Drama de nigerina ‘presa’ no Rio após roubo de documentos chega ao fim

A nigerina Hadijatou Aboubacar Anadou e sua amiga brasileira Élida Heiderick

O drama da nigerina delegada da Rio+20 que não conseguia embarcar de volta ao seu país depois de ter seus documentos roubados está perto do fim.

O documento que Hadijatou Aboubacar Anadou aguardava, enviado pela Embaixada do Níger nos Estados Unidos, chegou na noite passada e ela tem um voo marcado para as 14h45 desta terça-feira.

A via-crúcis de Hadijatou começou no último dia 23, quando ela teve seu passaporte, dinheiro e cartões de crédito furtados com sua bolsa em um shopping na zona sul.

Desde então, ela tentou embarcar três vezes no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim apresentando documentos diferentes – a cópia do passaporte, o boletim de ocorrência do furto e o fax um documento enviado pela Embaixada do Níger nos Estados Unidos – mas todos foram considerados insuficientes pela companhia aérea.

Casamento à espera
O Brasil não tem representação do Níger, o que deixou Hadijatou em uma lacuna diplomática após a Rio+20. Funcionária do Ministério da Educação em seu país, ela era parte da delegação de mais de 60 pessoas enviada para a Rio+20, onde participou de diversos eventos paralelos.

Agora, destaca com amargura ter sido “a única que restou” e diz que somente uma providência foi tomada por seu país: entrar em contato com a embaixada nos Estados Unidos para que a representação interviesse.

Ela tem um motivo a mais para aumentar a ansiedade: o casamento de sua filha está marcado para o próximo dia 14.
“Eu tenho que organizar tudo. Todos estão me esperando. Todos estão preocupados com a minha ausência”, diz ela, que continua fazendo apelos para que seu passaporte, caso encontrado, seja devolvido.

Aipim e manicure
Até a noite de segunda-feira, Hadijatou aguardava ansiosamente a chegada do documento emitido pela embaixada do Níger nos EUA, desta vez enviado pelo correio, e não fax, para que pudesse apresentar o original ao embarcar.

Entre crises de choro e conversas com a família por telefone, ela vinha sendo amparada pela família de Élida Heiderick, que acompanhou o seu drama desde o primeiro embarque frustrado.

A professora de inglês de 42 anos estava trabalhando no aeroporto durante a Rio+20, fazendo a recepção de estrangeiros, e começou a ajudar a nigerina depois de encontrá-la chorando no domingo.

Élida “adotou” Hadijatou e tomou a frente na batalha burocrática para seu solucionar o seu problema, cobrando providências de órgãos como o Itamaraty, a Secretaria Municipal de Assistência Social e o comitê organizador da Rio+20.

A professora abrigou a nigerina em sua casa na Penha, zona norte do Rio, onde mora com os dois filhos. A filha de 16 anos cedeu seu quarto e foi dormir com a mãe; o filho de 18 chega da escola e dá beijos e abraços na mais nova integrante da casa, ela conta.

“No início ficamos meio sem saber como agir, porque brasileiro gosta de tocar, abraçar… Mas depois vimos que ela também é muito carinhosa”, diz Élida.
Hadijatou, que é muçulmana, quis saber onde o sol nasce ao chegar para poder fazer suas preces diárias. Manteve sua tradição religiosa, mas viu muitas coisas novas.

Em uma semana na zona norte carioca, a nigerina fez as unhas pela primeira vez, em estilo “francesinha”, com esmalte cor de rosa igual ao escolhido por Élida; provou bolinho de aipim na barraca da esquina; foi à feira e provou melancia. Também ouviu funk pela primeira vez, com direito a demonstrações de como dançar com a mão no joelho, a cargo da filha de Élida.

Apesar do azar com o passaporte, a nigerina reconhece a sorte por ter sido adotada pela família. “Se todas as pessoas fossem como a Élida teríamos menos sofrimento no mundo”, diz.

“Eu continuo sentindo saudade do meu país, mas (depois de estar com a família de Élida) não sofri mais. Eu comi, bebi, conversei, conheci seus amigos. Não sei como expressar a felicidade que sinto por ter conhecido essas pessoas”, diz, comovida.

 

 

Fonte:  Correio do Brasil

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