Atualmente o termo empoderamento tem sido muito empregado dentro de alguns grupos de lutas sociais. Ele é utilizado (ou deveria ser) para denominar o processo no qual uma pessoa se conscientiza e “se dá conta do seu poder”. Haha, (quase isso). Empoderar-se é reconhecer-se enquanto sujeit@ social, polític@, autor@ da sua própria história e capaz de lutar por direitos que não são só seus, mas também de um grupo. Empoderamento é singular e é plural. Singular no sentido de que é um processo individual e pode ocorrer pelas mais diferentes motivações. Plural porque por meio do empoderamento aprendemos que a luta é coletiva, em prol d@s irmãs e irmãos.
Por Ana Carolina Cerqueira Do Preta e Power
Como o título do texto sugere, a abordagem refere-se a um recorte do movimento negro. É notável que nesses últimos anos, com a ascensão da internet e mais especificamente das redes sociais, o tráfego de informações tornou-se muito mais intenso e com isso o conhecimento passou a ser mais acessível. Ele transpassou os muros da academia e veio para as redes e ruas, possibilitando que @s pret@s compreendessem melhor certos fenômenos sociais e pudessem colocar a boca no mundo pra dizer que estamos juntos nessa luta, que é por respeito, espaço e “otras cositas más“. Inclusive, volta e meia surgem campanhas (lindas por sinal <3 ) com objetivo de denunciar o racismo, estimular a autoaceitação d@s pret@s, aumentar a autoestima do nosso povo e defender a valorização da estética negra.
Entretanto… o movimento pró cabelo natural (que é uma forma de militância negra) nem sempre tem voz uníssona. E talvez nem devesse obrigatoriamente ter, pois é por meio das divergências que surgem as problematizações e conseguimos construir conhecimento. Mas existem alguns ruídos muito dissonantes e que tem me obrigado a parar para um minuto de autorreflexão e reflexão sobre o universo ao meu redor. Eu tenho escutado muito a palavra empoderamento, mas nem sempre num contexto em que eu o perceba de fato.
Só pra contextualizar: O ato de deixar o cabelo natural exige algum tempo para o seu autoconhecimento, fortalecimento e (des)construção de valores estéticos, a princípio. Se empoderar é perceber a dimensão política que está representada em assumir o black ou as molas, perceber o quanto somos discriminad@s pelo nosso fenótipo, passar a buscar mais conhecimento para entender alguns fenômenos sociais e lutar juntos pelo combate ao racismo e demais tipos de discriminação. Perceber que os seus traços, a sua cor de pele e o seu cabelo são lindos também é se empoderar. Mas empoderamento não é só isso e ser natural não é a única porta de entrada, embora tenha sido a motivação de várias pessoas, inclusive a minha.
Pasmem: uma pessoa negra não precisa necessariamente deixar de alisar ou relaxar o cabelo para ser empoderada :o . Ela não precisa vestir as roupas mais “estilosas”, não precisa ter um black power gigante, “cachos perfeitos” ou coloridos, não precisa usar maquiagens diferentes muito menos sair por aí tombando “azinimiga” (nem sequer devemos ser inimigas), mas se ela quiser,ela PODE se apresentar com uma estética diferente da usual, até por quê gente empoderada é antes de tudo livre <3 .
Ser empoderad@ é elogiar um@ companheir@! (até porquê palavras negativas não agregam nada de bom né mores?). É defender os seus iguais que estão em situação de opressão, combater e denunciar o racismo – mesmo nas redes -, é inspirar e mostrar que as nossas características físicas não devem ser uma limitação para chegar onde queremos e que podemos SIM ocupar qualquer espaço. É dizer pra uma preta que acabou de fazer o BC e está com a autoestima fragilizada o quanto ela é linda. É enxergar e respeitar a beleza que existe na diversidade das nossas cores de pele, tipos de cabelo e formas do corpo. Inspirar e ensinar a cuidar da nossa estética também é empoderar.
Pret@s, ser empoderad@ transcende o campo estético, então não vamos utilizar o termo como sinônimo de beleza, estilo ou algo do tipo, certo? – embora pessoas empoderadas sejam sempre bonitas, mas nem sempre vice-versa -. Ser empoderad@ é entender que estamos juntos nessa luta e que somente juntos é que podemos ser de fato livres. Não estamos numa briga de ego. Vamos empoderar @s noss@s iguais e espalhar coisas boas por aí?!
“Eu não serei livre enquanto houver *pret@s* que não são, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas.”