Divulgação Científica: Brasileiros não reconhecem sua identidade racial

Tese de doutorado da UnB revela que a população tem dificuldade em aceitar sua etnia

Estudo realizado no Departamento de Linguística da Universidade de Brasília (UnB) constatou que os brasileiros têm dificuldade em se assumir negros e pardos e em identificar outras pessoas etnicamente. O discurso de respeito às diferenças e harmonia no país escondem, na verdade, racismo e preconceitos que têm origem no tempo da escravidão. Essa é a conclusão da pesquisadora Francisca Cordélia Oliveira da Silva, que defendeu a tese de doutorado em agosto. “Falta convicção. Os brasileiros têm muitas dúvidas a respeito de raça, etnia e cor, porque estamos em um país miscigenado. Essas dúvidas geram preconceito racial”, explica.

 

Durante três anos e meio, Francisca Cordélia analisou notícias, leis e realizou uma enquete para embasar a tese de doutorado. As matérias selecionadas dos jornais on line Folha, Mundo Negro e Folha de S. Paulo continham entrevistas de pessoas que passaram por constrangimentos raciais. Nelas, a pesquisadora aplicou a análise do discurso e avaliou a linguagem, os termos, o vocabulário, a força das palavras usadas e a forma como os textos foram construídos.

 

Também foram estudados dois textos legais que colocam o racismo como contravenção e a lei número 7.716, que torna crime atos resultantes de preconceitos de raça ou cor. Com esses dados, a pesquisadora elaborou enquete que perguntada às pessoas como elas se classificam quando à etnia, cor e raça.

 

DÚVIDAS – Durante a aplicação da enquete, duas situações chamaram a atenção da pesquisadora: que as pessoas tinham dúvidas para responder e que algumas tentavam devolver a resposta de modo que ela não visse. “Eles sempre questionavam como eu os classificava, se negros ou pardos e, mesmo que as respostas fossem anônimas, faziam questão de colocar o papel entre os de outros entrevistados”, conta Cordélia.

 

Ela sustenta que não há harmonia racial no Brasil. “O Brasil é, sim, um país racista. O que falta é conscientizar as pessoas para evitar a proliferação de atos mascarados por discursos”, diz. Um funcionário da UnB que prefere não se identificar concorda que existe essa confusão de identidades. Pardo, 49 anos, 1,70 metro de altura, há alguns meses passou por constrangimento público em um banco enquanto ajudava o irmão a solucionar um problema. “Conversávamos com o caixa, quando chegaram dois policiais e me algemaram sem motivos. Só me soltaram porque insisti em dizer que não sabia o que estava acontecendo e eles não tiveram argumento para manter a prisão”, contou.

 

O estudante Tauã Santos Pereira, do 4º semestre de Biologia, presenciou uma senhora negra ser agredida moralmente por uma mulher mais jovem em um supermercado. A senhora estava na fila do caixa preferencial e a moça disse a ela que, por ser negra, não tinha preferência em nada. As duas discutiram e o gerente do mercado e a polícia foram chamados. “Se o país investisse em educação para ensinar valores, atitudes como essa poderiam ser banidas e não precisaríamos assistir a esse tipo de situação”, comenta Tauã.

+ sobre o tema

para lembrar

Texto exemplar da Juíza Federal Raquel Domingues do Amaral

"Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens? no...

As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas

As afirmações listadas abaixo foram extraídas da vida real....

Frequência afetiva, qual é a sua?

Dias desses mandei um inbox parabenizando uma amiga querida...

Política: O que é ser esquerda, direita, liberal e conservador?

Nas eleições presidenciais e estaduais de 2014, o Brasil...

Transição energética não pode repetir injustiças históricas

Cá entre nós, no Brasil, o modelo de desenvolvimento não apenas produz desigualdades sociais e raciais — ele depende delas para funcionar. A injustiça...

Meninas mães passam de 14 mil e só 1,1% tiveram acesso a aborto legal

Quase 14 mil meninas de 10 a 14 anos de idade tiveram filhos no Brasil em 2023, e apenas 154 tiveram acesso ao aborto...

5 fatos que marcaram a atuação política de Pepe Mujica na presidência do Uruguai 

Pepe Mujica viveu até os 89 anos de idade e marcou a política latino-americana com suas ações em prol de causas populares e em...