Para proprietário do local, “se entrar uma mulher, o ambiente imediatamente muda”, deixando os homens menos confortáveis para falar “de certos temas”
Do Opera Mundi
A polêmica em torno da barbearia Figaro’s não é de agora. O estabelecimento localizado na Rua do Alecrim em Lisboa desperta críticas desde praticamente a sua abertura ao público. O motivo? À porta encontra-se um sinal em que se pode ler que é autorizada a entrada a homens e a cães, mas não a mulheres.
Em outubro do ano passado, meio ano após a abertura, Fábio Marques, barbeiro e proprietário do estabelecimento, explicava ao Diário de Notíciasque a Figaro’s presta serviços exclusivamente a homens e que “os homens, entendemos nós, gostam de estar à vontade e de ter uma privacidade masculina enquanto recebem esses serviços”.
“Se entrar uma mulher, o ambiente imediatamente muda”, deixa os homens menos confortáveis para falar “de certos temas”, cria um ambiente de competição e “distrai os barbeiros”, que trabalham de forma mais “descontraída” se só estiverem homens no salão, argumentava o barbeiro ao jornal.
Para além disso, Fábio Marques entende que “não podemos tratar como iguais os dois sexos que não são iguais”. “Digamos que é um atentado àquilo que se pretende, que é uma sociedade mais partilhada em todos os aspectos”, criticava Manuela Tavares, dirigente da UMAR, em declarações ao Diário de Notícias.
“Mas é um fato que nos tempos atuais há tendência para que a austeridade que vivemos também traga atrás de si um neo-conservadorismo que começa a despontar em muitos aspectos, e que as pessoas veem com naturalidade”, alertava a também investigadora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Este sábado, sob o lema “Não se nasce Cão – Riot feminista em Lisboa”, um conjunto de ativistas mascaradas invadiram a barbearia em protesto. “Um bando de cadelas foi lá visitá-los”, lê-se no blogue onde relatam a ação levada a cabo.
“Uma loja que, na sua porta, adota um discurso misógino, faz um gesto político: intervém no espaço público com uma narrativa de exclusão não muito diferente das lógicas segregacionistas que pensávamos terem ficado lá atrás, no passado”, afirmam.
Segundo as ativistas, “não reagir” seria colaborar “com sistemas de exclusão de gênero” e “não intervir contra o gesto misógino é permitir o próprio gesto misógino, é realizá-lo porque admite que exista enquanto normalidade, enquanto legitimidade”.