MAURO FERREIRA
‘Nheengatu’ esboça retrato forte do Brasil, a ‘República dos bananas’, como o país é denominado em uma das faixas
Rio – “Te chamam de macaco / Te julgam pela cor da pele”, bradam os Titãs em versos de música, ‘Quem são os animais?’, que soa bem atual quando a discussão do racismo está em pauta no Brasil pela atitude do jogador de futebol Daniel Alves, que comeu banana lhe atirada em campo por torcedor. O rock ‘Quem são os animais’ fecha ‘Nheengatu’, disco que devolve peso ao grupo Titãs.
Produzido por Rafael Ramos, ‘Nheengatu’ honra o legado de banda que já produziu clássicos como ‘Cabeça dinossauro’ (1986), mas que tinha causado até vergonha com ‘Sacos plásticos’, CD de 2009 feito com Rick Bonadio. Lançado esta semana, ‘Nheengatu’ esboça retrato forte do Brasil, a ‘República dos bananas’, como o país é denominado em outra faixa.
Titãs honram seu passado em ‘Nheengatu’, álbum produzido por Rafael Ramos que inclui regravação de ‘Canalha’, música de Walter Franco
‘Nheengatu’ apresenta registros de estúdio das músicas apresentadas pelos Titãs — com mais peso — no show ‘Inédito’ (2013) e acrescenta outros petardos ao repertório do quarteto. ‘Fardado’, rock de virulência punk sobre a violência policial, é um deles. Parceria de Paulo Miklos com Arnaldo Antunes, que versa sobre o ciclo interminável da morte (as naturais e as provocadas), ‘Cadáver sobre cadáver’ é outro destaque de disco que aborda temas espinhosos.
‘Pedofilia’ é exemplo da intenção do grupo de tocar em questões fortes. A letra foi escrita sob a ótica da vítima enojada do ato de violência. “Sou só nojo de mim / Só nojo, por dentro”, dizem versos cuspidos pelo grupo.
Os arranjos de ‘Nheengatu’ têm mais nuances do que os do show ‘Inédito’. Mas as guitarras dão o tom ‘hard’ do rock ‘Fala, Renata’ e de ‘Chegada ao Brasil (Terra à vista)’. Com críticas às instituições religiosas (‘Senhor’) e releitura de música do compositor paulista Walter Franco (‘Canalha’), ‘Nheengatu’ é o CD que os Titãs deviam ao público que se manteve fiel.
Fonte: O Dia