A cantora Dona Ivone Lara morreu na noite desta segunda-feira (16), no Rio de Janeiro, por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória. Ela estava internada desde sexta-feira (13), data em que completou 96 anos, no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, na Zona Sul da cidade.
Dona Ivone Lara já vinha apresentando um quadro de anemia e precisou receber doações de sangue. O estado de saúde dela já era considerado bastante grave. No hospital, a família comentou a morte da sambista.
“Ela estava sempre procurando um caderninho pra escrever uma música, estava sempre cantarolando pro neto. Até a última semana ela estava super bem, com a cabeça ótima. Ela estava muito fraquinha, mas a cabeça estava ótima”, contou a nora Eliana Lara Martins da Costa
O filho, Alfredo Lara da Costa, destacou a mulher forte e guerreira que ela foi, sempre pensando em música. “Vai deixar muita saudade, mas sinto muito orgulho do legado que ela deixa”, disse.
O corpo de Dona Ivove Lara será velado nesta terça (17) na quadra da escola de samba Império Serrano.
Segundo o colunista Mauro Ferreira, Dona Ivone Lara morreu aos 96 anos e não aos 97 anos, como informam quase todas as fontes, pois nasceu em 1922, não em 1921. A data de 1921 foi forjada pela mãe da artista em 1932 para que ela pudesse ser admitida em colégio interno, cuja idade mínima para o ingresso era 11 anos.
O ano de 1921 passou a constar até nos documentos de Ivone, mas ela nasceu de fato em 13 de abril de 1922. Essa questão já foi esclarecida na biografia de Ivone.
Conhecida como a “Grande Dama do Samba”, ela nasceu em família de amantes da música popular e enfrentou o preconceito por ser mulher e sambista. Seu maior sucesso é “Sonho meu”, música que estourou nas paradas de sucesso com Maria Bethânia e Gal Costa.
A vida de Dona Ivone Lara
Dona Ivone Lara nasceu em 13 de abril de 1921, na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e José da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais Seu José também se apresentava.
Formada em Enfermagem e Serviço Social, com especialização em Terapia Ocupacional, Ivone Lara foi uma profissional na área até se aposentar em 1977.
Com a morte do pai aos 3 anos, e da mãe aos 12, ela foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do marido dela, o maestro Villa-Lobos.
Casou-se aos 25 anos com Oscar Costa, filho de Afredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.
Entre outros sucessos, a sambista também compôs o samba “nasci para sofrer”, que se tornou o hino da escola.
Império Serrano
Com a fundação do Império Serrano, em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Dona Ivone Lara também compôs o samba “Não me perguntes”, mas a consagração veio em 1965, com “Os cinco bailes da história do Rio”, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de escola de samba.
Em 1975, depois de seu filho Odir sofrer um acidente de carro, seu marido Oscar teve um enfarte e morreu.
Aposentada em 1977, passou a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de Castro, Roberta Sá, Marisa Monte e Dorina.
‘Dona’
Não basta chamá-la apenas de Ivone Lara: o respeito e a admiração que impôs a MPB o transformaram em Dona Ivone Lara.
A sambista também teve trabalhos como atriz, fazendo filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do programa Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Em 2008, Dona Ivone interpretou a canção “Mas quem disse que eu te esqueço” no projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano seguinte, numa coletânea com as melhores performances do projeto.
Em 2008, ela perde o filho Odir, vítima de complicações decorrentes da diabetes.
Homenagens
No ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no Grupo de Acesso, com o enredo “Dona Ivone Lara: o enredo do meu samba”.
Em 2010, foi a homenageada na 21ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em 2014, foi a homenageada na 19ª edição do Trem do Samba em dezembro de 2014. Um mês antes, Dona Ivone participou do primeiro dia de gravações do “Sambabook” em homenagem à sua carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan fizeram versões de suas canções, enquanto a própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto André.
Em 2015, entrou para a lista 10 Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio.
Dona Ivone Lara foi a maior compositora do samba e da música brasileira. Nenhuma outra mulher teve tantas vozes cantando suas músicas ou gravadas como ela.
Entre seus principais sambas estão: “Alguém me avisou”; “Acreditar”; “Tendência” Mas quem disse que eu te esqueço”, “Samba”, “Minha raiz”; “Sorriso de criança”; “Sorriso negro”; “Sonho meu” e “Minha verdade”.