Escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa discute papel do negro na literatura mundial

A Biblioteca de São Paulo, espaço cultural do Governo de São Paulo administrado em parceria com a Poiesis – Organização Social de Cultura, promoverá um bate-papo sobre “O negro na literatura internacional” com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, no dia 20 de novembro, das 15 às 17 horas. A mediação do encontro ficará a cargo de Carmen Tindó, doutora e professora de Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Durante o evento, realizado no mesmo dia em que se celebra a Consciência Negra, Ungulani falará sobre a influência do negro na cena literária. “Nunca procurei a cor num escritor, mas identidades, fluxos literários representativos de parcelas deste mundo cada vez mais global”, conta o escritor, quando perguntado sobre seus autores negros de referência. Na África, por exemplo, os espaços literários têm as línguas árabe, francesa, inglesa e portuguesa como grandes meios de expressão e tenta-se navegar por esses mundos para encontrar diferenças e similitudes. “Sei que a geração que me antecedeu, marcada pela negritude e personalidade africana extasiava-se com Richard Wright [escritor americano (1908-1960)] e outros. Mas era a época da gestão nacionalista. Lutava-se pelas independências. A literatura, ao tempo, era, também, uma arma.”, afirma. “Agora, para os nascidos literariamente pós-independência, o texto é visto e assumido na sua vertente literária e identitária de um espaço. A cor tem um papel insignificante.”

Para Ungulani, é preciso mudar o olhar exterior que enxerga a literatura africana como um todo e falar em literatura moçambicana, nigeriana, queniana, sul-africana assim como se distingue literatura argentina, brasileira, mexicana e outras. “Nas prateleiras do mundo literário aparecemos sempre como literatura africana”, observa ele que, no futuro espera o reconhecimento das singularidades assim como a melhora no sistema de distribuição de livros, no número de analfabetos e bibliotecas públicas existentes no continente africano, afinal, “a cultura ganha, nos tempos que correm, um lugar de relevo no cardápio dos nossos países” embora a circulação de livros ainda seja deficitária.

 

Quem é Ungulani Ba Ka Khosa?

Nascido em Inhaminga, província de Sofala, no dia 1º de agosto de 1957, Ungulani Ba Ka Khosa – nome tsonga (grupo étnico do sul de Moçambique) de Francisco Esaú Cossa – é bacharel em História e Geografia pela Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane e atua como professor de carreira e diretor adjunto do Instituto Nacional do Livro e do Disco.

Autor de seis livros, Ulalapi (1987), Orgia dos Loucos (1990), Histórias de Amor e Espanto (1993), No Reino dos Abutres (2001), Os Sobreviventes da Noite (2005) e Choriro (2009), Ungulani também exerceu a função de diretor adjunto do Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual de Moçambique, participando na elaboração de roteiros de guiões e jornais cinematográficos. Ao longo dos anos 1990 colaborou com crônicas para vários jornais africanos e co-fundou a revista literária Charrua.

Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, Ungulani é considerado um dos cem melhores autores africanos do século XX e recebeu prêmios como os Gazeta de Ficção Narrativa (1988), Nacional de Literatura (1991) e José Craveirinha (2007), além da Homenagem da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (2003).

Ungulani percebe a profissão de escritor como uma aventura envolvente porque vem da alma. “E ela tem ganho espaço nas escolas e nas comunidades em geral graças, em parte, a falência das ideologias que tanto flagelaram o continente africano”.

O evento é gratuito. A entrada na BSP é feita mediante apresentação das carteirinhas de visitante ou usuário, que podem ser solicitadas na recepção.

Serviço:

Bate-papo com Ungulani Ba Ka Khosa
Sábado, 20 de Novembro, às 15 horas
Biblioteca de São Paulo
Parque da Juventude
Avenida Cruzeiro do Sul, 2.630 – Santana – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2089-0800

Fonte: ABN

 

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