Fonte: Professor Cleomar –
A história da áfrica do sul de segregação social se da em meados de 1652, quando a companhia das índias holandesa se instala permanentemente na Cidade do Cabo, porém neste período a colonização não era o foco, apenas era um porto conveniente para as embarcações que se deslocavam entre a Europa e a Índia, visto que este porto já era conhecido e utilizado desde 1497, quando Vasco da Gama descobre a rota para a Índia.
Mas devido a desentendimentos com os nativos, os holandeses declaram guerra ao povo Khoikhoi, iniciando então o período de colonização, onde a maioria dos escravos eram provindos da Indonésia, neste período começa a segregação racial com o intuito de criar uma “sociedade perfeita”. Durante a guerra os adultos da tribo Khoikhoi eram mortos e seus filhos serviam de escravos domésticos, além de suas terras serem expropriadas, tomadas pelos colonizadores que agora queriam diferenciar-se de seus irmãos holandeses e assim passaram a se intitular Boers, que significa fazendeiros. Acreditavam que o território pertencia a eles, pois como brancos se achavam racialmente superiores e por isso donos das terras.
Em 1688 um grupo de protestantes Franceses, na tentativa de escapar da perseguição religiosa que se dava na Europa desembarca na África do Sul e introduzem o cultivo da uva na região.
Com a chegada dos Ingleses estes tomam o poder, já que neste período havia sido fechada a companhia das índias em 1795, e a primeira medida tomada por eles é expulsar o povo Xhosa que se encontrava enraizado na área onde pretendiam colonizar.
Houve intensa disputa pelo poder entre os Ingleses e os Holandeses, mas como o domínio inglês era maior os Boers acuados migram da cidade do cabo extremo sul, para nordeste a norte do rio Orange, que ainda estava fora do domínio britânico, mas estas terras estavam sobre o domínio do reino Zulu, os Boers entram em conflito nas não conseguem derrotar os Zulus, porém mais tarde unem esforços e conseguem a vitória da chamada batalha de Blood River, sob o comando de Andrius Pretorius, que mais tarde origina o nome da cidade de Pretória esta batalha até os dias de hoje é motivo de orgulho nacionalista dos Boers. Em 1930 historiadores Boers re-interpretaram a batalha como um acontecimento divino, sendo que nesta percepção os brancos eram enviados de Deus para dominar a África do Sul. Esta batalha também é conhecida como batalha dos cem anos devido a seu longo período de duração que arrasou o povo Xhosa por varias gerações.
Nos locais de domínio Inglês a segregação racial é imposta, como não queriam conviver com os negros o jeito foi transformar indianos em escravos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, adicionando mais um grupo étnico na turbulenta mistura que já havia no momento.
Mesmo o poder britânico sendo o de maior influência, co-existiam outras colônias de brancos e reinos de negros também com força considerável e autonomia. Mas com a descoberta dos diamantes em 1866, ocorreu uma imensa corrida por diamantes com uma imigração de cerca de 50 mil pessoas vindas de varias partes do mundo, também em 1866 é descoberto ouro, as fazendas da redondeza onde foi encontrado o minério, foram determinadas como propriedade do governo onde hoje é localizada a cidade de Johanesburgo.
Devido à descoberta de metais preciosos e diamantes o cenário se agrava, aumentam as guerras por territórios e cada vez mais às tribos são expulsas de suas áreas de origem, em fim com as eleições de 1948 Hendrick Verwoerd e D.F. Malan criam o “mundo novo” com o principio da conservação e pureza étnico-cultural, pois os europeus se julgavam uma raça superior, a segregação torne-se institucionalmente oficial, ou seja, tem o inicio do apartheid, separação entre brancos, negros e mestiços, que são obrigados a sentar em bancos públicos diferentes, utilizar entrada para prédios diferenciada, ter banheiros públicos separados, transitar fora das calçadas, é abolido o casamento entre negros e brancos, mas o decreto mais cruel foi o Popular Registration criado em 1950, onde exigia registros de acordo com a classificação racial. Negros eram obrigados a carregar um passe permanente que os impedia de entrar em outras cidades a não ser onde moravam ou trabalhavam, após os negros foram enviados para áreas chamadas de Townships “guetos” áreas de segregação racial onde não havia saneamento nem recursos de saúde básica, mas quanto mais longe dos olhos dos brancos melhor, sem direito a voto e a concorrer a cargos públicos são simplesmente largados a margem da sociedade sul africana branca. Mas o apartheid não se resume só nisto ele é uma forma de separar o desenvolvimento branco do desenvolvimento negro, criando as gritantes diferenças entre cidades ditas brancas e cidades de negros.
