‘É preciso ajudar as pessoas a não praticarem mais esse tipo de violência’

Por: Isabella Sander

A visita a Porto Alegre da ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), ontem, foi sua primeira ao Estado desde a ocorrência de atos racistas durante uma partida entre Grêmio e Santos, no dia 28 de agosto. A ministra, que veio à Capital para participar do ato político “Para seguir avançando nas políticas de Promoção da Igualdade Racial”, concedeu entrevista ao Jornal do Comércio a respeito do assunto, garantindo que a pasta está dialogando com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre a situação.

Jornal do Comércio – Qual a sua opinião a respeito do caso envolvendo atos de racismo no jogo entre Grêmio e Santos, direcionados ao goleiro Aranha, do time paulista?

Luiza Bairros – Esses casos de racismo no futebol vêm se repetindo em vários cantos do Brasil. Houve uma espécie de ‘parênteses’ durante a Copa do Mundo e nos surpreendeu essa retomada tão forte de casos como esse do Aranha. Procuramos conversar com a CBF, para que possamos ter medidas mais permanentes para preveni-los e não precisar agir depois que cada caso que acontece. Acho que há condições de, junto com as entidades esportivas do Brasil inteiro, desenhar um plano de ação, para que essas situações sejam evitadas.

JC – A senhora concorda com a condenação do Grêmio nesse caso?

Luiza – A condenação é inédita e provoca um impacto no clube e nos seus torcedores. Esperamos que seja utilizada como uma forma de impedir que novos casos venham a acontecer. Porém, a nossa intenção não é dar a punição o tempo todo, porque isso pode ser pedagógico em um determinado momento, mas, ao longo do tempo, se torna improdutivo. Para além dessa certeza que as pessoas têm de que racismo é crime e que não fica impune, é preciso, também, ajudá-las a não praticar mais essa violência.

JC – O Rio Grande do Sul é mais racista do que os outros estados do País?

Luiza – O Rio Grande do Sul é racista a seu modo, assim como existe racismo em vários estados brasileiros. Acho que a característica principal aqui é o racismo não se esconder embaixo de muitas capas. Ele é sempre muito explícito. Isso é uma coisa dolorosa para quem sofre o racismo, mas também é uma situação que você pode aproveitar positivamente, na medida em que, quando os casos existem e não são escondidos, temos uma condição melhor de combater e prevenir.

JC – O que a senhora acha do fato de a casa da torcedora que foi reconhecida no caso ter sido incendiada?

Luiza – É sempre algo para se lamentar, se repudiar um ato dessa natureza. Contudo, como nós temos procurado conversar com a CBF, o racismo é uma violência que pode gerar outras violências, por isso que insistimos que ele tem que ser evitado, porque senão se torna uma cadeia sem fim.

JC – Como prevenir o racismo?

Luiza – Já temos uma legislação bastante robusta para o racismo. No caso do Aranha, ela foi usada para além das regras da CBF. Mas, em primeiro lugar, podemos fazer uma campanha com maior alcance do que a entidade vem fazendo. Em segundo lugar, temos que acertar com os juízes de futebol algumas atitudes determinadas. Quando acontece algum caso assim, o jogo tem que ser interrompido? Essa é uma questão. Algo que utilizamos durante a Copa e que se mostrou eficiente foi criar pequenas forças-tarefa em cada jogo, com pessoas que ficam observando o comportamento da torcida e que agem no momento em que aquilo está acontecendo ou está para acontecer, de maneira a acalmar a torcida, a ganhar a simpatia das pessoas que estão em volta. Você pode instalar dentro dos estádios, como foi feito durante a Copa, postos de delegacia que possam tratar imediatamente dos casos. Então, na verdade é uma série de pequenas coisas que não são complicadas de se fazer, mas que podem contribuir muito para evitar que a violência se repita.

Fonte: Uol

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