A revista Blackhair ficou devendo algumas explicações depois de ter exibido na capa de sua edição mais recente uma modelo branca com penteado afro.
Por Zeba Blay Do Brasil Post
Conhecida por oferecer dicas e truques de cabelo para mulheres negras e mestiças, a revista foi denunciada pela modelo branca Emily Bador, dizendo que uma foto antiga dela foi usada sem sua permissão na edição de dezembro/janeiro da revista.
Num post do Instagram publicado no domingo, Bador compartilhou uma foto da capa, escrevendo que pedia desculpas “profundamente e sinceramente” pela foto.
Ela explicou a seus mais de 64 mil seguidores que a imagem foi feita três ou quatro anos atrás, quando ela tinha cerca de 15 anos e antes de ter aprendido sobre o conceito de apropriação cultural e do estigma ao qual muitas negras são sujeitas por usarem seus cabelos ao natural.
“Peço muitas desculpas por esta capa ter sido tirada de uma mulher negra”, escreveu Bador.
Quero pedir desculpas profunda e sinceramente a todos sobre isso, e especialmente às mulheres negras. Quero esclarecer: creio que essa foto foi feita quando eu tinha cerca de 15 anos e não entendia a apropriação cultural nem seu impacto sobre pessoas negras.
Eu era mal informada, o que obviamente não é desculpa, ignorante e imatura. Cresci numa cidade muito branca, sem ideia das dificuldades que as mulheres negras enfrentam nem da perseguição que sofrem por conta do cabelo.
Eu não entendia que as pessoas dizem constantemente às negras que seu cabelo natural é inapropriado/pouco profissional para locais de trabalho, nem que dizem às meninas negras que elas não podem ir à escola com os cabelos ao natural.
Não entendia que ensaios fotográficos como este apoiam o padrão de beleza muito eurocêntrico que a grande mídia enfoca, que reforça a ideia de que características negras são tudo bem, mas só em mulheres brancas. Não entendi que como mulher branca eu seria elogiada por esse cabelo, mas que como negra eu seria criticada.
Eu não entendia a apropriação cultural. ✨o Lamento ter feito isso. Sinto muito, muito mesmo que essa capa foi tirada de uma mulher negra. Essa imagem foi feita 3 ou 4 anos atrás (acho, mas não tenho 100% de certeza) e nunca houve a intenção de que chegasse à capa desta revista. Se eu soubesse que ela seria publicada, nunca teria concordado.
Estou indignada porque nem o fotógrafo, nem o salão nem ninguém me perguntou se podiam usar esta imagem na capa da Black Hair. ✨ y Ainda bem que eu me informei e me cerquei de pessoas para me ensinar o que é certo ou errado. Eu aprendo e me informo constantemente.
É importante vir a público e falar francamente sobre nossos erros passados, senão nunca vamos aprender. Volto a repetir, peço desculpas sinceras a qualquer pessoa que eu tenha ofendido e espero que no mínimo este post leve informações a outras pessoas para que elas não cometam o mesmo erro (e por favor também me digam se eu falei algo de errado ou ofensivo neste post!!
Ou qualquer coisa que eu possa acrescentar!! Amo vocês todos e a última coisa que quero fazer é ofender ou magoar alguém. Espero muito que vocês não me achem uma imbecil total. ?)
A editora da Blackhair, Keysha Davis, falou da capa em um post no Facebook na segunda-feira, desculpando-se pelo erro e agradecendo a Emily Bador por ter chamado a atenção da revista para o problema. Davis explicou que quando escolheram a imagem, ela e a equipe editorial não sabiam que Bador não era negra ou mestiça.
“Frequentemente pedimos a salões de beleza ou firmas de relações-públicas que nos mandem imagens para a revista, especificando que as modelos precisam ser negras ou mestiças”, escreveu a editora. “Temos que acreditar no que nos dizem e, é claro, fazer nosso próprio julgamento.”
Davis garantiu às leitoras que ela e sua equipe têm “plena consciência de como as mulheres negras são subrepresentadas na grande mídia” e que a revista acolhe um diálogo aberto sobre a identidade negra.
É difícil dizer exatamente quem errou no caso de Bador. Foi a revista por não ter verificado as imagens oferecidas para figurar em sua capa?
Foram as empresas de RP e os salões que enviam essas fotos a revistas, cientes de que nem todas as modelos são negras? Seja quem for, o que este incidente ressalta é como é problemático para a indústria da moda continuar a apropriar-se de cabelos e estilos negros em modelos não negras.