Em universidade de Santa Catarina, aluno denuncia racismo por causa de cabelo black power

Uma professora e um aluno do curso de design da Universidade Federal de Santa Catarina estão envolvidos numa disputa por conta do uso do cabelo dele, black power, como exemplo durante uma aula em que a classe debatia analogias e metáforas.

Do Viomundo 

Foto: Acervo Pessoal

Parentes do estudante João Francisco concordaram com sua identificação e um deles definiu o episódio como “um terrível ato de racismo dentro de sala de aula”.

O estudante tentou registrar queixa na delegacia, mas foi aconselhado pelo escrivão a não fazê-lo. Em seguida, segundo um primo do aluno, a professora compareceu à polícia — também para registrar queixa.

O Viomundo preserva o nome dela por não ter tido a oportunidade de ouví-la antes desta publicação.

João é negro e filho de professores da Universidade Federal do Pará. A professora é branca.

Durante a aula, ela diz que se trata de uma experiência positiva e, portanto, João não tem motivos para acreditar que é vítima de bullying.

Ela passa, então, a convidar colegas do estudante a buscar definições do cabelo que ele usa: algodão, arbusto, juba de um leão, mola e caracol, dizem eles.

Durante o exercício, que define como “brincadeira”, a professora tinha como alvo chegar à definição de “ninho”.

“O cabelo black power é ninho e que nesse ninho, além de proteger, esconde muita coisa”, afirma.

O uso deste estilo de cabelo remete aos anos 60, nos Estados Unidos, quando os negros norte-americanos lutavam por seus direitos civis.

O movimento black power falava entre outras coisas em autonomia, auto-confiança e afirmação da identidade negra, com o resgate da herança africana.

Incluia das ideias socialistas de Angela Davis e dos Panteras Negras ao retorno à origem islâmica pregada pela Nação do Islã, de Malcom X.

Nas Olimpíadas de 1968, no México, quando os medalhistas dos 200 metros Tommie Smith e John Carlos levantaram os punhos cerrados durante a execução do hino dos Estados Unidos, tornaram-se símbolo mundial do movimento — curiosamente, atletas norte-americanos que protestam agora contra a persistência do racismo no país, tem se ajoelhado durante a execução do hino.

No Brasil, onde os negros passaram a alisar os cabelos para mimetizar os brancos, usar o cabelo black power tem crescentemente se tornado parte da afirmação de identidade subjacente à luta contra o racismo, a violência policial e por direitos civis.

Um recente estudo da Oxfam sobre desigualdade no Brasil demonstrou que, ao ritmo atual, a igualdade salarial entre brancos e negros no Brasil só será alcançada em 2089.

Um colega de João Francisco gravou dois trechos da aula, reunidos abaixo (o corte é quando a professora fala em ninho):

+ sobre o tema

Mães falam com filhos sobre racismo em novo comercial da P&G

No mundo todo a publicidade ainda está engatinhando quando...

Defensora denuncia expropriação de território quilombola no Brasil

Plataforma Dhesca Isabela da Cruz nasceu e cresceu na Comunidade Quilombola...

para lembrar

Professora e aluna da FURB registram BO por injúria racial

São duas situações diferentes, que ocorreram nas últimas semanas,...

Epidemia das bets não pode ser usada para demonizar Bolsa Família

O Banco Central (BC), a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM),...

‘Ela deveria colocar negras na capa da Vogue’, diz Olívia Santana sobre polêmica

Primeira negra deputada estadual da Bahia, a parlamentar Olivia...
spot_imgspot_img

Massacre de Paraisópolis completa cinco anos sem punições

O Massacre de Paraisópolis completa cinco anos neste domingo (1º), sem a definição de uma pena para os responsáveis pela morte de nove jovens...

Lições de racismo

Lições de racismo não integram formalmente o currículo escolar, mas estão presentes na prática pedagógica nacional. Prova disso é que a escola costuma servir de palco...

Por um Moçambique mais igualitário

Ouvir uma antropóloga feminista moçambicana sobre os protestos em seu país me levou ao Brasil de 2013: demandas populares legítimas reprimidas violentamente pelo Estado e...
-+=