Doações de Mackenzie Scott fortalecem sociedade civil brasileira

Enviado por / FonteDo GIFE

A empresária e filantropa americana Mackenzie Scott publicizou, recentemente, a doação de US$ 3,86 bilhões para 465 organizações sociais e diversos países, entre eles, o Brasil. No total, 15 instituições brasileiras foram selecionadas e serão beneficiadas com os aportes financeiros. 

Ao fazer o comunicado, Mackenzie escreveu em seu blog: “Quando nossa equipe de doadores se concentra em qualquer sistema em que as pessoas estão lutando, não presumimos que nós, ou qualquer outro grupo, possamos saber como corrigi-lo. Não defendemos políticas ou reformas específicas. Em vez disso, buscamos um portfólio de organizações que apoie a capacidade de todas as pessoas participarem das soluções.”

As organizações apoiadas no Brasil pela filantropa, dona de uma fortuna de aproximadamente US$ 55 bilhões, são: Gerando FalcõesInstituto Sou da PazBrazil FoundationInstituto DaraFundo Elas+Fundo BaobáFundo Brasil de Direitos HumanosConectasInstituto Rodrigo MendesFundo Casa SocioambientalRede NossasPolitizeProjeto Saúde e AlegriaVetor Brasil e Redes da Maré

Gênero e protagonismo feminino

Tido como o único fundo brasileiro de investimento social voltado exclusivamente para a promoção do protagonismo das mulheres, o Elas+ acredita que investir em mulheres é o caminho mais rápido para o desenvolvimento de um país.

“Às vezes na vida as palavras são insuficientes para agradecer, e este é o caso. É maravilhoso como esta filantropa visionária percebeu a importância de ter plena confiança nas estratégias e no trabalho de organizações diversas da sociedade civil”, declara Amalia Fischer, co-fundadora e coordenadora geral do Elas+.

Para Amalia, a doação fortalece ainda mais a área institucional do fundo, dando liberdade para investir em novas estratégias,  aprimorar processos de grantmaking, da capacidade de desenvolvimento interno, de comunicação e atualização digital.

“Dessa doação se forma uma rede de transformações, porque quando se fortalece o Elas+, as organizações que apoiamos conseguem buscar mais formas de sustentabilidade, terem mais recursos materiais e imateriais  para  transformar a vida das pessoas, a consecução de direitos nas suas comunidades e territórios, maior participação cidadã e inovação, ampliação da filantropia local e comunitária”, acrescenta.

Equidade racial

A contribuição financeira de Mackenzie fortalece o trabalho de organizações da sociedade civil atuantes na área de educação, saúde, desenvolvimento urbano, ambiental, mulheres e equidade racial, pauta trabalhada pelo Baobá. O fundo se apresenta como o primeiro e único dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. 

“A doação representa ainda mais solidificação em nosso propósito de contribuir para o enfrentamento ao racismo, promovendo justiça  e equidade racial para a população negra, além de se transformar em referência ao enfrentamento do racismo no Brasil como um fundo de justiça social”, comenta Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá. 

Ao longo de sua trajetória, o Baobá investiu, entre 2014 e 2021, cerca de R$ 15 milhões em 833 iniciativas voltadas para a população negra, incluindo apoio emergencial no contexto da pandemia da Covid-19. Segundo a organização, todo esse aporte impactou cerca de meio milhão de pessoas em todo o território nacional.  

Por isso que Giovanni acredita que o apoio a projetos e ao institucional estão conectados e, ambos, representam o fortalecimento da democracia e das instituições. 

“Tratando especificamente sobre o Fundo Baobá, na medida em que criamos editais que, por exemplo, apoiam o acesso à educação; incentivam o empreendedorismo em  seus vários segmentos; auxiliam na ajuda humanitária a populações em situação de vulnerabilidade; promovam a manutenção da cultura e autoestima de povos históricos, como os quilombolas; estaremos promovendo a democracia e os seus ideais, como política igualitária, soberania para os níveis sociais mais baixos e ações e/ou políticas sociais que garantam a igualdade e a soberania”, frisa o diretor executivo. 

Em sintonia com Giovanni, a coordenadora geral do Elas+ declara que o apoio financeiro institucional fortalece não apenas a organização que recebe o recurso, mas a sociedade em geral e a democracia, porque para o bom funcionamento desta não basta unicamente ter três poderes separados, eleições, voto e partidos políticos. 

“É necessário que existam movimentos sociais diversos, organizações da sociedade civil fortes para que a participação cidadã seja ampla e  plural. Todo este conjunto de atores e atrizes fazem com que a democracia funcione e se fortaleça. São os e as cidadãs nos movimentos sociais, nos seus territórios, comunidades, bairros, municípios, estados que sabem o que se precisa para transformar a sociedade, para transformar o Brasil num país mais justo, respeitoso de todas as diferenças, da multiplicidade étnico-racial, sexual, de identidades, culturais, da pluralidade de ideias, religiões e política, com maior igualdade, trabalho digno, acesso a empregos, educação e saúde de qualidade”, pondera. 

ISP e fortalecimento institucional

Censo GIFE 2020 aponta para um elevado crescimento do investimento social privado (ISP) no fortalecimento da sociedade civil, que agora está em 63%. A defesa de direitos, cultura de paz e democracia caiu um ponto, mas ainda continua em um bom patamar, que detém 48% do olhar do ISP. São categorias que mostram que a preocupação da Mackenzie Scott em apoiar institucionalmente uma organização também está presente entre os investidores nacionais.

No último Censo, dentre os públicos analisados na categoria raça, origem e comunidades tradicionais, pessoas negras formam o grupo no qual mais investidores sociais focaram em suas iniciativas, sendo prioritário para 3% dos respondentes. 

Contudo, a publicação mostra que a promoção da diversidade e equidade racial ainda é objeto direto de poucas iniciativas. Dos 1.015 projetos levantados, a maior parte não tem relação, direta ou transversal, com os temas de diversidade e equidade mapeados (entre 55% e 65%): racial, mulheres, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. 

O apoio a pautas como mulheres e equidade racial ainda tem um longo caminho a percorrer, com um grande potencial de expansão, em um país de maioria negra e do sexo feminino.

“Evidentemente que ter o olhar internacional ajuda muito na busca de soluções para a temática racial. Da mesma forma que questões raciais que ocorrem lá fora repercutem no Brasil, os fatos que ocorrem aqui reverberam  no exterior e atraem a atenção dos mais diferentes agentes divulgadores dessas questões, provocadores de debates e manifestações que podem mudar um estado de coisas negativas para um estado de ações positivas”, sustenta Giovanni.

No Fundo Elas+, a maioria das organizações apoiadas ao longo dos seus 21 anos de existência são as que atuam com mulheres negras. “Se existe racismo estrutural, não existe democracia para pessoas negras. O fato da existência do racismo já indica que alguém está sendo privilegiado, e como falava a filósofa ítalo-mexicana Francesca Gargallo em seu livro, Feminismos desde Abya Yala, ‘onde há privilégio, algum direito está sendo negado’”, frisa Amalia.  

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