Neste cenário é criado o partido nacional que tem como objetivo principal manter o regime de segregação censura e não liberdade de expressão aos negros, este partido consegue manter seus objetivos a ferro e fogo por longos anos. Em 1912, este contesto de puro preconceito gera revolta e então é criado o partido negro chamado Congresso Nacional Africano (ANC), que luta pela liberdade e para reverter as conseqüências do colonialismo, a partir dos anos 50 é liderado por Nelson Mandela, o qual promove ofensivas contra o atual regime imposto pela minoria branca, porém de forma pacífica, mas nem por isso os brancos agiam sem o uso da violência, pelo contrario as manifestações eram reprimidas com muita violência tendo muitas baixas após cada protesto.
Em 1955 é publicada a carta da liberdade que traz em seu contexto um programa fundamental contra o apartheid, dizendo que todos são iguais e por isso tem direitos e deveres iguais como cidadãos sul africanos, todos tem direito a liberdade, direito a terra, pois esta deve pertencer a quem nela trabalha, diz que o povo deve governar elegendo seus governantes, pregam um estado democrático, todas as pessoas devem ter os mesmos direitos de usar sua língua, costumes e ter suas praticas culturais, independente de cor e raça, a riqueza do pais deve ser revertida em prol do povo que a gera, reforma agrária sem privilégios, todos tem que ter igual acesso a educação que deve ser de qualidade e gratuita e obrigatória onde ensinem os jovens a conviver com o diferente e amar o seu povo sem descriminações…
Como a repressão era cada vez maior Mandela e o partido ANC em 1961 aprovam a criação de uma guerrilha armada, pois como diz a frase de Mandela “Se a reação do governo é esmagar, pela força bruta, a nossa luta não violenta, teremos que reconsiderar a nossa tática”. O comandante da milícia é Nelson que então passa a clandestinidade e torna-se perseguido por preparar uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo, sendo preso e condenado a prisão perpétua, é considerado pelo povo como um líder da causa.
Este cenário de violência choca a comunidade mundial e em 1973 a ONU condena as atitudes do governo da África do Sul, classificando como crime o regime do apartheid. Em 1976 quando crianças de uma escola da cidade de Soweto foram às ruas para protestar contra a imposição de que o idioma dos Boers fosse seu idioma oficial a aprender na escola, centenas de crianças foram mortas por policiais que atiraram covardemente, e mais de 600 pais foram mortos por protestarem contra a chacina.
Em 1986 o governo norte americano impõe embargo econômico à África do Sul, justamente por pressões por parte dos negros segregados e da comunidade mundial. Com as sanções internacionais impostas, estas causam enormes dificuldades econômicas ao país o governo então fica de mãos atadas e se vê obrigado a negociar com o povo, então em 1991 o atual presidente F. W. de Klerk faz um discurso repudiando o apartheid diante do parlamento e revoga as leis que protegiam a descriminação racial, mas isso só ocorre por causa do embargo econômico.
O ato mais simbólico de mudança é a libertação de Nelson Mandela, após 27 anos de prisão, em 1994, Mandela é eleito presidente da África do Sul com 70% dos votos visto que os negros voltam a ter direitos políticos e de voto, depois de 46 anos de governo da minoria branca tem-se de volta a democracia.
Com a entrada de homens e mulheres no parlamento em 1994, integrantes da ANC, por não conhecerem as regras do jogo do poder, foram esmagados pelas elites dominantes que impunham ajustes aos radicalismos do partido, tendo este que fazer várias concessões para poder governar e se manter no poder, só que com esta medida não houve nenhuma mudança considerável, continuando a ser favorecida a elite que sempre deteve o podes e os meios de produção, indo de encontro ao que prega o FMI e o banco mundial, ou seja, as políticas neoliberais que tendem cada vez mais a propiciar a desigualdade social, mas que agora se encontram mascaradas pela tomada do poder por parte da oposição, mas o fim das desigualdades raciais, sociais e de gênero só tiveram fim no que diz respeito a legislação, pois na pratica o apartheid continua sendo a política dominante.
Hoje ainda na África do sul raça, classe e gênero continuam a determinar o acesso ao poder econômico o preconceito é terminado apenas formalmente, pois para os sul africanos o apartheid ainda é uma utopia.
Autores: Cleomar; Joseli; Karem
Referências:
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GATTI, Ellen. A África de hoje. Ed. Melhoramentos. São Paulo, 1960.
BUTSON, Thomas. Mandela. Ed. Nova Cultural. São Paulo, 1990.
Isto é África do Sul. Serviço de Comunicação Sul-Africano, 1992.
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