Evento de Geledés reúne autoridades em NY para discutir agenda racial na Cúpula do Futuro

Geledés na ONU, incidencia internacional de Geledés Instituto da Mulher Negra
Enviado por / FonteKatia Mello

Encontro, copatrocinado por ONU Mulheres e HelpAge, contou com a participação de representantes do Brasil e da Colômbia em Nova York e das Nações Unidas

Em paralelo à Cúpula do Futuro, que acontece em Nova York, Geledés -Instituto da Mulher Negra promoveu nesta sexta-feira, 20, no Roosevelt House Public Policy Institute, o evento “Abordando o Racismo Como Uma Questão Central na Agenda Global para o Futuro” que reuniu autoridades e especialistas para debater e evidenciar a ação emergencial de se incluir a agenda racial nas políticas globais na agenda do Summit do Futuro, alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável.

O evento de Geledés, copatrocinado pela ONU Mulheres e pela organização HelpAge, trouxe uma avaliação rigorosa e importante sobre os incrementos e desafios da agenda global antirracista, com depoimentos da assessora internacional do instituto, Letícia Leobet, da diretora regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe, Maria-Noel Vaeza, do representante da Missão Brasileira em Nova York, embaixador Norberto Moretti, do representante da Missão Colombiana em Nova York, primeiro -secretário Rodrigo Mendez, da representante da HelpAge Internacional e copresidente da Conferência da Sociedade Civil das Nações Unidas em Apoio à Cúpula do Futuro, Carole Osero-Ageng’o , professora-adjunta do Programa de Direitos Humanos da CUNY, Catherine Tinker, e com mediação do consultor internacional de Geledés, Iradj Eghrari.
 
Geledés, uma organização fundada e liderada por mulheres negras que tem se engajado ativamente na promoção de políticas antirracistas no cenário global, considera este momento como decisivo para impulsionar a efetivação da Agenda 2030.

A assessora internacional de Geledés, Letícia Leobet

A assessora internacional de Geledés, Letícia Leobet, fez um balanço das ações do instituto na esfera global. “Temos nos envolvido na defesa e influência da criação do ODS 18, que visa abordar o racismo globalmente. Além disso, historicamente trabalhamos para garantir que a agenda racial seja integrada em todos os 17 objetivos. Além  de destacar a  iniciativa de Geledés em criar um mecanismo de participação da sociedade civil para afrodescendentes junto à ONU, que já tem apoio de quase 30 organizações de todas as regiões “, disse.

O embaixador brasileiro Norberto Moretti realizou uma retrospectiva das últimas ações do governo federal. Ao mencionar que o Brasil possui a maior população de afrodescendentes fora da África, Moretti ressaltou a criação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 18, de igualdade étnico-racial, uma inciativa que é uma reivindicação antiga do movimento negro brasileiro para garantir a transversalização da agenda racial.

“A decisão do ODS 18 tem como objetivo o combate ao racismo, a discriminação racial, a xenofobia e todas as manifestações de intolerância. Estamos esperançosos que esta resolução se dê na qualidade da Declaração de Durban e das ações afirmativas”, afirmou o embaixador.

Já o representante colombiano Rodrigo Mendez mencionou as iniciativas do governo Gustavo Petro que tem Francia Márquez, como a primeira mulher negra a ocupar cargo de vice-presidente. Mendez destacou as áreas estratégicas que estão sendo priorizadas na Colômbia: justiça racial como um pilar nacional e internacional; formação de lideranças afrodescendentes, dentro da perspectiva da vice Márquez, nas temáticas de empoderamento econômico, imigração e educação para as populações afrodescendentes e, por último, as interferências realizadas pelo governo colombiano nos mecanismos internacionais para a garantia de que os afrodescendentes sejam contribuidores do processo de desenvolvimento global.

Neste contexto, Letícia Leobet citou o trabalho de Geledés no G20, com objetivo de influenciar nas decisões sobre empoderamento econômico dos afrodescendentes e também na justiça étnico-racial, fazendo com que Estados e instituições financeiras se comprometam a desenvolver programas voltados à inclusão econômica dessa população.

Sobre a agenda climática, a assessora internacional de Geledés frisou que a justiça climática só será possível se for integrada à justiça racial e de gênero. “Destacamos que as populações afrodescendentes são provedoras de tecnologias e soluções para a crise climática. Temos defendido, por meio de submissões e advocacy com os Estados-Membros, que essas vozes sejam incluídas nas discussões e decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), expandindo o escopo das negociações climáticas para incluir dimensões raciais e históricas”, disse.

Em relação à agenda de Direitos Humanos, Leobet ressaltou as contribuições de Geledés para o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, enfatizando a urgência de combater o racismo institucional e a desigualdade estrutural, e exigir reparações históricas e mobilidade social para indivíduos afrodescendentes.  “Solicitamos ao Conselho de Direitos Humanos que renovasse o Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para Promover a Justiça e a Igualdade Racial na Aplicação da Lei (EMLER), essencial para garantir que os direitos humanos sejam respeitados na aplicação da lei com foco na população afrodescendente”, disse ela.

A diretora regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe afirmou que devemos olhar para as ações antirracistas sempre com as lentes da Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) e da Conferência de Beijing, que no ano que vem completa 40 anos. Entre os assuntos mais importantes, Maria-Noel Vaeza destacou a necessidade emergencial de “reparação pela escravidão” que, segundo ela, “deveria constar na pauta de todos os Estados membros das Nações Unidas”.

Carole Osero-Ageng’o da Help Age, foi na mesma direção da diretora regional da ONU Mulheres ao destacar a relevância de se “reconhecer a escravidão e suas repercussões e do colonialismo nas comunidades”. “Devemos abordar as raízes do racismo se quisermos chegar ao ponto em que estamos a olhar o planeta e a prosperidade das pessoas, que são os assuntos que nos trouxeram à Nova York”. E reafirmou a importância de se tratar esta temática dentro da esfera Sul global. “De onde eu venho, por exemplo, crescemos em certas áreas em que não discutimos a independência, mesmo anos após a independência”, disse ela.

Neste momento, o mediador Iradj Eghrari. fez uma intervenção ao se referir à fala de Carole, como copresidente da Conferência da Sociedade Civil das Nações Unidas de 2024 em Nairóbi em Apoio à Cúpula do Futuro, da qual Geledés participou. “Você nos ensinou a entender as raízes da escravidão. E como estas raízes são as principais causas do colonialismo e do racismo que estamos enfrentando contra as pessoas de descendência africana e os africanos. Então, nós temos um longo caminho para enfrentar o racismo”, disse ele.

O debate proposto por Geledés em Nova York demonstrou com clareza a necessidade de promover um alinhamento entre as recomendações e ações da sociedade civil, em especial a população afrodescendente, os Estados membros e as Nações Unidas. Consideravelmente, é preciso levar em conta os avanços dos mecanismos conquistados na agenda racial até aqui e torná-los mais efetivos, mas também reconhecer que há muito o que se avançar.

O diálogo proposto foi uma oportunidade única para estabelecer e consolidar parcerias estratégicas e cooperação entre países do Sul Global, sociedade civil, universidades e agências da ONU, de forma que possamos garantir uma agenda racial verdadeira, robusta e integrada às discussões globais atuais e o contexto de múltiplas crises.


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