Localizado no litoral sul de Pernambuco, o Ilê Axé Ayabá Omi, também conhecido como Terreiro de Salinas, foi vítima de um incêndio criminoso no dia 1 de janeiro.
“Não é de hoje que os terreiros das religiões de matriz africana, afro-brasileira e afro-indígena tem sido alvo constante das violências, intolerâncias e racismo religioso que tenta impedir a realização de nossos rituais, da adoração aos nossos orixás e entidades sagradas”, diz a nota divulgada pelo Terreiro.
Em outro momento, o comunicado revela o Terreiro já havia sido vítimas de ataques motivados por ódio em três ocasiões.
“Anteriormente, já tivemos nossos rituais interrompidos em três ocasiões, mas situações que acreditamos contornar, inclusive pela incidência que temos com a comunidade, a partir da distribuição semanal de sopa, do reforço escolar gratuito às crianças e entrega de cestas básicas da Campanha Tem Gente Com Fome, da Coalizão Negra por Direitos”, diz o texto.
“No primeiro dia do ano, em que é tido como o Dia Universal da Paz, fomos violentados, tivemos nosso direito à fé interrompido, fomos vítimas de forma brutal do racismo religioso. Muitas questões passam pela nossa cabeça, no entanto, sabemos que nosso sagrado habita em nós, que a espiritualidade está ao nosso lado. Os igbas, os taças são representatividade de tudo que acreditamos, e o que aconteceu foi uma tentativa de apagamento, de silenciamento e opressão, mas que não nos impedirá de continuar a cultuar nosso sagrado”, afirma o comunicado do Terreiro de Salinas.
Em vídeo, o fundador do Terreiro de Salina, Livio Martins, declara que eles estão “extremamente abalados, arrasados por vermos o nosso templo sagrado, as nossas perspectivas de aquilombamento queimadas e destruídas de forma tão violenta e vil”.
Citando a escritora Conceição Evaristo, Martins declara que “”eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. Iremos, em meio a tudo isso, reconstruir o nosso Axé. Eles queimaram tudo. Não sobrou nada além das cinzas, mas nos sobrou a fé. Eles não conseguiram queimar a nossa fé, a nossa perspectiva, esperança. O sagrado está aqui conosco”.
“Nós vamos resistir porque está no nosso sangue. Nós vamos reexistir porque está no nosso sangue. Que Oxum nos abençoe”, finaliza Martins.
De acordo com os membros do Terreiro de Salina, uma Boletim de Ocorrência foi realizado na última segunda-feira (3) na Delegacia de São José da Coroa Grande. Também deram entrada num pedido de investigação ao Ministério Público de Pernambuco.