“E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher”

Enviado por / FonteEnviado ao Portal Geledés

Cobertas por barro, artistas do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul atuam em performance com duração de quatro horas, o tempo que os pingos de água levam para remover a lama

Soterradas há séculos pelo “barro pelo qual o homem foi criado”, a performance discute o silenciamento, além da invisibilidade e violência relacionadas às mulheres

“E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher” tem concepção de Eliana Monteiro e reunirá artistas, durante 14 dias, em atuações que representam o silenciamento da mulher; o público poderá acompanhar pelo canal do YouTube “Mulheres em Quarentena” (youtube.com/mulheresemquarentena).

Para discutir as relações de invisibilidade, de sobrecarga e de desigualdade de poder femininas – agora em tons mais fortes por causa da pandemia – a diretora Eliana Monteiro, concebeu a performance “E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher”. Depois de reunir artistas de São Paulo, Paraíba e Manaus, participam desta vez mulheres do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal. A ação acontece de 05 a 18 de novembro de 2021, com transmissão pelo youtube.com/mulheresemquarentena.

Esse projeto tem concepção de Eliana Monteiro e dramaturgia de Lucienne Guedes. Desta vez participam Mariana Hörlle, Elena Trindade e Fernanda Fiuza, do Rio Grande do Sul; e Pietra Sousa, Joy Ballard, Gleide Firmino e Micheli Santini, do Distrito Federal.

O projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc (Lei 14.017/2020), por meio do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Prefeitura Municipal de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Cultura.

E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher” traz performers de variadas idades, regiões, etnias e condições sociais, a partir de suas próprias casas, com as cabeças cobertas por argila, recebendo pingos de água constantes, fazendo com que essa “máscara” se desmanche durante a performance, que dura quatro horas.

Nesta etapa do projeto, as artistas do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul se revezam durante os 14 dias da performance, em turnos de quatro horas. A ação é acompanhada pelo som de uma espécie de rádio especialmente criada para o projeto, com matérias, artigos, áreas de óperas cujas personagens femininas morrem no final, poemas e spoken word, notícias e outros materiais sonoros que tratarão do mesmo tema, oferecendo um panorama histórico amplo do silêncio imposto e da violência cometida contra as mulheres.

Ao final das quatro horas de cada artista, já com a argila desmanchada, as performers começam a falar, individualmente, sobre vários assuntos que foram calados em suas vidas pessoais e também de pessoas próximas e conhecidas, desmanchando o barro de seus rostos.

A performance traz à tona uma resposta ao silêncio imposto às mulheres, seja no âmbito público e regulamentado ou mesmo nos ambientes mais privados como os das relações familiares. Houve um aumento considerável nos casos de violência doméstica e abuso sexual nos últimos meses, revelando que para muitas mulheres o perigo está dentro de suas próprias casas.

Segundo Eliana, o objetivo da performance é “construir paisagens onde possamos compartilhar sentimentos através da arte de maneira performática. A arte em todas as suas formas amplifica o ativismo e facilita a transmissão de mensagens e informações importantes, o que pode compensar a falta ou manipulação de narrativas oficiais. Nesse momento onde os espaços cívicos diminuíram, a arte pode oferecer um local para que as artistas ampliem seus movimentos e apoiem seus trabalhos. Os espaços imaginativos que a arte oferece podem ultrapassar as barreiras tradicionais que os governos podem erguer na tentativa de impedir o ativismo da sociedade civil”.

A primeira etapa do projeto aconteceu em dezembro de 2020, durante a Virada Cultural da cidade de São Paulo, com artistas paulistas, paraibanas e amazonenses. “E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher” integra o “Mulheres em Quarentena” é um canal no YouTube, mantido pela diretora Eliana Monteiro e por Bruna Lessa, que exibe o resultado das pesquisas sobre a mulher nesse período pandêmico e de extrema sobrecarga às mulheres.

A atriz Gleide Firmino do Distrito Federal (Foto: Divulgação)

Saindo do Soterramento

Durante a pandemia – e o consequente isolamento social – todos fomos colocados em estado de “suspensão social”, o que trouxe transformações domésticas e profissionais. Parcelas da população, já vulneráveis, ficaram ainda mais expostas. As restrições atingiram ainda mais as mulheres, responsáveis quase que em sua totalidade pelos cuidados da casa e dos familiares, e, muitas vezes também, pelo provento financeiro do lar.

ELIANA MONTEIRO

Mestranda em artes cênicas na ECA – USP. Formada em artes cênicas pela Universidade São Judas, em interpretação pela Escola Superior de Teatro Célia Helena, e em direção pela Escola Livre de Santo André. Encenadora e orientadora artístico-pedagógica de escolas e grupos de teatro. Integra o grupo Teatro da Vertigem desde 1998.

FICHA TÉCNICA DO PROJETO

Direção: Eliana Monteiro

Dramaturgia: Lucienne Guedes

Produção: Iza Miceli

Produção Executiva: Leonardo Monteiro

Distrito Federal

Performers: Pietra Sousa, Gleide Firmino e Micheli Santini

Videomaker: Joy Ballard

Rio Grande do Sul

Atrizes: Mariana Hörlle, Elena Trindade e Fernanda Fiuza.

Filmagem e edição: Izza Balbinot

Produção: Lu Tondo

Assistência de Produção: Vanessa Fiuza

SERVIÇO

E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher

De 05 a 18 de novembro de 2021

https://youtube.com/mulheresemquarentena

Grátis

Cada performer fica 4 horas com a obra sendo exibida, que é o tempo de duração do barro fluir pelo seu corpo. Ao final das 24 horas, todas as 6 performers se apresentaram e começa uma nova sessão.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...