Zozibini Tunzi foi recebida por uma centena de fãs em Johannesburgo e falou da importância da emancipação das mulheres
Da AFP, no O Globo

Seu cabelo curto e crespo e seu discurso feminista causam uma boa impressão na África do Sul. Centenas de jovens fãs aplaudiram a nova Miss Universo nesta quinta-feira, em seu retorno ao país pela primeira vez depois de sua coroação. Usando brincos azuis e um vestido com estampas africanas, Zozibini Tunzi cumprimentou os fãs sorrindo do alto de um ônibus turístico que passeou pelas ruas de Joanesburgo.
— Ela aceita e até venera seus cabelos naturais. Queremos que nossas filhas façam o mesmo — explica a cabeleireira Millicent Manyike, 28 anos, que veio a admirar a jovem, coroada em dezembro nos Estados Unidos.
— É importante para nós, meninas negras, ter uma representação de nossa identidade — disse Lebogang Petje, uma estudante de 18 anos — Ela é uma verdadeira inspiração. Tenho orgulho de ver uma Miss Universo tão natural.
Após uma turnê pelos Estados Unidos e Indonésia depois de receber o título de Miss Universo, Zozibini Tunzi retornou ao seu país.
— Eu não sabia que seria a Miss Universo, porque não achava que isso seria possível para uma pessoa como eu — explicou, referindo-se à cor da sua pele e ao seu cabelo curto e crespo.
A sul-africana de 26 anos também se apresenta como uma defensora dos direitos das mulheres.
— Uma das coisas mais importantes é a emancipação das mulheres — disse Tunzi.
Sua condição de Miss Universo permite que ela “eduque as pessoas sobre a violência contra as mulheres”, disse uma de suas admiradoras nesta quinta-feira, vestida com uma camiseta com a frase “Um mundo sem estupro ou violência.”
Com a coroação de Zozibini Tunzi, “agora as meninas negras podem sonhar. Nada pode nos impedir”, acrescentou Athabile Nkatali, de 35 anos. O concurso Miss Universo “comercializa mulheres”, mas a vitória de Zozibini é “uma conquista para uma jovem negra que vem da campo”, disse.
A nova Miss Universo, originária da província de Eastern Cape, deve acompanhar o discurso anual à nação do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que acontece na noite desta quinta-feira.
— Quero ver se ele tem um programa para mulheres — afirmou Tunzi.
O feminicídio é um flagelo na África do Sul, um país cheio de violência. Uma mulher é assassinada a cada três horas e, todos os dias, a polícia registra 110 queixas de estupro, segundo estatísticas oficiais.
Cyril Ramaphosa recentemente comparou o nível de violência infligido às mulheres sul-africanas “com o de um país em guerra” e lançou uma campanha de mobilização nacional contra essa calamidade.
No concurso, a nova Miss Universo desfilou em um vestido no qual foram escritas mensagens de amor às mulheres, escritas por homens sul-africanos.