Demetrio racista aqui só tem cotista! A manifestação do alunos no FLICA

Enviado para o Portal Geledes por – Angela Figueiredo – Professora Adjunta UFRB

DEMETRIO RACISTA AQUI SÓ TEM COTISTA!  Foi a palavra de ordem que entoou a manifestação de estudantes e membros da comunidade de Cachoeira contra a presença de Demetrio Mangnoli, convidado da Feira Literária Internacional de Cachoeira – FLICA para falar na mesa “ Donos da terra? Os neoíndios, velhos bons selvagens, no dia 26 de outubro.

Aturdido! Grande parte da platéia não entendia que aquele protesto era contra a posição política do convidado contrário ao estabelecimento do sistema de COTAS.  Os estudantes enfáticos contrários a posição política do palestrante  solicitavam  que a mesa fosse destituída, e imediatamente formada uma outra mesa para debater o sistema de Cotas, o que a coordenação do evento rejeitou.  O público esperava apenas que a cidade de Cachoeira fosse um cenário, composto por belas casas coloniais adicionado à belíssima vista do rio Paraguaçu para um evento literário.

As cotas permitiram o acesso de bons estudantes excluídos por um sistema universalista que esconde as desigualdades. Sem o sistema de cotas, teríamos perdido bons estudantes: competentes, comprometidos com a formação acadêmica, e reivindicando uma posicionalidade de quem fala, reafirmando quem SÃO. “ESTAMOS AQUI POR QUE TEM COTAS!”, asseguravam os estudantes. Essa declaração não esconde o benefício propiciado por uma política pública de combate à desigualdade no acesso à educação, do mesmo modo afirmam que OS TEMPOS MUDARAM. Queremos um país justo. Somos um Quilombo! Eles não querem mais educação para se tornar um assimilado, para usar uma categoria colonial. Eles querem acesso à educação para reverter às históricas desigualdades que assolam o nosso país. Os nossos estudantes estão comprometidos com a comunidade.

Com palavras de ordem e dispostos a ocuparem o espaço do evento, os  nossos estudantes permaneceram no local buscando interferir no cenário político da FLICA. Demetrio é RACISTA, diziam eles, do mesmo modo afirmavam que só sairiam do espaço com a certeza de que a FLICA não  realizaria a mesa marcada para as 20 h. Eles também insistiam que a FLICA precisava dialogar com vistas a incluir a comunidade no evento não apenas na função de segurança e para distribuição de folhetos, pois, a cidade de Cachoeira conta com intelectuais reconhecidos nacionalmente. A platéia branca, ou quase branca dizia, nós queremos democracia. Mas, existe democracia sem o direito da fala daqueles que se sentem subjugados?

 Chamaram a polícia? Dizia uma das pessoas do público. A polícia chegou?  Todos esperavam o reestabelecimento da “ordem”.  A polícia chegou, os estudantes diziam: “prendam ele, porque ele é racista! E racismo é crime!”.

No pleno exercício de democracia brasileira, o sistema de cotas demonstra que não existe cidadania plena sem o direito à diversidade, à participação e à fala daqueles que foram historicamente excluídos. O dia de hoje demonstra que a cidadania no Brasil precisa ser conquistada e exercida.

Parabéns aos nossos estudantes que tiveram a coragem e a iniciativa de se organizar em torno de mais um protesto púbico, político em busca da democracia inclusiva.

 

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