“É um desafio ser uma negra e índia que se atreve a escrever”, diz Cláudia Canto

Escritora multifacetada que viveu “exílio domiciliar”, em Portugal, lança quinto livro: Riqueza Ignorada

Por Norma Odara, do Brasil de Fato 

A artista multifacetada, Cláudia Canto, apresenta seu quinto livro “Riqueza Ignorada” / Marcelo Cruz / Brasil de Fato

“É um desafio ser mulher negra, índia, vira-lata, que se atreve a escrever”, assim define a escritora Cláudia Canto, ao responder sobre os desafios da produção literária negra e periférica. A artista multifacetada também é jornalista e enfermeira.Nascida em São Miguel paulista, bairro do extremo leste da cidade de São Paulo, Cláudia Canto reside, desde pequena, na Cidade Tiradentes: o maior aglomerado de conjuntos habitacionais do Brasil. Ela lança, no final do ano, seu quinto trabalho, o livro “Riqueza Ignorada”.”O livro é um composto da minha vida mesmo. Eu tenho 42 anos e, dentro dessa vivência, nas ruas, trabalhando como empregada doméstica, trabalhando numa psiquiatria, como pesquisadora, eu comecei a perceber que era tudo mentira o que eles me falavam. Que eu era a ‘negrinha perdida lá na periferia’, que eu não tinha nascido em berço de ouro… olha que absurdo, como assim, com essa vivência toda?”.Cláudia traz na bagagem inúmeras experiências, que vão desde o “exílio domiciliar”, como ela chama o período em que trabalhou como empregada doméstica em um Palecete, em Portugal, até a apresentação de sua obra nas Universidades de Oxford e King’s College, ambas no Reino Unido.

Essa bagagem cultural, somada aos preconceitos que viveu, estão presentes nos livros de Cláudia Canto, como em “Morte às Vassouras”, de 2013, que aborda sua ida a Portugal. Ela cruzou o Atlântico com vinte e poucos anos de idade e 500 euros no bolso, como ela mesma relata.

“Quando eu era mocinha, alguém me disse que meu limite seria a esquina do próximo quarteirão, mas a cada leitura de um novo livro, viajava para outros países, conhecia outras culturas. Insatisfeita, intrigada e bravia, decidi que iria esticar o meu mundo como um velho elástico. Hoje, o elástico está quase arrebentando, mas mesmo assim continuo puxando, puxando e puxando.”

Esses são trechos da poesia “Elástico”, presente no livro “Riqueza ignorada”. A obra é composta por poesias, crônicas e tem como essência pessoas comuns que a autora conheceu em bares, na rua e em conversas descompromissadas.

“A liberdade é o que representa a minha literatura. E a liberdade da minha alma, eu sou uma escritora livre. Eu falo sim da periferia, eu sou uma escritora da periferia porque minha condição social é ter nascido e viver na periferia, mas eu também posso falar o que eu quiser. A minha boca e o meu pensamento não tem limites.”

O livro Riqueza Ignorada foi produzido por dezenas de mãos de forma colaborativa. A obra pode ser adquirida diretamente com a editora pelo e-mail [email protected] ou diretamente com a autora pelo e-mail [email protected].

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