Por: Thiago Lavinas
Jornalista é enterrado no Rio de Janeiro sob aplausos e homenagens
Sob aplausos, emoção e homenagens, Armando Nogueira foi enterrado, nesta terça-feira, no cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O adeus a um dos camisas 10 do jornalismo brasileiro aconteceu às 12h35m. Centenas de amigos e fãs foram confortar os familiares e cantaram o hino do Botafogo.
– Muito obrigado por esse carinho e solidariedade de todos vocês neste momento difícil. Ele está levando isso no coração dele. Ele continua entre nós – disse o único filho de Armando Nogueira, Armando Augusto Magalhães Nogueira, mais conhecido como Manduca, que tem 55 anos e também é jornalista.
– Nós temos que agradecer muito a ele. A sua maior virtude era a amizade. Ele tinha amor no coração. Obrigado, Armando! – continuou o irmão mais velho do jornalista, Wilson Nogueira.
– Esse choro está cheio de alegria – completou.
Aos 83 anos, Armando Nogueira morreu na manhã de segunda-feira, em sua casa, na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro. Há dois anos, ele lutava contra um câncer no cérebro – que lhe roubou primeiro a capacidade de falar e escrever, duas das atividades que mais prezava.
O corpo de Armando Nogueira saiu do Maracanã, onde foi velado na Tribuna de Honra, por volta das 11h30m coberto com as bandeiras do Botafogo e do Acre, estado em que ele nasceu. Curiosamente, a última vez que Armando Nogueira visitou o Maracanã foi exatamente há dois anos. Ele esteve no estádio no dia 30 de março de 2008 para a inauguração do Espaço Armando Nogueira, uma sala que homenageia cronistas esportivos que fica na entrada da tribuna de imprensa.
No cemitério, centenas de fãs e personalidades aguardavam a chegada do corpo. Um dos admiradores segurava um cartaz com a frase: “Armando Nogueira foi o Pelé do jornalismo esportivo brasileiro”. No céu, quatro ultraveles homenageavam o jornalista.
Armando Nogueira foi o fundador do clube carioca da modalidade e era apaixonado pela aviação.
Luto oficial no Rio de Janeiro e no Acre
O governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito, Eduardo Paes, decretaram luto oficial de três dias pela morte do ex-diretor da Central Globo de Jornalismo. No Acre, onde o jornalista nasceu, o Governo do Estado divulgou nota de pesar pela sua morte e também adotou o luto oficial. Por três dias, as bandeiras dos estados vão ficar a meio mastro nas repartições públicas.
O estádio do Maracanã ficou iluminado durante a noite em homenagem ao jornalista. A secretária estadual de Esportes e Lazer do Rio, Márcia Lins, disse que vai inaugurar no estádio a “Academia de Ideias Armando Nogueira”, próxima ao portão 18, no hall dos elevadores. Será um espaço reservado ao trabalho do jornalista, com seus livros e crônicas. A tribuna de imprensa do Maracanã já leva o nome de Armando Nogueira.
Para o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, Armando Nogueira mudou a história do telejornalismo brasileiro e deixa um legado para todos os brasileiros. O jornalista foi um dos criadores do Jornal Nacional.
– Ele construiu toda uma linguagem da televisão com um rigor fantástico na precisão da informação e na qualidade do texto. Armando deixa para nós mais do que uma lembrança, uma inspiração – disse João Roberto Marinho.
