Eleitores às cegas

Por: JANIO DE FREITAS

 

 

O desconhecimento do eleitorado em relação a seu candidato à Presidência é chocante e perturbador

O NÍVEL de desconhecimento do eleitorado em relação ao seu escolhido para a Presidência, constatado pelo Datafolha, é chocante, por si mesmo, e perturbador, por nem ao menos indicar se provém de desinformação sobre o candidato ou de um grau extremado de ignorância política, em alta proporção dos eleitores.

Não há sentido algum em que 31% do eleitorado de Dilma Rousseff, mais de um terço, a situem entre o centro-direita e a extrema-direita. Pretendem-se eleitores de uma candidata sobre a qual não dispõem nem da mais mínima informação política. Dilma chega a ser identificada por 12% desses eleitores como de extrema-direita. É a inconsciência total.

A dedução imediata leva a atribuir o conflito entre a candidata e sua personificação, para parte tão grande do seu próprio eleitorado, à adoção incondicional da indicada por Lula. Seria a comprovação da polêmica transferência de votos.

Não se sabe, porém, que José Serra esteja beneficiado por transferência incondicional de votos de quem quer que seja. Mas seus pretendidos eleitores incidem no mesmo desvario: Serra é considerado por 44% deles como situado entre o centro-direita e a extrema-direita. Até se compreenderia que, sendo considerado por 50% dos eleitores em geral como o mais voltado a defender os empresários e por 45% a defender os ricos, 11% dos seus próprios eleitores o situem na centro-direita. Mas que 19% o tenham como de extrema-direita, é a indicação do despropósito por inteiro.
Despropósito que se completa com os 19% dos eleitores de Marina Silva que a imaginam entre o centro-direita e a extrema-direita. E, nesta, os 6%.

O nonsense é tanto que 13% dos hoje eleitores de Dilma Rousseff se declaram de extrema-direita, assim como 14% dos “simpatizantes” do PT.

Tudo poderia ser porque essas parcelas do eleitorado ignorem as categorias ideológicas e políticas, a ponto de não distinguir entre direita e esquerda. Há mais. A desconexão entre a pessoa e o seu papel de eleitor vai a ponto até de produzir injustiças graves, ainda que involuntárias.

Que Dilma Rousseff fique abaixo de José Serra quando se trata de considerar “quem foi mais atuante no combate à ditadura”, pode-se atribuir à ampla carência de informações gerais da maioria. Já, na condição de eleitores, tão poucos (14%) destacarem Marina Silva ao dizer “quem é o mais democrático” dos três, contra 25% de indicação para Dilma Rousseff e 33% para José Serra, aí as definições não ficam só na desinformação.

Um índice coerente para encerrar esse autoperfil de uma parte do eleitorado: 26% não têm o que dizer quando se trata de definir sua própria posição política.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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