Eleição em Gana tem candidatura feminina inédita, mas disputa será entre dois velhos conhecidos

Cerca de 17 milhões de pessoas irão às urnas nesta segunda-feira (7) para eleger o próximo presidente de Gana e os 275 parlamentares que formarão o Legislativo do país.

Entre as 12 candidaturas, das quais a verdadeira disputa se dá entre o atual e um ex-presidente, destaca-se a presença da primeira mulher a concorrer à Vice-Presidência por um dos dois principais partidos.

A professora e ex-ministra da Educação Naana Jane Opoku-Agyeman, 69, concorre ao lado do ex-presidente John Dramani Mahama, 62. Escolhida pelo partido Congresso Democrático Nacional (NDC), de visão social-democrata, para a composição da chapa, viu a indicação como uma inspiração para que outras mulheres também optem pela vida política.

“Muitas são as que agora estão com mais energia para votar, graças a esta importante decisão”, disse Naana, em julho, após sua nomeação, prometendo manter a “porta aberta” para outras mulheres.

Nas redes sociais, a candidata usa as hashtags #RepresentationMatters (representatividade importa) e #ImWithHer (estou com ela), que se popularizaram em nome da luta por maior participação feminina na política mundial.

Naana é a única concorrendo à Vice-Presidência do país e, se for eleita, será a primeira mulher no cargo. Há, contudo, outras três mulheres disputando o cargo mais alto do Executivo ganense: a fazendeira Akua Donkor, a ex-miss Brigitte Dzogbenuku e a ex-primeira-dama Nana Rawlings.

O clima político dá indícios de que o pleito deste ano será o “desempate” na disputa entre dois nomes tradicionais da política ganense que já se enfrentaram em duas eleições anteriores.

O atual presidente, Nana Akufo-Addo, 76, do Novo Partido Patriótico (NPP), de centro-direita, perdeu para Mahama em 2012 e o venceu em 2016. Entre as críticas a seu governo estão acusações de descumprimento de promessas de campanha, como a de industrializar todos os distritos do país.

O líder ganense ganhou apoio público por sua resposta à pandemia de coronavírus ao garantir, entre outras medidas, fornecimento de água gratuito à população e subsídios nas contas de energia elétrica.

Cerca de 70% dos ganenses aprovam seu governo, de acordo com uma pesquisa do Centro de Desenvolvimento Democrático de Gana realizada em setembro e outubro com 2.400 cidadãos.

Se reeleito, promete levar adiante um pacote econômico de US$ 17 bilhões (R$ 87 bilhões) para recuperação pós-pandemia, mobilidade social e geração de emprego.

Advogado de formação, Akufo-Addo fez carreira jurídica no Reino Unido e na França até entrar para a política de Gana, onde foi procurador-geral e ministro das Relações Exteriores. Ele descende de uma família real, e seu pai, Edward Akufo-Addo, foi presidente do país de 1970 a 1972.

Nana Akufo-Addo, atual presidente de Gana e candidato à reeleição, durante discurso em Acra, capital do país (Foto: Pius Utomi Ekpei – 5.dez.20/AFP)

Mahama, principal adversário do atual presidente, assumiu o governo de Gana em 2012 após a morte de John Atta Mills, de quem era vice. No mesmo ano, disputou sua permanência no poder e foi eleito ao derrotar Akufo-Addo.

Seu mandato foi ofuscado por uma queda global no preço das comoddities —a economia de Gana, segunda maior da África Ocidental, tem forte dependência de ouro, petróleo e cacau— e por acusações de corrupção e má gestão, as quais sempre negou.

Em 2016, perdeu a revanche contra Akufo-Addo e se tornou um dos principais nomes da oposição ao governo. Se eleito, promete instituir um programa que apelidou de “Big Push” (grande impulso), um plano de melhorias na infraestrutura do país avaliado em US$ 10 bilhões (R$ 51,6 bilhões).

Cristão oriundo de uma região predominantemente muçulmana, Mahama é historiador especializado em psicologia social e foi ministro das Comunicações.

John Dramani Mahama, ex-presidente de Gana e candidato à reeleição, durante discurso em Acra, capital do país (Foto: Pius Utomi Ekpei – 4.dez.20/AFP)

Não há pesquisas de intenção de voto realizadas em grande escala no país, e os analistas se dividem em seus palpites sobre quem será o vencedor. Se Akufo-Addo ou Mahama forem eleitos, cumprirão um segundo e último mandato, de acordo com os atuais limites impostos pela Constituição de Gana.

Esta é a oitava eleição desde que o país retornou à democracia multipartidária, em 1992. Antes disso, a sociedade ganense esteve sob controle ora de regimes militares ora de governos civis em que não havia pluralidade política.

Embora haja relatos de violência relacionada à disputa eleitoral em algumas regiões de Gana, a expectativa é a de que o pleito deste ano será majoritariamente pacífico.

As forças de segurança do país, entretanto, identificaram mais de 4.000 localidades onde existem pontos de tensão, embora a menor parte delas precise de atenção especial.

Akufo-Addo diz que “todos os ganenses concordam que devemos trabalhar juntos para garantir que as eleições sejam transparentes, livres, justas, seguras e confiáveis”.

Mahama, por sua vez, afirma que a comissão eleitoral, órgão que deve monitorar a votação e anunciar os vencedores em até 72 horas após o fechamento das urnas, não demonstrou ser capaz de conduzir uma eleição acima de suspeitas. “Não aceitaremos o resultado de uma eleição falha”, disse.

A eleição em Gana se dá pelo voto direto. Se um candidato obtiver mais de 50% dos votos válidos em primeiro turno, é declarado vencedor. Caso contrário, a comissão eleitoral deve convocar um segundo turno entre os dois candidatos mais votados em até 21 dias. ​

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