dos EUA e da Suécia. Ou seja, o Brasil ocupa posições de Primeiro Mundo, mas os brasileiros ainda se enxergam como Terceiro Mundo.

Quando esses mesmos intelectuais foram confrontados com dados reais, eles se mostram mais otimistas do que quando discutiram entre si. Os brasileiros têm complexo de vira-lata.

 

Leia Também:

Marilena Chauí: “Não existe nova classe média”

Domenico De Masi e o Brasil cordial, modelo de vida para a sociedade desorientada – Por: Cidinha da Silva

O Vira-lata e o Racismo

+ sobre o tema

Deputados vão à Cracolândia, mas não descem do ônibus

Vinte e um deputados federais desembarcaram...

Multilateralismo e ações afirmativas

 - EDSON SANTOS - Folha de São Paulo -Tendências...

Risco Lula trava proposta de antecipação de eleições presidenciais

"PEC das eleições não passa pelo simples fato de...

Caso Palocci não afetou imagem positiva do governo, diz pesquisa

A queda do ministro Antonio Palocci em pouco ou...

para lembrar

Depois da ruína neoliberal, o ‘moralismo liberal’

Ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Bresser Pereira publica...

Detalhamento dos óbitos

Por: Edson Lopes Cardoso   O que fizeram...

Djamila Ribeiro reflete sobre o desafio de lidar com a extrema-direita

A filósofa, escritora e colunista de Marie Claire escreve...

Cidadão é livre para escolher uso do vale-cultura

Previsto para ser regulamentado no dia 26 de fevereiro,...

Em 20 anos, 1 milhão de pessoas intencionalmente mortas no Brasil

O assassinato de Mãe Bernadete, com 12 tiros no rosto, não pode ser considerado um caso isolado. O colapso da segurança pública em estados...

CPMI dos Atos Golpistas: o eixo religioso

As investigações dos atentados contra a democracia brasileira envolvem, além dos criminosos que atacaram as sedes dos três Poderes, políticos, militares, empresários. Um novo...

Como pôr fim ao marco temporal

A tese do marco temporal, aprovada na Câmara nesta terça-feira (30), é ancorada em quatro pilares: genocídio, desinformação, atraso e inconstitucionalidade. Dos dois últimos, deve-se dizer...
-+=