Denzel Washington brilha como Macbeth e está cotado para o Oscar

Enviado por / FontePor AFP, no Estado de Minas

Astro diz que diversidade racial e o elenco negro não deveriam ser considerados algo "especial'" nesta releitura de Joel Coen para o clássico de Shakespeare

“Na minha humilde opinião, deveríamos chegar a um ponto em que a diversidade nem sequer tenha de ser destacada como algo especial”

Denzel Washington, ator sobre o elenco negro do novo filme

Nos quatro séculos que passaram desde que Shakespeare escreveu sua peça escocesa, nunca houve um Macbeth como Denzel Washington.

Duas vezes ganhador do Oscar, ele é frequentemente considerado o grande ator de sua geração e já recebeu todos os elogios por seu novo trabalho, “A tragédia de Macbeth”, filme disponível na plataforma de streaming Apple TV+.

Denzel Washington está entre os cinco indicados ao prêmio SAG, concedido pelo sindicato dos intérpretes americanos e termômetro para o Oscar, que será entregue em 27 de fevereiro. Também entrou na lista do Globo de Ouro, mas o troféu foi para Will Smith (“King Richard: Criando campeãs”)

CASAL DE TERCEIRA IDADE 

Washington tem 67 anos e sua Lady Macbeth é interpretada pela atriz Frances McDormand, de 64, o que significa que o casal implacável dificilmente poderia gerar um herdeiro para seu reinado.

“Eles estão cansados e são mais velhos”, diz o ator, explicando que a passagem do tempo deu aos personagens motivação diferente, mas igualmente maléfica.

“Eles são como: ‘Olha, esta é a nossa chance. Eles nos devem”, comenta. “Tempos drásticos exigem medidas drásticas. E o relógio está correndo.”
Como Washington, que protagoniza duelos de espadas com vários adversários em muitos e exaustivos embates ao longo do filme, interpretaria esse papel 20 ou 30 anos atrás?

“Provavelmente, de forma mais física. E não cedendo à realidade de como os meus joelhos estão neste ponto da minha vida!”, responde.

Além da questão etária, Washington é negro, assim como o ator Corey Hawkins, de 33, que interpreta seu inimigo e eventual vencedor Macduff.
Esse detalhe, embora seja anacronismo histórico para a Escócia do século 11, está longe de ser novidade. Em 1936, Orson Welles dirigiu uma versão de “Macbeth” com elenco negro.

“Obviamente, somos diferentes e acredito que isso é bom”, afirma Washington. “Na minha humilde opinião, deveríamos chegar a um ponto em que a diversidade nem sequer tenha de ser destacada como algo especial”, defende.

“Não posso mudar esta pele ou este cabelo. Mas o que posso fazer é ser ótimo em algo que as pessoas podem não estar esperando. Não estávamos pensando em preto e branco”, acrescenta Corey Hawkins.

(Foto: Michael Buckner for Variety)

ELEGÂNCIA EM PRETO E BRANCO

Ironicamente, o filme foi rodado em preto e branco, no formato padrão (4:3), com decorações minimalistas e elegantes que remontam aos primórdios de Hollywood.

“Macbeth” já ganhou versões em diversos formatos de cineastas de renome como Orson Welles, Akira Kurosawa e Roman Polanski. Denzel Washington afirma não ter visto as versões anteriores e conta ter preferido não assisti-las depois que o diretor Joel Coen escolheu o elenco de seu filme.

“Não queria ver alguém e me perguntar:

como diabos vou fazer melhor do que isso? Não queria que (essa preocupação) influenciasse o que eu estava fazendo. Então, interpretei este papel com um olhar fresco e com imaginação”, explicou.

Corey Hawkins, ator

como diabos vou fazer melhor do que isso? Não queria que (essa preocupação) influenciasse o que eu estava fazendo. Então, interpretei este papel com um olhar fresco e com imaginação”, explicou.

Porém, o ator americano tem tradição em se tratando de Shakespeare. Protagonizou na Broadway uma versão de “Júlio César”, além de participar de “Muito barulho por nada”, sob o comando de Kenneth Branagh.

Corey Hawkins, por sua vez, conta que espera ver Washington, ele e outros atores negros do elenco, incluindo Olivia, filha de Washington, servindo de inspiração para que mais jovens de minorias atuem em obras de Shakespeare.

“Sim, os negros amam Shakespeare. Nós provavelmente amamos Shakespeare sem saber que amamos Shakespeare, porque há tantas referências dele em obras culturais e nas músicas de que gostamos”, comentou.

“É uma honra poder fazer isso e estar lado a lado com esses atores, esses atores negros. Porque temos tanta propriedade (para esses papéis) como qualquer outra pessoa”, concluiu o jovem intérprete de Macduff. (AFP)

“A TRAGÉDIA DE MACBETH”

Filme de Joel Coen. Com Denzel Washington, Frances McDormand, Corey Hawkins, Olivia Washington, Kathryn Hunter e Moses Ingram, entre outros. Disponível na plataforma Apple TV .

+ sobre o tema

Sambista Leci Brandão ganha homenagem por seus 70 anos

A sambista Leci Brandão, cantora e compositora de alguns...

Fabrício Boliveira, Paulo Lins e Daiane Rosário abrem programação da Mostra Mahomed Bamba

A Mostra Itinerante de Cinemas Negros Mahomed Bamba realiza...

Stevie Wonder e Meryl Streep ganham medalha da Liberdade nos EUA

O presidente Barack Obama concedeu nesta segunda-feira (10) a...

Com Telas Pretas, Vivo promove a maior exposição digital de arte negra do país

No mês da Consciência Negra, a Vivo lança a...

para lembrar

A hora da reação nacional contra um Estado genocida

As conclusões do jurista Luiz Flávio Gomes são da...

Encontro discute a força da mulher negra quilombola, em Moju, no Pará

VII Encontro da Mulher Negra Quilombola será dias 12,...

Adriano Diogo: Pena de morte para jovens negros e pobres já está em vigor

por Conceição Lemes O deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP) é...

A banalidade do extermínio

por ATILA ROQUE PEDRO ABRAMOVAY É difícil entender como os...
spot_imgspot_img

“Ó Paí, Ó 2” segue em primeiro lugar nos complexos de Salvador e alcança um público de 120 mil pessoas em todo o país

"Ó Paí, Ó 2" estreou em todo o país no dia 23 de novembro e segue, por dois finais de semanas consecutivos, sendo a maior...

Profissionais negros reinventam suas carreiras na TV e avaliam a importância da discussão racial

No Dia da Consciência Negra, o gshow conversou com artistas que compartilham a jornada que é ser um profissional preto na teledramaturgia. Entre eles, atores, atrizes e...

Ó, Paí Ó 2 avança em 15 anos os temas que atravessam a população negra brasileira

“Tenho sempre um frisson quando eu encontro as atrizes e os atores do Bando de Teatro Olodum, porque são de verdade meus primeiros ídolos....
-+=