Desigualdade climática: estudo aponta que população mais pobre sofre consequências maiores por causa do calor

Enviado por / FonteG1, por TV TEM

Cerca de 30 mil habitantes de Sorocaba (SP) vivem nas favelas da cidade e, segundo a pesquisa da Organização das Nações Unidas e do Greenpeace, essa população mais vulnerável sofre muito mais com o calor. Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comenta sobre os impactos gerados.


A desigualdade social dificulta o acesso das pessoas à direitos básicos e, além disso, também afeta diretamente a maneira que cada grupo social sente as mudanças de temperatura. Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Greenpeace mostram que, na verdade, é como se o calor não fosse o mesmo para todo mundo.

O estudo, desenvolvido pela empresa internacional “Climate Trends”, levou em consideração a insegurança alimentar perante ao aumento do valor de produtos alimentícios, enchentes, seca extrema e problemas de saúde causados pelas altas temperaturas.

De acordo com Drika Martin, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) de Sorocaba (SP) e região, a desigualdade social determina o nível de sofrimento de cada grupo de pessoas submetido ao calor.

“As pessoas que residem nas áreas de favelas e comunidades têm sete vezes mais chances de morrer por causa das mudanças climáticas. Elas podem morrer por falta de acesso à água, por falta de áreas verdes, por dificuldade em tempo de chuva e tempo de vento. Então, de fato, precisa de um olhar específico mesmo pra essas famílias, que lutam diariamente pra sobreviver”, explica.

Desigualdade climática afeta populações mais vulneráveis em Sorocaba (SP) — Foto: TV TEM

É o caso de Maria do Rosário de Lima, que vive com seu marido, neta e mais dois filhos na favela Santa Rosa, localizada na Zona Norte de Sorocaba. A região ainda é identificada como uma das mais quentes da cidade, segundo os estudos da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

A residência da família não tem janelas no quarto, sala e cozinha, e o único meio de ventilação disponível é pelas portas abertas.

“Quando está muito calor, a pressão dele [marido] sobe e ele fica com tontura e moleza no corpo. A única maneira de parar isso é ele correr para se molhar. Tem dias que ele deita no corredor, no cimento; eu abro a porta dos fundos e ele fica tomando vento de lá, porque o calor a gente não aguenta”, explica Maria sobre seu marido.

Atualmente, cerca de 30 mil pessoas vivem nas favelas da cidade, segundo Central Única das Favelas. Como consequência das mudanças climáticas e a desigualdade, esses habitantes sofrem diariamente não só com as temperaturas altas, mas também com a falta de água, saneamento básico, energia elétrica e moradias adequadas.

A maior parte da população que vive em condições precária é negra, de acordo com o pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Vidal Mota. Diante disso, o profissional destaca a existência do “racismo ambiental”.

“Estamos falando de pessoas que vivem em moradias que não são adequadas, baixas, muito pequenas, que não têm ventilação ou que ainda não têm acesso adequado ao saneamento básico. A falta de água é algo que impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas, coloca o corpo em risco. Essas pessoas estão expostas à essas situações de mudança climática, e isso tinha que ser situado como manifestação do racismo ambiental na nossa cidade”, diz.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destaca que são necessários planos de moradia que não estejam localizadas em áreas altamente vulneráveis. Ela ainda ressalta que, quando acontecem eventos climáticos extremos, os mais prejudicados são os pobres, as mulheres e a população preta.

“Se tivesse sido feito o dever de casa, como estava previsto, que foi decidido em relação ao clima, biodiversidade e diversificação, nós não estávamos passando por tudo isso agora. Nós já estamos vivendo aquilo que eu chamo de pedagogia do luto, pedagogia da dor, a dor de perder o empreendimento, o luto de perder o ente querido. É um sofrimento que tem que nos ensinar”, diz.

“Eu costumo dizer que essa agenda da mudança do clima, ela é uma agenda que tem de integrar todos os esforços. Saúde e clima não tem como resolver sozinho. Todos os países têm que estar juntos. Os estados nacionais, prefeituras, governos estaduais e governo federal têm que caminhar juntos. Já temos um pacto com os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) pela transformação ecológica do Brasil, e, cada vez mais, a sociedade tem que cobrar das empresas, políticos, que façam investimentos da forma correta”, finaliza.

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