Estudante da UFRB é vítima de racismo: “Hoje até filho de faxineiro pode estudar?”

Uma estudante da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) de Santo Antônio de Jesus foi vítima de racismo. Depois de ter sido vítima de preconceito quando estava na Itália no ano passado, a aluna do curso de medicina da UFRB, Débora Reis da Cruz, 29 anos, sofreu racismo novamente. No post do Facebook, Débora relatou o acontecido. Segundo ela, na tarde da última sexta-feira (03), estava na fila de um correspondente bancário em uma loja no município quando uma senhora ao seu lado iniciou um diálogo: “Você estuda história?”, perguntou.

por Samile Macedo no Mídia Bahia

A estudante respondeu: “Eu não, faço medicina”. “Uma parente minha também faz medicina, mas ela tem cabelos lisos, olhos claros e é bem branquinha”, disse a senhora. “Por que a pergunta? Não pareço fazer medicina por não ter cabelos lisos?”, questionou a estudante. “Não, porque geralmente quem faz esses cursos se veste de outra forma e hoje em dia até filho de faxineiro pode estudar?”, questionou a mulher. “Em minha sala vão se formar muitas negras e tenho orgulho de ser uma delas”, declarou a aluna que por meio das redes sociais mostrou indignação e revolta, face ao acontecimento (veja o post na íntegra abaixo).

Débora Reis da Cruz2

O preconceito diminuiu no Brasil, mas ainda é uma prática existente no país. Na última quinta-feira (02), a jornalista Maria Júlia Coutinho, conhecida ‘Maju’ foi vítima de racismo na web. Como resposta, a moça do tempo na Globo mandou ‘beijinho no ombro’ para o internauta.

O Ministério Público instaurou um inquérito para apurar os comentários feitos à profissional de jornalismo. O crime de racismo é imprescritível e inafiançável. Já a injúria qualificada tem pena de um a três anos de reclusão. Confira o post na íntegra:

 

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-Você estuda história?

-Eu não, faço medicina.

-Uma parente minha também faz medicina, mas ela tem cabelos lisos, olhos claros e é bem branquinha.

-O porquê da pergunta? Não pareço fazer medicina por não ter cabelos lisos?

-Não, é porque geralmente quem faz esses cursos se vestem de outra forma. Éeeeee, hoje até filho de faxineiro pode estudar.

Débora respondeu: “Em minha sala vão se formar muitas negras e tenho orgulho de ser uma delas”.

“Engraçado e triste, mas ao ouvir a declaração de que seres humanos por serem negros não têm cara de médico, doeu e eu chorei. Não chorei porque sou negra de cor, mas chorei porque apesar de “moreninha clara, branca, parda” (NEGRA), sou de origem humilde, de “cabelo duro”, sou à margem dessa sociedade… fico realmente entristecida e tocada com tais asneiras dessa senhora, que apesar de sua formação, o máximo que alcança é o atestado de burrice com ênfase a XENOFOBIA e DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

Porém, fico feliz, pois existe uma parcela de outros médicos e grande parcela da população brasileira que se indignaram com mais esse ato de racismo que sofri, ano passado lá fora na Itália durante o meu curso ‘Programa Ciência Sem Fronteiras’ e desta vez em minha cidade.

Enfim, o que sinto agora é NOJO e INDIGNAÇÃO.

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