Eu, Oxum: documentário narra a experiência de filhas de santo em terreiro

Dirigido pelas sergipanas Héloa e Martha Sales, curta acompanha o cotidiano do Ilê Axé Omin Mafé, em SE

Por Norma Odara, do Brasil de Fato

Héloa, que assina a direção do curta, também participa narrando sua história com a religião africana, o Candomblé e o amor por Oxum / Reprodução

 

O curta “Eu, Oxum”, lançado de maneira independente em dezembro pelas sergipanas Héloa e Martha Sales, narra de maneira sensível o cotidiano de seis filhas de Oxum, orixá feminino cultuado na umbanda e no candomblé.

Acompanhando o terreiro Ilê Axé Omin Mafé, na pequena cidade de Riachuelo (SE), as diretoras contam as histórias de inserção na religião, respeito às hierarquias, fé e os preconceitos sofridos pelas personagens.

Héloa, que também participa do filme, falou ao Brasil de Fato sobre esta produção. Confira a entrevista.

Brasil de Fato: Como surgiu a vontade de fazer este curta e abordar histórias de mulheres de Oxum?

O desejo de fazer esse filme partiu da minha própria experiência de conexão com este lugar e essas mulheres e isso foi se tornando cada vez mais forte, no retorno, em vários retornos que eu fiz para Sergipe, para me cuidar espiritualmente e conviver nesse Ilê, que é o Ilê Axé Mafé.

Quais foram as maiores dificuldades?  

As dificuldades foram algumas. É um filme produzido de maneira independente. Então eu passei 20 dias na estrada, em busca de retratar esse filme, pegando os diálogos, pegando os depoimentos e até mesmo registrando as condições do espaço, do lugar. As dificuldades maiores foram de perpetuar esse espaço. Eu, enquanto filha da casa, em um outro papel, enquanto diretora do filme junto com a minha mãe Martha Sales, e entender toda relação de hierarquia que se constrói, de respeito aos espaços sagrados, até onde a gente poderia filmar, o que poderia ser registrado.

Qual a importância que você vê no documentário em relação a questão da intolerância religiosa, já que tivemos tantos casos este ano?  

Nós estamos vivendo um momento de muito retrocesso no país, de muito racismo religioso, que vai para além da intolerância religiosa, que é a relação de tudo que vem dessa matriz africana, principalmente as religiões de matriz africana: a umbanda, o nagô, o candomblé.  São vistas também através dessa perspectiva do racismo religioso, onde nós não podemos professar a nossa fé porque tudo aquilo que é de negro, que é advindo da África, é visto como ruim, muitas vezes como algo demonizado.

Eu acho que trazer a tona essa coisa mais pura, mais leve, como eu tentei trazer no documentário, junto com a minha mãe, Martha Sales, que assina o roteiro e a direção do filme, é uma forma de quebrar paradigmas, uma forma de até mesmo acolher e de provocar., para que outras pessoas possam se apropriar desse discurso e falar desse lugar de fala de quem vivencia, de quem nasceu ou de quem perpetua a força através do candomblé ou das religiões de matrizes africanas.

 

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