Foto: Arquivo Pessoal
Andei lendo algumas coisas sobre o movimento “Child Free” e que maravilha ver mulheres descumprindo a ordem social de ter filhos. Um momento de organização do que muitas vinham dizendo, solitariamente, desde sempre. São mulheres adultas que afirmam “não quero ser mãe”, “não gosto de crianças”, “não vou me reproduzir”. Sem culpa nenhuma. Isso me lembra de quando, antes de engravidar do meu filho, no início da minha relação com o pai dele, tive uma gravidez acidental.Andei lendo algumas coisas sobre o movimento “Child Free” e que maravilha ver mulheres descumprindo a ordem social de ter filhos. Um momento de organização do que muitas vinham dizendo, solitariamente, desde sempre. São mulheres adultas que afirmam “não quero ser mãe”, “não gosto de crianças”, “não vou me reproduzir”. Sem culpa nenhuma. Isso me lembra de quando, antes de engravidar do meu filho, no início da minha relação com o pai dele, tive uma gravidez acidental.
Por Flávia Azevedo, do CORREIO 24 Horas
Imediatamente, quis abortar. Desisti depois de uma longa conversa com uma amiga e por causa do imenso amor que eu sentia pelo homem com que eu estava casada. Ele trouxe flores, ele queria a gravidez. Ok, mas eu não me sentia feliz. Bem, perdi esse feto, antes do terceiro mês, de forma espontânea. Pouquíssimo sofrimento. Trauma nenhum. Mesmo. Eu não queria aquele filho. E poderia não querer nenhum, mas, anos depois, todas as minhas células desejavam um bebê.
Engravidei querendo muito e amei esse menino, que está aqui ao meu lado agora, desde o teste de farmácia. Eu me senti magicamente transportada pra outra existência assim que o meu xixi produziu aquelas listrinhas que guardo até hoje. Era desejo realizado, era o meu filho que ia chegar. Eu era uma mãe. No dia em que tive um mini sangramento, achei que ia morrer de tristeza e preocupação.
Perder o MEU FILHO seria uma dor incontornável. Minha barriga foi puro amor pra Leo. Mudei toda a minha vida por ele, porque eu quis. Ele é a minha maior felicidade, meu grande amor, meu parceiro. Eu sou dele, por ele, para ele. Há seis anos e para sempre. Qual a diferença entre os dois momentos? O meu desejo, a minha permissão. Ter um filho não é pra qualquer uma. Nem é pra qualquer momento. E não me entenda mal porque não há qualquer juízo de valor aqui. Ser mãe é para quem, profundamente, quer. Quando, profundamente, se quer.
Ter um filho não deveria ser o momento esperado de um romance, nem um presente para a avó, nem prestação de contas para a comunidade. Nenhum sentimento além de um desejo profundo (chega a ser físico, acredite) da mulher, faz com que a gente dê conta da infinidade de questões que chegam junto com um bebê. Não se larga a mão de um filho. Acho monstruosos todos os casos de abandono. É o tipo de notícia que me maltrata profundamente. Lamento pela criança, acho injusto, acho tristíssimo.
Odeio o pai que abandona, odeio a mãe que abandona, mas ela sempre me faz pensar. Nem toda mulher consegue dizer não a essa loucura da maternidade compulsória, a essa obrigatoriedade de reprodução. E conduzir a própria vida de acordo com o desejo do outro pode ter consequências desastrosas. Inclusive a loucura. Inclusive o abandono. Inclusive filhos completamente invisíveis dentro das próprias famílias.
Não, eu não quero um segundo filho. Só tenho espaço pra um. E não há nada de errado comigo. Não, minha amiga não acha loucura ter um terceiro filho aos 43 anos. E não há nada de errado com ela. Não, nem toda mulher sonha com barrigas estufadas, peitos cheios de leite e crianças correndo pela casa. Muitas mulheres querem uma vida “child free”, com outras prioridades, outros apegos, outros amores. E sim, elas tem esse direito. Apenas respeite. Não é da sua conta. Deixe a moça viver em paz.