Estudante é agredida e enforcada em ataque homofóbico durante festa de aniversário em SP: ‘Fiquei com ódio’

Enviado por / FontePor Juliana Steil, do G1

A vítima, de 19 anos, conta que não tinha percebido a presença do desconhecido na festa até o momento do ataque. Homem disse que o local era "de família" e ela, homossexual, "não devia estar ali".

Uma estudante de 19 anos apanhou e foi enforcada em um ataque homofóbico durante uma festa de aniversário em Eldorado, no interior de São Paulo. A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar crime de injúria e lesão corporal, que já está em fase de finalização. Até o momento, ninguém foi preso.

Ao g1, a vítima, que prefere não se identificar, conta que estava em uma chácara para comemorar o aniversário de uma amiga. Ela chegou por volta de 22h30 e se juntou a um grupo com amigos, que estava afastado do outro grupo na festa, composto pelos familiares da aniversariante.

Foi por volta de 3h que um homem, tio da aniversariante, chegou na roda onde estavam os amigos e passou a ofender a estudante. Segundo a vítima, ela não tinha percebido a presença do desconhecido na chácara até então, quando ele a abordou de maneira rude. “Pegou no meu ombro e veio falar comigo”, relembra.

“Ele dizia que eu não devia estar ali, pois era um ambiente de família, que era uma vergonha eu estar ali, e que não gostava de pessoas homossexuais, tudo em tom de grosseria”, disse.

Assustada, a estudante levantou da cadeira onde estava sentada para ir embora do local. No entanto, o homem a agarrou pelo pescoço e passou a enforcá-la, enquanto também a agredia. Ambos caíram no chão e foram separados com a ajuda dos familiares da aniversariante.

Assim que conseguiu sair das agressões, a estudante conta que correu para o banheiro, assustada e nervosa. “Tentavam me acalmar, mas eu chorava e tinha muita raiva. Nunca tinha passado por algo assim antes”, diz ela. Ela foi embora do local em seguida.

A mãe da estudante, uma manicure de 40 anos, disse que a filha ligou para ela assim que chegou em casa, chorando, para contar sobre as agressões. “Ficamos sem ação naquele momento”, contou a mãe. Ela esperou o dia amanhecer e levou a filha para a delegacia, onde registraram a ocorrência. “Ela tinha lesões e estava bem chocada, chorando muito”, relata.

“Eu me senti péssima quando soube. Quando você vê isso acontecer longe, reage de outra forma; mas quando é perto, você fica com ódio e sente vontade de fazer justiça com as próprias mãos, não dá pra descrever”, desabafou a mãe.

Amigos e familiares de vítima de homofobia realizaram passeata de conscientização (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Delegacia Sede de Eldorado. Um inquérito foi aberto para apurar o crime de injúria racial e lesão corporal, sob o comando do delegado Tedi Wilson de Andrade. A jovem passou por exame de corpo de delito. O investigado, a vítima e testemunhas já foram ouvidas e o inquérito encontra-se em fase de diligências finais. Com a finalização, o inquérito será encaminhado para o poder judiciário.

Direito à liberdade

Familiares e amigos da estudante organizaram uma passeata pelo direito à liberdade e à diversidade pela cidade. Durante a manifestação, os participantes seguravam balões coloridos e cartazes com as frases “Homofobia é crime”, “Tudo começa pelo respeito” e “O amor nunca deve significar ter medo”.

Em suas redes sociais, a estudante publicou um texto de desabafo sobre respeito e o direito à liberdade após o ocorrido na chácara. Leia abaixo o texto na íntegra:

“Respeito ao que é nato de cada ser.

Quando falamos temos medo de que as nossas palavras não vão ser ouvidas ou bem-vindas, mas quando estamos em silêncio, ainda temos medo, por isso é melhor falar, quem assume sua verdade age de acordo com os valores da vida, mesmo enfrentando o preconceito e pagando o preço de ser diferente, passa credibilidade, obtém respeito e se realiza. Nossa liberdade de existir e ocupar espaços na sociedade é um direito fundamental que nunca deveria ser questionado, juntos e unidos podemos conquistar cada vez mais igualdade.

Liberdade não é privilégio, é direito!”

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