‘É estarrecedor e inacreditável’, diz delegada que prendeu médico por estupro durante parto

O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, cometeu o crime enquanto uma grávida passava por cesárea. Enfermeiras e técnicas mulheres da equipe desconfiavam do comportamento dele e gravaram um dos procedimentos

A delegada Bárbara Lomba, à frente da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, e responsável pela prisão em flagrante do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, classificou o caso como “estarrecedor e inacreditável”, apesar da “experiência com condutas violentas”. A prisão por estupro de vulnerável aconteceu horas após cometer o crime contra uma paciente durante um parto no Hospital da Mulher de Vilar dos Teles, em São João de Meriti. Antes de ser detido, Bezerra já havia feito duas outras cirurgias no mesmo dia. A última, em que ele foi gravado, aconteceu às 16h. As únicas palavras de Bezerra foram: “Eu destratei alguém? Se sim, chama que eu peço desculpas”.

Funcionário da unidade há ao menos seis meses, o acusado passou a ser visto com desconfiança por outros profissionais após atitudes não condizentes, nos últimos dois meses, — como anestesia geral em uma cirurgia perinatal (nesse caso geralmente é feita apenas cirurgia local) e uso do capote de forma inabitual (aberto para frente). Foram enfermeiras e técnicas que o denunciaram após desconfiarem da atitude do médico. Ele foi detido no próprio hospital por agentes da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti.

Testemunhas contaram que só ontem o médico fez duas gestantes vítimas. Em uma das ações, o crime foi gravado.

A Polícia Civil acredita que Bezerra tenha feito ainda mais vítimas. Formado há cerca de cinco anos, o acusado era anestesista há três anos (período em que cursou a especialização, concluída há quatro meses) e, atualmente, trabalha em cerca de 10 unidades de saúde. Na Deam, ele se recusou a prestar depoimento, segundo a delegada Bárbara Lomba Bueno, titular da especializada.

— É de se destacar o profissionalismo da enfermagem e o papel exemplar desses funcionários do Hospital da Mulher. Eles são dignos de serem servidores públicos. Eles coletaram as provas. Fomos acionados pela direção do hospital, entrevistamos as pessoas e arrecadamos as provas — disse Bárbara Lomba, que completa:

— Ele foi preso em flagrante por estupro de vulnerável em flagrante. Demos a voz de prisão. Desde quando a direção do Hospital soube, ele foi separado e não fez mais cirurgias.

De acordo com a Polícia Civil, a equipe que trabalhou com Giovani notou que ele adotava um comportamento muito diferente dos outros médicos há cerca de dois meses.

— Ele dificultava a visão de outros médicos. Ele colocava um pano para que outros profissionais não vissem o rosto da vítima, justamente na região. Ele utilizava de sedação, o que não era comum nesse tipo de procedimento. Então, os profissionais notaram esse comportamento estranho que outros médicos não adotavam. Ontem, uma das integrantes da equipe, após uma cirurgia dar problema, ela teve que verificar o que aconteceu e viu ele de pênis ereto. Para não ficar numa situação de uma pessoa relatando, decidiram documentar o crime — disse a delegada.

Por enquanto, a polícia apura o estupro de vulnerável. Mas o crime poderá mudar.

— Aproveitando que a vítima não poderia se defender, ele comete o crime. A equipe suspeitava há quase dois meses e eles tentaram as provas. À medida que deu certo, e o médico tinha executado o crime novamente, a direção da unidade acionou a polícia — contou a delegada.

Bárbara Lomba disse que “foi estarrecedor ver aquela cena”:

— Eu tenho uma certa experiência com condutas violentas. Mas é estarrecedor e inacreditável. É gravíssimo um profissional que deveria estar cuidando do paciente, totalmente vulnerável num momento tão importante da vida, num Hospital da Mulher. Todos os profissionais sabem das violências que sofremos e ele faz esse crime hediondo. É repugnante — pontuou.

Para saber se outras mulheres foram vítimas do profissional, a Deam requisitou todos os prontuários de pacientes da unidade nos últimos meses. O objetivo é saber se outras gestantes foram vítimas do profissional.

— Queremos saber o que foi ministrado. É preciso que o hospital forneça esses documentos para sabermos o que ele aplicou nas vítimas, como foram e tal. Queremos ter ideia de outras possíveis vítimas — salientou a delegada.

Até agora, quatro pessoas já prestaram depoimento no inquérito: o médico anestesista, uma enfermeira e duas técnicas de enfermagem. Após ser preso, Giovanni disse que só prestaria depoimento em juízo.

Pouco depois das 11h15, o médico anestesista deixou a Deam de São João de Meriti, levado por agentes da Polinter. O especialista foi indagado por jornalistas sobre o motivo de ter cometido os crimes e se ele se arrependia. No entanto, Giovanni ficou em silêncio. O anestesista será encaminhado para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica.

O advogado Hugo Novais, que defende Giovanni, afirmou que “ainda não obteve acesso à íntegra dos depoimentos e elementos de provas que foram produzidos durante a lavratura do auto de prisão em flagrante”. Ainda de acordo com a defesa, “após ter acesso a sua integralidade, se manifestará sobre a acusação realizada em desfavor do anestesista”.

+ sobre o tema

STJ regride Lei Maria da Penha

Um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, entendeu que...

“Se a bandeirinha é bonitinha, que vá posar na Playboy”

A agressão verbal contra a auxiliar Fernanda Uliana prova...

para lembrar

Estupro: onde mora o perigo?

O perigo não mora ao lado mas, literalmente, dentro...

Risco de estupro triplica com mulheres bêbadas, diz pesquisa

Uma nova análise do Levantamento Nacional de Álcool e...

Vítima de ameaças virtuais de estupro procura mães de agressores

A australiana Alanah Pearce “stalkeou” perfis de garotos que haviam lhe...
spot_imgspot_img

Robinho chega à penitenciária de Tremembé (SP) para cumprir pena de 9 anos de prisão por estupro

Robson de Souza, o Robinho, foi transferido para a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (22). O ex-jogador foi...

‘Meu filho é órfão de mãe viva’: veja relatos de 5 mulheres acusadas de alienação parental após denunciar homens por violência ou abuso

Cristiane foi obrigada a ficar sem contato com a filha e entregá-la ao pai por 90 dias. Isabela* foi ameaçada pelo companheiro. Jéssica* e...

Exploração sexual infantil na internet bate recorde em 2023

As denúncias da presença de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet bateram recorde em 2023 – resultado é o maior da...
-+=