Estudante da Faculdade concorre a prêmio da Unesco

Projeto, que está em fase de votação popular, visa reduzir o número de mortes de crianças por malária, na cidade de Gungu, na  República Democrática do Congo

Por Jayne Ribeiro* Do UFMG

O aluno de medicina do 5° período da Faculdade de Medicina da UFMG, Louison Mbombo, inscreveu projeto no Programa Global da Unesco, 2017 Youth Citizen Entrepreneurship Competition. A competição é parte da estratégia de mobilização para os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas, estabelecidos em acordo entre países em 2015. Os candidatos, além do reconhecimento internacional, podem receber o financiamento necessário para colocar o seu projeto em prática.

O projeto, Preventing Childhood Malaria Death in Rural Gungu, Democratic Republic of Congo, foi desenvolvido por ele e pelos integrantes da ONG Solidariedade na Mokili, fundada pelo estudante em 2016. A ação visa reduzir o número de mortes de crianças por malária, na cidade de Gungu , que fica no interior da República Democrática do Congo.

Louison destaca que Gungu foi escolhida por ser a cidade mais pobre do país. “Queremos trabalhar com pessoas que não têm nada. Quando a pessoa é pobre ela não tem acesso a cuidados básicos, essenciais para a sobrevivência. A população de Gungu é muito vulnerável, vive exposta a tudo. A ONG tem como objetivo capacitar essas pessoas, para assim erradicar a pobreza”, afirma.

Segundo Louison, o fato de o acesso à saúde na República Democrática do Congo ser por meios privados é um dos grandes responsáveis pelo estarrecedor número de mortes por malária no país. “A malária é uma doença tratável e que pode ser evitada. No entanto, uma população pobre como a do Congo não consegue ter acesso a um tratamento adequado. Por isso, a minha maior pretensão com o projeto é fornecer o anti-malária e outros medicamentos, gratuitamente, nos postos de saúde de Gungu. Me inspirei no sistema Único da Saúde do Brasil”, destaca.

O aluno do 5º período de Medicina explica que o projeto é divido em duas fases. “O projeto visa à prevenção. Portanto, em um primeiro instante, vamos, por meio de um curso gratuito, capacitar 100 pessoas da comunidade de Gungu a diagnosticar a malária e, após isso, a procurar ajuda especializada, que irá garantir que as pessoas infectadas tenham um tratamento adequado. Em um segundo momento, vamos fornecer mosqueteiros a 15 mil famílias que preencheram um questionário socioeconômico elaborado por meio de  parceria entre a ONG e o Hospital Geral de Referência de Gungu”, declara.

O estudante, também, ressalta que caso ganhe a competição, o seu projeto poderá reduzir em até 70% o índice de mortalidade infantil por malária, em um período de 24 meses, na cidade de Gungu. “O projeto poderá salvar a vida de 20 mil crianças e ainda contribuirá para a melhora no desenvolvimento desses jovens”, expõe.

O estudante Louison Mbombo, no Hospital das Clínicas da UFMG. Foto: Arquivo pessoal.

 

Do Brasil para o Congo
Louison é congolês e se mudou para o Brasil em 2013, por causa da instabilidade política do seu país causada pela discordância com o governo vigente. No entanto, ele afirma que nunca esqueceu o Congo e as pessoas que vivem lá e precisam de ajuda. “Eu quero ser capaz de mudar a situação da saúde no meu país. A saúde é paga, mas o povo não tem dinheiro para investir, cuidar deles mesmos. Por isso, pretendo usar a minha experiência aqui no Brasil com o Sistema Único de Saúde (SUS) para mudar essa realidade”, planeja.

Solidariedade na Mokili
A ONG, com sede em Gungu, é composta por médicos, juízes e outros profissionais locais que, assim como o estudante, querem mudar a realidade da cidade. “A nossa ONG é voltada principalmente para as mulheres e crianças, pois são os indivíduos mais vulneráveis da sociedade congolesa”, afirma.

“O objetivo da ONG é criar um impacto rápido do bem estar para erradicar a pobreza através do empreendedorismo. Promovemos cursos profissionalizantes para mulheres em situação de risco, e investimos para que possam abrir os seus próprios negócios. Ou seja, fornecemos uma atividade geradora de rendimento e, consequentemente, um futuro melhor para as crianças”, declara.

Louison afirma que o projeto inscrito no concurso da Unesco é apenas um dentre os diversos trabalhos desenvolvidos pela ONG. “Não trabalhamos apenas com malária, temos projetos sobre tuberculose, HIV”  comenta. “Quando abrimos a ONG, desenvolvemos um projeto chamado: Prevenir, detectar e lutar contra a desnutrição infantil de 0 a 16 anos em Gungu. Com essa iniciativa conseguimos identificar mais de 7.500 crianças desnutridas”, relata.

Saiba mais sobre a ONG Solidariedade na Mokili na página da instituição.

2017 Youth Citizen Entrepreneurship Competition
A competição busca mobilizar jovens empreendedores, de 15 a 35 anos, de todo o mundo para submeter ideias e projetos inovadores que tenham impacto social e sejam adequados a uma ou mais das 17 metas de desenvolvimento sustentável da ONU. A submissão de projetos para a competição pode ser feita até 31 de julho.

Os 10 finalistas serão selecionados em setembro, com base em critérios como envolvimento pessoal e engajamento do participante durante o processo, e engajamento da comunidade com o projeto participante, por meio de comentários e votos.

Um júri vai escolher os três melhores projetos para a premiação do concurso em Berlim, na Alemanha.

O projeto do Louison, Preventing Childhood Malaria Death Rural Gungu, Democratic Republic of Congo, pode ser votado e comentado, diariamente, até o dia 31 de agosto*, na página do prêmio.

*Redação: Jayne Ribeiro – estagiária de jornalismo

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