Metrô e CPTM: Uma rotina de falhas e limitações – Patrícia Benvenuti

Recursos desviados poderiam ter sido investidos em melhorias do sistema ou na redução da tarifa

Por: Patrícia Benvenuti

Em apenas seis projetos, R$ 425 milhões de reais. Esse foi o prejuízo para os cofres públicos paulistas do esquema de corrupção e pagamento de propina em licitações do Metrô e da CPTM, segundo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O rombo, no entanto, pode ser muito maior, já que as investigações ainda estão em andamento.

O desvio de recursos públicos revolta a quem assiste, dia a dia, à piora do sistema de transportes. “Esses episódios são mais uma demonstração de que transformaram o transporte em fonte de lucro e de enriquecimento ilícito para grandes empresários e políticos”, afirma o presidente da Federação Nacional dos Metroviários e secretário-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Paulo Pasin.

Somente os valores identificados até agora, segundo o sindicalista, teriam sido suficientes para concluir a expansão da Linha 5 do Metrô, na zona sul – uma das obras suspeitas de integrar o cartel. Os recursos também poderiam ter sido utilizados, segundo Pasin, para subsidiar as tarifas de transporte.

Cálculos do Sindicato dos Metroviários indicam que, se os índices de inflação fossem aplicados de 1995 até esse momento, a passagem deveria custar R$ 1,90. Com os R$ 425 milhões ainda nos cofres, o valor pago pelo usuário poderia ser ainda menor.

Limitações

Com 39 anos de existência e 74,3 quilômetros, o Metrô de São Paulo está longe de atender as necessidades da população. Segundo um cálculo da BBC, o metrô paulistano, em seu atual ritmo (1,91 quilômetro por ano), levaria 172 anos para chegar à extensão atual do metrô de Londres, que possui 270 estações e mais de 400 quilômetros de trilhos.

As limitações do Metrô atingem principalmente quem mora em áreas mais afastadas de São Paulo. A militante do Movimento Periferia Ativa Priscila Rabelo recorda que os bairros nas periferias não contam com estações de metrô. Com sorte, alguns têm estações da CPTM, com trens atrasados, sucateados e superlotados.

A maioria, no entanto, ainda depende dos ônibus. Francisco Morato, na região metropolitana, é um caso extremo. Segundo Priscila, os moradores precisam recorrer a duas ou três conduções para então poder embarcar em um trem. “Com o tempo as pessoas deixaram de pegar o ônibus e agora caminham cinco quilômetros até a estação para não perder tempo com o transporte público”, relata.

A falta de estrutura afeta não apenas a população, mas também os seus trabalhadores. O Metrô tem hoje com 10 mil funcionários, que têm de atender a uma média de quatro milhões de usuários. Para dar conta de todo o sistema com o quadro atual, o presidente da Federação Nacional dos Metroviários denuncia que a empresa impõe um regime permanente de horas extras.

Estresse e problemas médicos, assim, se tornaram comuns na categoria. “O trabalhador está em estresse absoluto o tempo inteiro, sabendo que qualquer falha pode se transformar em um incidente de grandes proporções”, afirma. Incidente como o ocorrido em 5 de agosto, quando um trem descarrilou entre as estações Marechal Deodoro e Barra Funda, na linha 3. A composição faz parte da frota K, que está sendo reformada pelo consórcio MTTrens.

De acordo com o Sindicato dos Metroviários, a falha foi ocasionada por um problema no truque (sistema composto por rodas, tração, frenagem e rolamentos do trem), que foi fornecido pelas empresas e apresentava baixa qualidade. Os contratos da reforma, que somam R$ 1,8 bilhão, também estão na mira do Ministério Público.

Apesar das tentativas de criação de CPIs, Pasin acredita que somente a pressão da população será capaz de levar as investigações adiante. “Acreditamos que só com mobilização popular vai se verificar todo esse esquema de corrupção”, assegura. “O cara que rouba uma carteira da rua é preso, um cara que desvia milhões não?”, questiona Priscila Rabelo. “Esperamos que essa conjuntura possibilite uma ação mais dura”, completa.

 

Fonte: Brasil de Fato 

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