Domésticas investem no estudo em busca de novas oportunidades
Uma pesquisa do IBGE mostra que diminuiu bastante o desemprego para as domésticas, mas, ao mesmo tempo, falta esse tipo de profissional no mercado.
As empregadas domésticas estão em busca de um futuro melhor. Elas estão investindo no estudo e procurando novas oportunidades de trabalho.
A doméstica Tatiana dos Santos tem 27 anos. “Eu trabalho como diarista. Tem dias que eu faço duas diárias. Vou para uma casa, depois saio e vou para outra e depois corro para a faculdade”, conta Tatiana. E não para por aí. Ela também é mãe de dois filhos e ainda arrumou um tempinho sabe para quê? “Faço estágio às sextas-feiras o dia todo e faço estágio aos domingos a noite toda. Estou investindo pesado na profissão, porque eu quero realmente me preparar mesmo”, diz.
A doméstica Fabiana Melo sempre trabalhou como empregada doméstica. Agora ela reveza a faxina com os livros. Faz faculdade de Ciências Contábeis. “O salário de empregada doméstica não é um salário ruim. Geralmente é um salário bom, mas eu não queria parar só aí. Minha patroa fez uma proposta de aumento de salário. Expliquei que queria voltar a estudar. Aí ela falou assim: Fica comigo mais dois anos e eu aumento. Eu estudo à distância, dou meu jeito”, comenta.
Uma pesquisa do IBGE mostra que diminuiu bastante o desemprego para as domésticas, mas, ao mesmo tempo, falta esse tipo de profissional no mercado.
“A ascensão das classes populares mostrou para uma grande massa da população brasileira que agora é possível. Depende de você. Nós temos um quadro socioeconômico que está favorecendo mais o trânsito entre as classes sociais”, explica o antropólogo Fábio Mariano Borges.
“Eu quero melhorar, eu quero crescer. Não quero ficar minha vida toda assim cuidando da casa das pessoas. Eu quero cuidar da minha vida profissional”, acrescenta Fabiana Melo.
Essa mudança no perfil das empregadas domésticas, não é apenas uma mudança no mercado de trabalho. É uma mudança no perfil da mulher brasileira. “As mulheres brasileiras estão mais escolarizadas, estão estudando bem mais, muito mais do que os homens. Consequentemente, elas estão mais preparadas para o mercado de trabalho e muito mais competitivas”, destaca o antropólogo.
“Eu decidi fazer administração, porque acho que está no meu sangue administrar”, afirma Joseleuda Ferreira, que também começou como doméstica. Hoje ela tem 29 anos, já fez um curso técnico e faz cursinho pré-vestibular para entrar em uma faculdade de Administração. “Eu vim do Nordeste com o 5º ano. Eu não tinha opção, fui trabalhar como doméstica”, lembra.
“Elas estão, na verdade, entrando no serviço doméstico, trabalhando como doméstica, mas como uma passagem. O interesse, na verdade, é de seguir uma carreira em alguma empresa”, avalia o antropólogo Fábio Mariano Borges.
“Quero fazer licenciatura para eu poder estar dando aula. Quero fazer isso: dar aula de Português”, afirma a doméstica Rozane Carvalho.
O sonho sempre foi ter uma carteira de trabalho assinada. “De quase de sete milhões de trabalhadores domésticos, dois milhões são diaristas. Ao todo, 5,2 milhões são empregadas domésticas, mas somente dois milhões tem carteira assinada”, calcula Mário Avelino, presidente da ONG Doméstica Legal.
“Eu acredito que, entre 7 e 10 anos, este perfil já vai estar um pouco mais consolidado e vai ser bem difícil e bem raro a gente conseguir uma doméstica”, observa o antropólogo Fábio Mariano Borges.
“Eu acho que doméstica só vai ficar na lembrança na minha carteira de trabalho”, diz a doméstica Fabiana Melo.
“A doméstica de hoje, em uma casa, pode ser a líder de uma empresa amanhã”, prevê o antropólogo.
“Não penso em só terminar a graduação. Eu penso em fazer pós, eu penso em fazer mestrado. Não penso em parar. Ninguém me segura mais”, brinca Fabiana.
“Eu me vejo em uma empresa grande, trabalhando como uma grande administradora”, diz Joseleuda Ferreira.
“É uma emoção de você ver que você pode. Apesar de tudo, é possível”, afirma Rozane Carvalho.
Fonte: Jornal de Floripa