Esconderam a favela com adesivo das Olimpíadas

Com o intuito de diminuir o número de arrastões nas vias expressas – Linhas Vermelha e Amarela – em 12 de março de 2010 a prefeitura do Rio de Janeiro começou a instalação das polêmicas barreiras acústicas que separam as favelas das pistas de alta velocidade.

Por Walmyr Junior. do Jornal do Brasil 

Segundo a prefeitura, na época, as barreiras serviriam para proteger os moradores das diversas comunidades da cidade do barulho dos carros e do risco de atropelamentos. Sabemos que a realidade é outra, as barreiras cumpririam o papel de isolar, segregar e esconder as favelas que seriam vistas pelos turistas que viriam do aeroporto do Galeão.

Pois bem, não bastasse à barreira criada pela prefeitura e o isolamento da favela, na última semana a prefeitura do Rio decidiu colorir todas as barreiras, que eram transparentes, com o adesivo das olimpíadas.

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O problema é que Complexo da Maré é isolado por 1.115 metros de barreiras na altura da Vila dos Pinheiros até o Parque da Maré. A proteção acústica conta com 1.080 metros de placas de concreto armado e 220 metros de placas de acrílico, principalmente nos trechos residenciais. Do outro lado da cidade as placas separam também os moradores do conjunto habitacional da Cidade de Deus, dividindo a favela em duas.

Entendendo que a construção dos ‘protetores acústicos’ nas vias expressas não beneficiariam os moradores como dizem por aí. Ouso definir seus objetivos práticos: tornar invisível uma parte da cidade que não é tão maravilhosa.

Esse discurso referente ao revestimento acústico nas vias expressas que estão próximas às favelas é facilmente derrubado quando olhamos para outras vias expressas da cidade. Um exemplo a ser citado está no centro do bairro do Rio Comprido, especificamente no elevado Paulo de Frontin.

 

Podemos ver na imagem acima, tirada de um trecho do elevado, os carros passarem muito mais próximo aos apartamentos do bairro do que os veículos que passam nas linhas Vermelha e Amarela. Não seria uma contradição da prefeitura e agradar os moradores da favela e deixar a população do bairro do Rio Cumprido à mercê do barulho e do incômodo?

“Envelopar” a favela está para além do intuito de dar proteção acústica para seus respectivos moradores. A prefeitura comprou a ideia de garantir um ‘processo de embelezamento’ das vias e esqueceu que não somos burros. Os adesivos custaram aos cofres públicos R$ 750 mil, segundo a Secretaria de Turismo do município.

Os gastos absurdos para a execução dos Jogos Olímpicos demonstram uma gama de estratégias para promover a invisibilidade do pobre favelado e de suas tristes realidades. O legado social das Olimpíadas não cumpre o seu papel. Ao invés de promover estruturas mínimas para a mudança da vida do povo, a escolha feita foi maquiar a cidade e invisibilizar a pobreza.

*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

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