Há quase sete anos Liniker deixava a cidade onde nasceu, Araraquara (SP), para seguir uma carreira artística. Algo muito parecido à história de sua personagem em “Manhãs de setembro”, sua estreia como protagonista em uma série, que vai do interior a São Paulo na busca do sonho de se tornar cantora.
Curiosamente, as semelhanças param por aí.
“Eu já fazia teatro em Araraquara, e já compunha e cantava, mas cantar e compor não era o que eu queria de profissão. Eu queria ser atriz. Queria fazer cinema, e aí no meio da minha formação eu me encontrei com a música”, conta a cantora, compositora e agora mais uma vez atriz em entrevista ao G1. Assista ao vídeo acima.
Foram seis anos e dois discos com a banda Caramelows – então não é surpresa que o fã menos obcecado da artista de 25 anos desconheça esse sonho do passado.
“É muito doido poder voltar hoje, depois de quase sete anos, para isso. E com essa amplitude, esse tamanho, e de como às vezes o destino é uma coisa que a gente não pode mesmo controlar assim”, afirma ela.
“Às vezes a gente acha que a nossa vida vai ser uma coisa, no meio do caminho vem uma outra rota, e aí depois você volta e você está de novo na esquina ali, que você saiu.”
Mas os fãs da música de Liniker podem ficar tranquilos. O possível sucesso da série, cujos cinco episódios da primeira temporada chegam à plataforma Amazon Prime Video, não significa um adeus aos discos.
“Estou aberta para conciliar as coisas. Não vou abrir mão de uma coisa para fazer a outra. Assim como eu já não abri. Estava lá gravando a série, mas também estava gravando meu disco”, diz a cantora.
“Mas, sim, eu tenho vontade de fazer outras coisas dentro do audiovisual. Não só dentro do audiovisual, mas dentro das artes. Eu desenho também também. Então cada vez mais estou me entendendo como multiartista do que só como cantora/compositora.”
Família, família
Em “Manhãs de setembro”, Liniker interpreta Cassandra, uma mulher que começa a encaminhar sua vida com seu primeiro lugar para morar sozinha, um namorado (Thomas Aquino) e o sonho de cantar quando descobre que tem um filho (Gustavo Coelho) com uma conhecida que não vê há anos.
Por trás da mãe do jovem garoto está Karine Teles, uma atriz que tem formado sua carreira com personagens marcantes e completamente diferentes.
Desde a odiosa patroa de “Que horas ela volta?” (2015) e a forasteira maligna de “Bacurau” (2019), à mãezona batalhadora de “Benzinho” (2018).
“É uma escolha consciente minha ir pelos assuntos, pelas discussões”, conta a atriz. “Acho que essa diferença entre os personagens é muito por conta das diferenças entre os projetos.”
E qual a discussão por trás de “Manhãs de setembro”? Liniker resume bem.
“Família. Novos olhares e novas possibilidades de existir dentro do carinho.”
Por trás das manhãs
O projeto da série começou com uma história bem parecia à que chega para o público. Mas a ideia inicial era a de uma comédia mais clássica. Foi a equipe de criadores e roteiristas que levou a produção para o lado da dramédia.
“A gente criou essa mesa mesa diversa, que tem a Josefina Trotta, que é uma mulher gay como a roteirista chefe, tem a Alice Marcone, como uma mulher trans como roteirista, tem o Marcelo Montenegro, que é um poeta bardo, e tem a Carlinha Meirelles de assistente, que é uma mãe”, conta um dos diretores da série, Luis Pinheiro (“Samantha!”).
“Então essa diversidade dessa mesa de experiências pessoais criou essa história.”
A conexão de Alice com a protagonista foi inclusive muito além. Afinal, a roteirista da série “Todxs Nós” também sabe muito bem como é batalhar na carreira musical.
“Escolher meticulosamente as letras, onde cada música ia entrar, em qual episódio, tudo isso foi muito importante e foi muito gostoso de fazer enquanto cantora, porque escolher o próprio repertório, compor uma música, tudo isso pra mim é um jeito de seguir contando história”, afirmou a cantora de queernejo.
“Aquilo que a Cassandra canta, não só sublinha o momento como uma trilha sonora, transforma a personagem.”