Ausente do país, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, divulgou nota sobre o falecimento do jornalista:
“Quando passei a trabalhar mais de perto com Armando Nogueira, eu estava na casa dos trinta e ele na casa dos cinquenta, mas nunca houve entre nós uma distância de gerações. Armando sempre foi jovem, e creio que foi essa força juvenil que o equipou para não somente ajudar a criar o telejornalismo brasileiro, mas para fazê-lo num dos períodos mais difíceis de nossa história, em pleno regime militar, com censores nos vigiando o tempo inteiro. Fui testemunha de como ele, mesmo sob enorme pressão, lutava para manter o ânimo entre os jornalistas, testando cotidianamente os limites, não permitindo que a autocensura se tornasse uma prática. Na ditadura ou na democracia, porém, foi sempre rigoroso com o que ia ao ar, fosse nas coberturas históricas, fosse no dia a dia: era implacável na busca pela correção, pelo equilíbrio e, uma qualidade muito dele, pelo texto perfeito.
Deixou-nos isso como norma. Era um prazer tê-lo como colaborador, mas era um prazer ainda maior ser seu amigo e dividir com ele algumas paixões, como os voos de ultraleve, que praticou, como um jovem, até os 80. Hoje, eu, como todos os que tiveram a alegria de conviver com Armando, fico com essa lição: é possível ser sério, disciplinado, rigoroso, sem nunca deixar para trás o frescor da juventude”.
O jornalista e escritor Sérgio Cabral, pai do governador do Rio, conheceu Armando Nogueira em 1959, no Jornal do Brasil. Os dois viraram grandes amigos.
– É uma grande perda. Não era a toa que Armando Nogueira era chamado
de Machado de Assis da crônica esportiva.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também divulgou nota de pesar pela morte do jornalista:
“Armando Nogueira foi um dos nomes de maior destaque da história do jornalismo brasileiro, especialmente na televisão e na crônica esportiva. Tinha talento de sobra que lhe permitiu atuar em diferentes mídias, sempre com o mesmo brilho e a mesma preocupação com a qualidade do texto e da informação. Neste momento de perda, quero externar meu sentimento de pesar a seus familiares, amigos, colegas da imprensa e admiradores”.
A CBF determinou um minuto de silêncio nos jogos da Copa do Brasil, que vão acontecer no meio da semana. A carreira do jornalista inspirou no ano passado a criação do troféu que o homenageia – uma parceria do Sportv com o GLOBOESPORTE.COM – que premia o melhor jogador de cada posição no Campeonato Brasileiro.
Armando Nogueira escreveu textos para o filme “Pelé Eterno” (2004) e deixou um legado de dez livros publicados, todos sobre esporte: “Drama e Glória dos Bicampeões” (em parceria com Araújo Neto); “Na Grande Área”; “Bola na Rede”; “O Homem e a Bola”; “Bola de Cristal”; “O Vôo das Gazelas”; “A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar” (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert), “O Canto dos Meus Amores”; “A Chama que não se Apaga”; e “A Ginga e o Jogo”.
De Xapuri para o Rio
Armando nasceu no dia 14 de janeiro de 1927, em Xapuri, no Acre. Mudou-se para o Rio de Janeiro com 17 anos, formou-se em Direito e começou a trabalhar como jornalista nos anos 50, no finado “Diário Carioca”. Foi repórter, redator e colunista.
Trabalhou na “Revista Manchete”, em “O Cruzeiro” (de 1957 a 1959) e no “Jornal do Brasil” – onde assinou a coluna “Na Grande Área” por 12 anos. De 1966 a 1990, trabalhou na TV Globo, sendo diretor da Divisão de Esportes e depois diretor de jornalismo, comandando o Jornal Nacional. Em 1992, integrou a equipe da TV Bandeirantes nas Olimpíadas de Barcelona. Nos anos 2000, passou a integrar a equipe do SporTV, onde participava de mesas-redondas e tinha o programa “Papo com Armando Nogueira”. Na internet, teve um blog no GLOBOESPORTE.COM, o Blog do Armando Nogueira, em 2006 e 2007. Na imprensa escrita, o jornalista trabalhou por último no diário Lance!”, onde tinha uma coluna. Seu estilo doce e anedótico, que sempre buscava olhar para o esporte com poesia, influenciou várias gerações de torcedores e jornalistas.
Fonte: Globoesporte