Deborah Riley Draper, cineasta: ‘É estúpido julgar uma pessoa pela cor da pele’

Americana veio ao Rio a convite do consulado dos Estados Unidos para lançar seu mais recente documentário, “Olympic Pride – American Prejudice”

Do O Globo 

“Sou executiva de mídia de uma agência de publicidade em Atlanta, onde nasci. Passei a minha carreira fazendo comerciais de 30 segundos e senti vontade de produzir filmes mais longos. Tenho 40 ‘e poucos’ anos e, há 4, estreei como cineasta à frente do documentário ‘Versailles ’73: American Runway Revolution'”

Conte algo que não sei.

Adoro usar vestidos na cor laranja e sandálias plataforma que amarram no tornozelo. Prefiro ir à praia do que ao campo, e a primeira vez que dirigi um grupo de pessoas foi no jardim de infância.

Seu primeiro filme, “Versailles ’73”, é sobre um programa de TV que tinha modelos negras no elenco. De que forma este tema a tocou?

Eu adoro roupas e descobri que houve um programa de TV em 1973 (“The Battle of Versailles Fashion Show”), uma competição entre designers americanos e franceses, em que onze modelos negras desfilaram as criações americanas. E foi a primeira vez que modelos negras representaram os Estados Unidos na televisão. Fiquei intrigada e quis contar essa história.

Elas exibiram as peças de designers como Yves Saint Laurent, Pierre Cardin, Givenchy, Christian Dior, em plena vigência do apartheid…

Foi impressionante. Fui a Paris e entrevistei o pessoal do escritório de Pierre Cardin. Falei com Givenchy, que está com 89 anos e não quis aparecer no vídeo por causa da idade. Foi muito legal ele explicar a importância desse programa e como, depois do “Versailles”, ele passou a usar modelos negras em seus desfiles. Um programa de TV ter causado um impacto tão grande nas questões raciais e na justiça social é muito forte.

Seu segundo filme, “Olympic Pride – American Prejudice”, também aborda a questão racial.

Quero falar sobre preconceito. É importante ter essas discussões, e acho que as pessoas são mais abertas a prestar atenção numa discussão se ela for proposta de uma forma mais lúdica, como num filme. Desta vez, retrato a participação de 18 atletas negros nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, desafiando a teoria nazista da supremacia racial.

Como chegou a essa história?

Eu estava estudando a trompetista americana Valaida Snow (1904-1956), que foi capturada pelos nazistas e aprisionada por 2 anos na Alemanha. Numa entrevista, ela falou desses atletas, e achei que era loucura. Mas, após pesquisas, descobri que ela estava certa. Descobri que 16 homens e duas mulheres tinham participado da Olimpíada de Berlim e nunca tinham recebido crédito por suas conquistas. Decidi fazer algo a respeito e produzir o filme. Quero que as pessoas percebam o quanto é estúpido julgar uma pessoa pela cor da sua pele.

Você já foi vítima de preconceito?

Quando eu era criança, ia numa loja, e as vendedoras suspeitavam de mim porque eu era negra. Mas é um problema delas, não meu.

Você é de Atlanta. Participou da Olimpíada, em 1996?

Sim, e foi incrível. Vi a abertura, em que Muhammad Ali acendeu a chama olímpica com a tocha, abrindo os Jogos. A mão dele tremia e eu estava com medo de ele não conseguir, ninguém no estádio se mexia ou fazia barulho. Quando ele conseguiu, as pessoas choraram e gritaram aliviadas.

Há quem garanta que a Olimpíada do Rio vai ser a mais bonita de todos os tempos. Você concorda?

As pessoas no Brasil são as mais bonitas que já vi. Se vocês conseguirem incorporar essa energia, essa cor, esse sabor e essa música à Olimpíada, ninguém vai batê-los, será a melhor.

 

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