Esta é a ‘ferramenta feminista’ de Chimamanda Ngozi Adichie para identificar situações machistas

Chimamanda Ngozi Adichie (Foto: Monica Schipper/WireImage)

A gente pode inverter ‘X’ e ter os mesmos resultados?

Para Educar Crianças Feministas (Cia das Letras, 2017), um dos livros da autora nigeriana Chimamanda Ngozie Adichie, nada mais é do que uma extensa carta para uma amiga que acabou de ser tornar mãe de uma menina.

Em uma conversa no passado, esta amiga perguntou à Chimamanda: “O que devo fazer para criar a minha filha como feminista?”, mesmo antes de ser mãe. “Minha primeira reação foi pensar que eu não sabia. Parecia uma tarefa imensa”, escreve a autora.

Em cerca de 90 páginas, com um texto simples e fluído, a escritora faz um manifesto sobre como criar uma criança feminista, relata situações vividas por ela como mãe e retoma questões ligadas à igualdade de gênero para responder à pergunta da amiga.

Mas, logo no início do livro, Chimamanda dá uma dica preciosa para identificar situações machistas — que pode passar despercebida pelo leitor. Aqui está ela.
Ela escreve à amiga:

Eu entendo o que você quer dizer quando fala que nem sempre sabe qual deve ser a reação feminista a certas situações. Para mim, o feminismo é sempre uma questão de contexto. Não tenho nenhuma regra. A coisa mais próxima disso são minhas duas ‘ferramentas feministas’ que vou dividir com você como ponto de partida.Chimamanda Ngozi Adichie

Para Chimamanda, a primeira “ferramenta feminista” parte de acreditar, com convicção, na premissa de que, sim, você é uma pessoa que tem valor. Uma mulher que tem igualmente o valor que um homem tem.

E só nisso.

E em nada mais:

A primeira é a nossa premissa, convicção firme e inabalável da qual partimos. Que premissa é essa? Nossa premissa feminista é: eu tenho valor. Eu tenho igualmente valor. Não “se”. Não “enquanto”. Eu tenho igualmente valor. E ponto final.

A segunda “ferramenta feminista” não é uma premissa, mas sim, uma pergunta que todas as mulheres deveriam fazer, segundo ela.

“A segunda ferramenta é uma pergunta: a gente pode inverter X e ter os mesmos resultados?”, a escritora pergunta no texto.

O “x” da questão é, basicamente, inverter os gêneros na situação vivia e se perguntar: se eu fosse um homem, isso estaria acontecendo comigo?

E a resposta e a sensação que vem junto com ela é que é preciso analisar.

Tudo depende de contexto.

Chimamanda explica:

Por exemplo: muita gente acredita que, diante da infidelidade do marido, a reação feminista de uma mulher deveria ser deixá-lo. Mas acho que ficar também pode ser uma escolha feminista, dependendo do contexto.

Ela continua:

Se o Chudi [nome do marido da amiga a quem ela escreve a carta] dorme com outra mulher e você o perdoa, será que a mesma coisa aconteceria se você dormisse com outro homem? Se a resposta for ‘sim’, então sua decisão de perdoá-lo pode ser uma escolha feminista, porque não é moldada pela desigualdade de gênero.

E finaliza:

Infelizmente, a verdade é que, na maioria dos casamentos, a resposta a esta pergunta em geral seria negativa por uma questão de gênero — aquela ideia absurda de que ‘os homens são assim’, o que significa que os padrões para eles são mais baixos.

Assim, diante de uma situação em que você não se sentiu confortável lembre-se de fazer a pergunta:

se fosse um homem, isso estaria acontecendo comigo?

E lembre-se:

você tem valor!

“Por que você é mulher” nunca é resposta, justificativa ou razão para nada. Jamais.

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