Está tudo bem

Apesar da semana intensa, nada me inquietou de verdade. Nada me fez pensar ‘Nossa, isso é uma coluna!’ Nada. Juro

FONTEO Globo, por Ana Paula Lisboa
A escritora e ativista Ana Paula Lisboa (Foto: Ana Branco / Agência O Globo)

Juro que esta não é uma daquelas colunas em que a colunista escreve uma coluna sobre o fato de não ter escrito uma coluna, ou sobre a busca do tema para uma coluna. Juro!

Sei exatamente o que poderia escrever, a questão é que não vejo motivo para isso. Primeiro, porque acho que nada do que eu escreva sobre os temas “quentes” desta semana vá acrescentar alguma coisa, e não quero contribuir para a saturação. Depois, porque estou com uma sensação muito estranha de que “está tudo bem”.

E olha, Vênus está retrógrado em Leão, e todo mundo está dizendo que será um tempo importante para rever os relacionamentos e os desejos, o que não é nada confortável. Falei tanto dos meus sentimentos nos últimos dias, que ontem acordei com a garganta inflamada, mas, ainda assim, continuo achando que está tudo bem. Ou sei lá, tudo caminhou para que chegássemos até esse ponto e, afinal, mangueiras não dão maçãs, mangueiras dão mangas.

Apesar da semana intensa, nada me inquietou de verdade. Nada me fez pensar “nossa, isso é uma coluna!”. Nada. Juro, nem mesmo os dois anos da minha orfandade.

Aprendi com meu ex-chefe, e ex-colunista dessas páginas, Marcus Faustini, que coluna é o que está te movendo naquela semana — às vezes, naquele instante. E nada me moveu de verdade.

Faz oito anos que medito e, juro, esta é a primeira vez que consigo finalmente entender e viver o tal do “observar sem se envolver”.

Obviamente poderia falar do filme da “Barbie”, mas não quero treta. A única vez em que tentei expor num comentário que estava saturada do marketing do filme, foi um mar de haters. As pessoas são incógnitas e não tenho estômago pra discutir on-line nem com meu pai, que dirá com um estranho.

Se “Barbie” está vendendo mais ou menos bonecas ou se é uma crítica aos padrões, ou se estamos nos rendendo aos padrões, sinceramente não consigo me importar. Quer dizer, não é que eu não ligue, tenho observado, lido, ouvido, rio dos memes. Mas neste momento não me envolvo o suficiente pra escrever sobre isso. Mas vou assistir, não se preocupem, e talvez até escreva algo depois.

Vou assistir a “Oppenheimer” também e acho que depois quero contar sobre as três últimas séries que viraram a minha cabeça: “Maid”, “BoJack Horseman” e “Fleabag”. Acho que também quero contar que minha banda favorita não é mais aquela que escrevi na coluna em março de 2017. Mas isso não é conversa para esta semana.

Até poderia escrever sobre o que realmente acho importante e relevante esta semana, a delação do ex-policial militar Élcio Queiroz no assassinato da vereadora Marielle Franco. Mas a escrita não seria celebrativa, porque ela só apontaria para o quanto essa história é uma amostra da sujeira em que vivemos.

Marielle Franco durante discurso na Câmara Municipal do Rio Divulgação/Câmara do Rio

E, além do mais, seguimos sem o nome do(s) mandante(s) e da motivação para o crime. A família e o Comitê Justiça por Marielle e Anderson é que precisam ser ouvidos e apoiados. A ministra Anielle Franco, em entrevista na segunda-feira, já disse tudo o que eu poderia dizer: “Tomara que a gente não precise esperar mais cinco anos para saber quem mandou matar a Mari.”

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