Deixe-nos passar, é sobre nós que estão falando! – por Luka Franca

Luka Franca 

Quantas vezes nós ouvimos em espaços de militância a frase: Ah! Mas se vocês pautarem isso dividirão o movimento. A máxima de apontar que para a estruturação da exploração capitalista é necessário entender a dinâmica das opressões que estruturam a base da nossa sociedade é fundamental, ou será que a classe trabalhadora não sofre com estupros corretivos? Não sofre com violência LGBTfóbica? Para além, a classe trabalhadora é tão pura que não possui suas próprias contradições?

Foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil

É na intersecção entre as pautas que o sujeito das várias opressões e da exploração capitalista nos aparece e olha que coisa esse sujeito tem cor, tem gênero, tem orientação sexual diversa e é nesta diversidade que sua opressão acontece. E talvez nós mulheres negras tenhamos avançado um pouco mais no debate da intersecção entre as pautas justamente por ser primordial para nós debater o racismo e o machismo como instrumentos que se complementam para potencializar a nossa exploração.

Um bom exemplo de como as opressões se articulam entre sim para potencializar a exploração capitalista é o caso dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas. As discussões sobre equiparar ou não os direitos das empregadas domésticas com os dos outros setores de trabalho de serviços e produtivo só demonstra o quanto no nosso país não existe não falar em emancipação social, classe trabalhadora, luta de classes sem nos apercebermos que as estruturas de poder para a manutenção da sociedade que aí estão são organizadas para manter o racismo, machismo e homofobia.

Muitas vezes nós mesmas corroboramos com a manutenção desta estrutura de poder quando ao invés de colocar no mesmo patamar de discussão dos assuntos econômicos e políticos as nossas pautas. Um erro, pois a economia e a política geral versam sobre a nossa vida cotidiana e não sobre a vida cotidiana do homem cis branco e burguês.

O Brasil está se mexendo. Os nossos algozes estão percebendo que o elefante pode perceber que os ratos podem ser esmagados, mas e se esmaga os ratos e esse elefante continua não compreendendo que toda a nossa periferia é uma grande senzala? Que o capitão do mato ainda existe? Ainda existem as amas de leite, ainda existe o olhar torto quando se ocupa um espaço que não é o espaço a nós destinado: o do gueto.

Hoje tem ato em São Paulo, ato contra o Alckmin, ato por conta dos escândalos que tem vindo à tona nas linhas de CPTM e Metrô. E eu pergunto: A quem este governo tem atacado insistentemente desde a época de Covas? Ataca a nós mulheres negras cis e trans quando não garante realmente um transporte via trilhos de qualidade, pois somos nós ali apertadas e muitas vezes vítimas dos ditos crimes de oportunidade. São nossos filhos que são mortos pela polícia ao saírem da baladas. Somos nós as humilhadas quando vamos visitar nossos entes nas prisões.

O ato de hoje não é só por conta da CPTM e do Metrô, é também por conta da CPTM e do Metrô. O ato de hoje é um passo na busca da nossa dignidade que vinha sendo achincalhada por este governo estadual e hoje é o nosso dia de dizer: Nós estamos nas ruas, nós não somos uma minoria, nós somos a maioria dessa cidade, desse estado e desse país e vamos seremos ouvidas. Por que todos os assuntos que dizem que não são os nossos assuntos desrespeitam a nossa vida e não as dos homens brancos cis e burgueses.

 

Mas de Luka Franca

Luka Franca – Políticas de higienização, criminalização dos movimentos sociais, extermínio da juventude negra

A desmilitarizaçao da polícia nao pode ser racista, machista e cissexista – Por Luka Franca

 

Fonte: Blogueiras Negras

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